São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2007

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Discursos pró-periferia marcam premiação do Festival do Rio

Debate sintetiza a fusão entre morro e asfalto que dominou disputa deste ano

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

No encerramento do Festival do Rio, na noite da última quinta, o ator Babu Santana ergueu seu Prêmio Especial do Júri e disse: "Isso aqui é o morro na telona. É nós!".
A frase era um agradecimento ao troféu Redentor que Santana acabara de receber -por seu desempenho em dois longas concorrentes na seção Première Brasil-, mas consiste também numa boa síntese da principal questão que perpassou a disputa entre os longas nacionais: a fusão "morro-asfalto", aplicada ao cinema.
Santana interpreta um presidiário em "Estômago", de Marcos Jorge -que levou o troféu de melhor filme pelo voto popular e o de melhor diretor pelo júri oficial -e vive um chefe do tráfico de drogas em "Maré -Nossa História de Amor", de Lúcia Murat.
Antes que Santana igualasse seu prêmio à chegada do "morro na telona", o produtor e diretor Cavi Borges, do curta-metragem concorrente "Sete Minutos" (premiado com o voto popular no mundo virtual do site Porta Curtas), havia chamado a atenção para "a tentativa de união do morro e do asfalto no cinema" que o trabalho representa, ao unir produtoras dos dois pólos da cidade.
Um dos três diretores de "Sete Minutos" é Júlio Pecly, que se movimenta em cadeira de rodas e, anteontem, assistiu à premiação da platéia. No dia da exibição competitiva de "Sete Minutos", porém, Pecly foi ao palco e corroborou o que Gustavo Melo (diretor do curta concorrente "Picolé, Pintinho e Pipa") falou no sábado sobre a democratização do cinema.
Melo havia dito no Cine Palácio: "Se não podemos estar lado a lado na vida real, pelo menos na arte caminhemos juntos". Ele propôs que "o cinema brasileiro assuma sua periferia", reconhecendo que "a maioria dos filmes não fica mais de uma semana em cartaz".
O trabalho de Pecly e o do grupo Nós do Morro, no Vidigal, foi citado como "extraordinário" pelo ator norte-americano Danny Glover, que entregou anteontem o troféu Redentor de melhor filme de ficção segundo o voto popular a "Estômago", um título curitibano, portanto distante do eixo Rio-São Paulo de produção, que configura "uma inédita co-produção com a Itália", como destacou a produtora Cláudia Natividade, ao receber o prêmio.

Pirataria e propaganda
O tema da pirataria audiovisual, que ocupou a noite de abertura do Festival do Rio, no último dia 20, quando a atração exibida foi "Tropa de Elite", de José Padilha, voltou a ser citado no encerramento.
A produtora Paula Lavigne, que recebeu o primeiro troféu da noite pelo comercial de uma marca de cerveja inserido em "Ó, Pai, Ó", de Monique Gardenberg, foi a primeira a tocar no assunto. "Atualmente, a gente tem nossos filmes muito vistos pela pirataria. Quando esses filmes vão para a rua, vão sem a abertura [onde se exibem as marcas dos patrocinadores]. Mas o merchandising é visto por todo mundo. Então, invistam em merchandising", disse.
O prêmio corresponde à "melhor ação de "product placement'" ou ao "merchandising bem feito", conforme esclareceu o presidente do júri da categoria, Antônio Jorge Pinheiro.


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