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Discursos pró-periferia marcam premiação do Festival do Rio
Debate sintetiza a fusão entre morro e asfalto que dominou disputa deste ano
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
No encerramento do Festival
do Rio, na noite da última quinta, o ator Babu Santana ergueu
seu Prêmio Especial do Júri e
disse: "Isso aqui é o morro na
telona. É nós!".
A frase era um agradecimento ao troféu Redentor que Santana acabara de receber -por
seu desempenho em dois longas concorrentes na seção Première Brasil-, mas consiste
também numa boa síntese da
principal questão que perpassou a disputa entre os longas
nacionais: a fusão "morro-asfalto", aplicada ao cinema.
Santana interpreta um presidiário em "Estômago", de Marcos Jorge -que levou o troféu
de melhor filme pelo voto popular e o de melhor diretor pelo
júri oficial -e vive um chefe do
tráfico de drogas em "Maré
-Nossa História de Amor", de
Lúcia Murat.
Antes que Santana igualasse
seu prêmio à chegada do "morro na telona", o produtor e diretor Cavi Borges, do curta-metragem concorrente "Sete Minutos" (premiado com o voto
popular no mundo virtual do
site Porta Curtas), havia chamado a atenção para "a tentativa de união do morro e do asfalto no cinema" que o trabalho
representa, ao unir produtoras
dos dois pólos da cidade.
Um dos três diretores de "Sete Minutos" é Júlio Pecly, que
se movimenta em cadeira de
rodas e, anteontem, assistiu à
premiação da platéia. No dia da
exibição competitiva de "Sete
Minutos", porém, Pecly foi ao
palco e corroborou o que Gustavo Melo (diretor do curta
concorrente "Picolé, Pintinho e
Pipa") falou no sábado sobre a
democratização do cinema.
Melo havia dito no Cine Palácio: "Se não podemos estar lado
a lado na vida real, pelo menos
na arte caminhemos juntos".
Ele propôs que "o cinema brasileiro assuma sua periferia",
reconhecendo que "a maioria
dos filmes não fica mais de uma
semana em cartaz".
O trabalho de Pecly e o do
grupo Nós do Morro, no Vidigal, foi citado como "extraordinário" pelo ator norte-americano Danny Glover, que entregou
anteontem o troféu Redentor
de melhor filme de ficção segundo o voto popular a "Estômago", um título curitibano,
portanto distante do eixo Rio-São Paulo de produção, que
configura "uma inédita co-produção com a Itália", como destacou a produtora Cláudia Natividade, ao receber o prêmio.
Pirataria e propaganda
O tema da pirataria audiovisual, que ocupou a noite de
abertura do Festival do Rio, no
último dia 20, quando a atração
exibida foi "Tropa de Elite", de
José Padilha, voltou a ser citado no encerramento.
A produtora Paula Lavigne,
que recebeu o primeiro troféu
da noite pelo comercial de uma
marca de cerveja inserido em
"Ó, Pai, Ó", de Monique Gardenberg, foi a primeira a tocar
no assunto. "Atualmente, a
gente tem nossos filmes muito
vistos pela pirataria. Quando
esses filmes vão para a rua, vão
sem a abertura [onde se exibem
as marcas dos patrocinadores].
Mas o merchandising é visto
por todo mundo. Então, invistam em merchandising", disse.
O prêmio corresponde à
"melhor ação de "product placement'" ou ao "merchandising
bem feito", conforme esclareceu o presidente do júri da categoria, Antônio Jorge Pinheiro.
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