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Crítica/música
Livro de memórias foca o jazz e a MPB
Crítico Zuza Homem de Mello mescla lembranças suas a histórias de artistas como Jacob do Bandolim e Louis Armstrong
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Assim como tem discos
que a gente compra só
por causa de uma das
músicas, há livros cuja aquisição se justifica por um de seus
capítulos. Tivesse apenas o texto "Aceita Dançar?", "Música
nas Veias - Memórias e Ensaios", de Zuza Homem de Mello, seria presença obrigatória
na estante de qualquer interessado na história da música popular brasileira no século 20.
Com 78 páginas, o ambicioso
ensaio começou a ser elaborado na década de 1970, mas só
veio à luz agora. Trata-se de um
apanhado da história das orquestras de dança brasileiras,
começando com a Orquestra
Odeon, de 1916, e chegando até
a inacreditável Orquestra Tabajara, do nonagenário pernambucano Severino Araújo,
que segue em atividade, com o
mesmo tipo de formação.
Livros sobre o passado da
música popular, no Brasil, fogem da análise formal da música como o diabo da cruz
-usualmente, recaem em fofocas nostálgicas que tentam glamourizar o passado para condenar o presente ou, no máximo, se limitam a dissecar o conteúdo de letras de canções, sem
entrar nos aspectos musicais.
Zuza gosta, sim, de falar do
passado, mas as melhores partes de "Música nas Veias" parecem seguir os princípios de seu
mentor, o crítico de jazz americano Martin Williams, do qual
foi dito que "evitava as histórias
íntimas de músicos exibidos,
supostamente mitológicos, e
optava por uma análise formal,
mas acessível, da música".
Contrabaixista e ex-aluno de
Ray Brown, Zuza utiliza seus
conhecimentos teóricos não
para construir um cipoal de jargões que afastam o leitor "leigo" e sim como sólido embasamento de seus juízos de valor. A
teoria, quando aparece, é explanada de maneira didática, antes
como convite à leitura do que
como intimidação. Formal,
mas não hermético.
Nos oito ensaios que compõem o livro, há ainda uma rica
descrição das agruras dos músicos de jazz na Alemanha durante o período nazista, um
emocionante recorte da carreira de Jacob do Bandolim a partir de sua correspondência, e
textos de cunho autobiográfico,
abordando várias facetas do autor, como estudante de música,
radialista e produtor cultural.
Nestes relatos, como não poderia deixar de ser, impera o
anedótico -episódios como o
jovem Zuza "tremendo na base" diante dos encantos de uma
Marlene Dietrich com nada
menos que 58 anos de idade, ou
de Louis Armstrong sofrendo
ameaça de agressão física para
ser convencido a subir ao palco
do Teatro Paramount, em São
Paulo. Detalhes cuja leitura
amena não chega a comprometer a seriedade do conjunto.
(IRINEU FRANCO PERPETUO)
MÚSICA NAS VEIAS -
MEMÓRIAS E ENSAIOS
Autor: Zuza Homem de Mello
Editora: 34
Quanto: R$ 46 (360 págs.)
Avaliação: bom
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