São Paulo, quinta-feira, 06 de outubro de 2011

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Reflexos de Frida

Biografia da pintora mexicana que inspirou filme de Hollywood chega ao Brasil quase 30 anos após lançamento

Lola Álvarez Bravo/Arquivo Isolda Kahlo/Divulgação
Frida Kahlo, em 1942, na Casa Azul de Coyoacán, onde nasceu e morou na Cidade do México

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Uma vez que o ícone pop suplantou a artista no imaginário coletivo, não é difícil encontrar por aí o que ler e ver sobre Frida Kahlo. Mas só agora, quase 30 anos após ser lançada nos EUA, em 1983, chega ao Brasil uma biografia referencial da pintora mexicana nascida em 1907 e morta em 1954.
Escrita pela americana Hayden Herrera, 70, "Frida - A Biografia" (Globo Livros), nas livrarias a partir de sábado, se distingue por uma alentada pesquisa, que municiou primeiro a tese de doutorado da autora na City University de Nova York.
Herrera fez cerca de cem entrevistas, muitas com gente que conviveu intimamente com sua biografada, como o primeiro namorado, Alejandro Gómez Arias, a sobrinha Isolda Kahlo, o escultor japonês e amante Isamu Noguchi e amigos do casal Frida e Diego Rivera, caso de Dolores Olmedo e Lucienne Bloch.
Teve acesso aos diários da pintora e obteve cartas que ela escreveu desde a infância. Emblemático do frisson em torno da artista nos últimos anos, o longa hollywoodiano "Frida" (2002), estrelado por Salma Hayek, foi baseado na biografia, cujos direitos a autora vendeu para a Miramax.
O livro esmiúça passagens notórias vida de Frida, como o caso com Trótski e outros tantos amantes, homens e mulheres; o desejo seguidamente frustrado de ser mãe; a especulação sobre suicídio.
Revela episódios engraçados, como a fuga de Isamu Noguchi sem uma meia da casa de Frida, ante a chegada repentina de Diego Rivera, que depois, arma em punho, ameaçou matar o japonês se ele insistisse no romance.
E traz histórias mais obscuras, como a versão, surgida de uma entrevista com um amigo do casal, de que Frida poderia ter ajudado a matar, a golpes de muleta, uma garota lésbica e doente mental que ficou obcecada por ela.
"Não parece provável [que Frida a tenha matado]. Soa como uma típica lenda mexicana, de drama e fascinação com a morte", disse Herrera à Folha, por telefone, de Nova York, antes de embarcar para um safári na Tanzânia.
A biógrafa interpreta que a atração pela dor dos outros, aliás, está na raiz da construção do mito Frida. "As pessoas são fascinadas pelo sofrimento alheio. E Frida enfrentou suas tragédias com força e alegria, transformando-as em algo poderoso." Sendo Herrera uma historiadora de arte, o livro mescla relato biográfico com análise da obra de Frida.

DATADA
Embora escrita em 83, a biografia nunca foi atualizada e, em certas passagens, soa datada. No prefácio, a autora fala do interesse crescente por Frida, mas vai até o início dos anos 80, quando se sabe que depois disso a "onda Frida" só cresceu.
Herrera admite que muito se passou desde então. Afirma que autores alemães descobriram que o pai de Frida, o alemão Wilhelm/Guillermo Kahlo, não era judeu, diferentemente da informação consagrada -e repetida no livro.
Após escrever a biografia do artista Arshile Gorky, porém, se diz mais interessada na tarefa da vez, contar em livro a vida de Isamu Noguchi. "De certo modo, a gente tenta se livrar do que já realizou. Interessa-me mais o que faço agora do que o que já fiz."

FRIDA - A BIOGRAFIA
AUTORA Hayden Herrera
TRADUÇÃO Renato Marques
EDITORA Globo Livros
QUANTO R$ 64,90 (624 págs.)


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