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"Catatau" é
relançado com nova roupagem
MARCELLA FRANCO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Aos órfãos de Paulo Leminski, as boas novas: o "Catatau"
está de volta às prateleiras. O
regresso do filho pródigo do
poeta curitibano acaba com
mais de uma década sem este
"romance-idéia", lançado originalmente em 1975.
A terceira edição da obra,
desta vez impressa pela paranaense Travessa dos Editores,
chegou há pouco ao mercado e
agora traz, além das mais de
200 páginas, cults desde seu
lançamento, um apêndice com
tira-gostos como biografia e fotos do escritor, fortuna crítica e
um divertido glossário com explicações sobre os neologismos
que encharcam o livro.
Não são muitos os volumes
na literatura brasileira que carregam na lombada números
tão expressivos. Para a sua obra
mais importante, Leminski
passou, ao todo, oito anos trabalhando em manuscritos que
resultaram, na edição original,
em 2.000 exemplares. Só a parte final de composição do "Catatau" levou mais de um ano.
"Eu mesma revisava erros de
datilografia e fazia o "paste-up".
Recortava com estilete e colava
pedacinho por pedacinho das
correções. Foi um trabalho intenso", lembra Alice Ruiz, viúva do poeta.
Ela conta que "Catatau" começou como um conto, idéia
que surgiu durante uma das
aulas de história que ele dava
em cursinhos de Curitiba. O
enredo era muito pouco cartesiano: "abandonar" o filósofo
René Descartes (1596-1650) em
uma praia do Nordeste brasileiro, ao sabor do sol e do calor
dos trópicos, e observá-lo enquanto espera ser resgatado
pelo comandante da expedição
que o esqueceu, o fictício
Krzystof Arciszewski. O nome
original do texto, "Descartes
com Lentes", fazia referência à
luneta que o racionalista empunha durante boa parte da
história, em busca, no horizonte do mar deserto, da figura de
seu salvador.
Como circulava por quase todas as rodas sociais com os rascunhos debaixo do braço, para
exibi-lo aos amigos, Leminski
passou a ouvir com freqüência
a frase "Lá vem ele com aquele
catatau!", e assim foi.
O texto do livro, condensado
num parágrafo único, abusa de
exercícios literários como trocadilhos, onomatopéias, gírias,
falsos ditados e palavras-valise,
popularizadas por Lewis Carrol, e que geram, invariavelmente, dois ou mais significados. Com isso, a crítica da época logo comparou o "Catatau"
ao "Grande Sertão: Veredas",
de Guimarães Rosa, e a "Galáxias", de Haroldo de Campos.
Alice lembra que, quando fazia a obra, ele "se desconectava
do mundo". Ela relembra o
"acordo" deles. "Paulo sempre
voltava às páginas e reescrevia,
de novo e de novo. Aí passei a
esconder as páginas dele".
Alice é a dona de uma das dedicatórias, assim como os escritores Augusto e Haroldo de
Campos e Décio Pignatari, que
assina a orelha e a nota de abertura, que sentencia ao leitor
uma viagem sem mapas nem
guias através do universo delirante deste "romance-idéia" de
Paulo Leminski: "Virem-se".
CATATAU. Autor: Paulo Leminski.
Edit.: Travessa dos Editores (0/xx/41/
338-9994). Quanto: R$ 40 (425 págs.)
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