São Paulo, terça-feira, 06 de novembro de 2007

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Minas é o mundo

Com trabalhos que discutem o cotidiano, muitas vezes com humor, as jovens artistas mineiras Sara Ramo, Laura Belém e Cinthia Marcelle expõem em Lyon (França) e Toronto (Canadá), além de São Paulo e Porto Alegre

Nathalia Turcheti/Folha Imagem
Da esq. para a dir., as artistas plásticas Sara Ramo, Laura Belém e Cinthia Marcelle em BH


SILAS MARTÍ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Elas têm 30 e poucos anos, vivem na mesma cidade e põem em xeque a realidade para fazer arte, juntas e separadas. Ganhadoras da bolsa Pampulha em 2003, as artistas Laura Belém, 33, Sara Ramo, 32, e Cinthia Marcelle, 33, mantêm uma produção respeitável fora do eixo Rio-SP e começam a se firmar com mostras pela Europa e América do Norte.
Além de Belo Horizonte, onde moram, Sara, Cinthia e Laura podem ser vistas juntas em Toronto, no Canadá, onde expõem numa coletiva em cartaz na York Quay Gallery. Cinthia está também na Bienal de Lyon (França), ao lado do também mineiro Marcellvs L. Com Laura, Cinthia ainda integra a curadoria de Moacir dos Anjos no Panorama da Arte Brasileira, no MAM-SP até janeiro, enquanto a primeira e Sara estão juntas na Bienal do Mercosul, até 17/11, em Porto Alegre.
Em vídeos, esculturas e instalações, costumam se apropriar do cotidiano, sampleando paisagens com um humor às vezes ácido, às vezes ingênuo. Situações banais se transformam em lente de aumento para absurdos do mundo, questionando com delicadeza e desgarramento ferinos.
A também mineira Marilá Dardot, 34, poderia estar neste time. Da mesma geração, ela trocou Minas pelo Rio e agora São Paulo, mas mantém contato com a cena de BH. Ela fez vários trabalhos com Cinthia e morou junto com Sara e o paulista Rodrigo Matheus na capital mineira, com quem forma hoje um coletivo informal.

Juntas na universidade
Cinthia, Laura e Sara estudaram e se formaram na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, onde se conheceram e fizeram os primeiros contatos.
Sara -que nasceu na Espanha, filha de uma brasileira- conheceu Cinthia quando foi morar em BH. As duas coordenaram juntas uma grande exposição em homenagem ao artista Pedro Moraleida, morto em 1999. Três anos depois, fizeram a performance "Aonde Anda Minha Teresa?", em que se trancaram atrás de cercas elétricas e escaparam de uma galeria usando lençóis amarrados, à maneira dos presos.
Foi Laura quem convidou Sara para expor um trabalho ao lado do seu, dentro da mostra "Conversas" da Bienal do Mercosul, em que um artista escolhido podia chamar outros cujas obras travassem um diálogo com as suas.
Na bienal, Laura pediu a um jornal que publicasse uma nota dizendo que as plantas amanheceram com folhas vermelhas naquele dia. A história foi desmentida dias depois, mas a obra "Ainda Outono" serviu de prova surreal: arbustos verdes ganharam folhas de papel vermelhas na mostra.
No vídeo que mostrou a convite da amiga, Sara divide a tela ao meio: de um lado, uma bola aparece quicando; do outro, pedaços de papel caem do céu e se transformam em pedra. "O trabalho dela fala de impossibilidades, do inverossímil, como o meu", diz Laura.

Camuflagem
Elas fazem saltar aos olhos o que passa despercebido e gostam de camuflar o óbvio para provocar estranhamento.
É a idéia de Sara em obras que mostram situações domésticas em pane. Tudo vai bem até a hora em que a ordem se perde: a mulher que lava pratos começa a atirá-los ao chão, um banheiro normal vira um atestado de loucura quando tem todos os seus objetos expostos.
Numa temporada na África do Sul, Cinthia fez uma série de fotos em que usava roupas da mesma cor das paredes da cidade, perdendo-se na paisagem. No Panorama da Arte Brasileira, mostra sua idéia de fonte: um caminhão do Corpo de Bombeiros circula um terreno árido, jogando água em direção ao centro do círculo.
Ainda no MAM, Laura trabalha com sons da cidade de São Paulo, que jorram de alto-falantes suspensos do teto na entrada do museu. A artista tenta criar uma memória auditiva para substituir o presente.


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