São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2008

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As donas do palco

Aos 34 anos, premiadas e consideradas duas das melhores atrizes brasileiras, Georgette Fadel e Juliana Galdino estréiam em SP peças de autores consagrados

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Georgette, em cena de "Rainha [(s)]...", recriação de peça do alemão Schiller

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Isto aqui é tudo meu, isto aqui é meu pedaço", indica uma Elizabeth 1ª workaholic e hiperativa, coberta de bolsas e sacolas, ao se apresentar à platéia de "Rainha [(s)] - Duas Atrizes em Busca de um Coração", recriação da peça "Mary Stuart", do alemão Friedrich Schiller (1759-1805), que estréia amanhã, em São Paulo.
Se o "meu pedaço" da fala que abre este texto fosse o teatro atual, e não a Inglaterra do século 16, bem poderia ser Georgette Fadel, 34, a intérprete de Elizabeth, a enunciá-la -modéstia e pudores à parte.
Aclamada tanto em suas investidas como diretora quanto por suas atuações (recebeu o Prêmio Shell em 2007 pela Joana de "Gota D'Água - Breviário"), ela confirma agora ser um dos nomes incontornáveis da cena paulistana e brasileira.
Distinção que também cabe a Juliana Galdino, 34, a protagonista da montagem de "O Quarto", de Harold Pinter, que inicia temporada amanhã, em nova sala na rua Augusta. Sete anos no Centro de Pesquisa Teatral de Antunes Filho lhe renderam a atenção da crítica e um Shell (por "Medéia").
Em vôo solo desde 2006, já perfilou uma serial killer ("Anátema") e visitou o que o homem "mais teme e solapa" (palavras suas) em "Homem Sem Rumo". Segue na trilha do inominável na nova peça, em que encarna uma mulher trancafiada num cômodo úmido, na companhia de um marido incorpóreo, com medo do frio e do gelo da rua.
Personagens que batem à porta, como o senhorio ou um casal à procura de moradia, ameaçam tirá-la de sua "zona de segurança". Mas o inverno, ela não percebe, é aqui dentro: ""É tudo uma metáfora para as forças obscuras que correm dentro da gente, as pulsões internas, os pesadelos. A sombra está dentro da gente", diz o diretor, Roberto Alvim.
Ao que Galdino acresce: "Quanto mais você mexe nesse seu porão, mais tem esclarecimentos sobre a grandiosidade que é o homem. O ser humano está ficando muito delineado, mapeado, reduzido".
Daí a importância do teatro, para ela "o único lugar em que se tira a máscara, em vez de colocá-la, em que se pode revelar por palavras o que a gente esconde, torna aprazível. A vida é uma selvageria, não tem nada de aprazível. [...] A harmonia é justamente essa completa precariedade, desafinação".

Teatro vendável
Dissociar o teatro experimental de um certo estado de precariedade é o que move Georgette, que já trabalhou com coletivos como a Cia. do Latão e o Núcleo Bartolomeu -e co-fundou a Cia. São Jorge de Variedades: "Não tem por que um certo tipo de teatro ganhar tanto dinheiro no Brasil [por patrocínio privado, via renúncia fiscal], com um tipo de ator que às vezes trabalha em cinema, TV e um teatro que se chama de comercial. A gente, do teatro de grupo, de pesquisa, também quer público e dinheiro. Por que a gente recebe menos grana? Por que é menos vendável?
Não é. Pode ser vendido também e fruído por [público com] qualquer nível de instrução".
É fato que todos podem fruir sua reinvenção de "Mary Stuart", em jogo de cena delicioso com Isabel Teixeira (intérprete da personagem-título), capitaneado pela diretora Cibele Forjaz a partir de improvisações das atrizes.
"Trabalhar assim é retornar ao paraíso perdido. Quando você faz algo espontâneo e depois tem de decorar, a tendência é perder a liga", diz Georgette.
Com acenos à contemporaneidade de editais ("Foram horas na frente do computador aprendendo a fazer planilhas", debocha uma delas, a certa altura) e agendas atribuladas (na improvisação delirante que apresenta Elizabeth 1ª), elas subvertem com destreza o duelo de forças entre a cerebral Elizabeth e a passional oponente. Aqui, a queda-de-braço é definida pelo voto da platéia. É Georgette convidando o público a entrar em "seu pedaço".


RAINHA [(S)] - DUAS ATRIZES EM BUSCA DE UM CORAÇÃO
Quando:
estréia amanhã; sex., sáb. e dom., às 20h30; até 21/12
Onde: Sesc Paulista (av. Paulista, 119, 10º andar, tel. 0/xx/11/3179-3700)
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Classificação: não indicada a menores de 12 anos




O QUARTO
Quando:
estréia amanhã; sex. e sáb., às 21h, dom., às 20h; até 21/ 12; nova temporada a partir de 9/1/ 2009
Onde: Club Noir (r. Augusta, 331, tel. 0/xx/11/3257-8129)
Quanto: R$ 10
Classificação: não indicada a menores de 18 anos



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