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análise
Coletivos ganham vulto nos anos 2000
JULIANA MONACHESI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ondas de "artivismo"
surgem no Brasil nos últimos anos da década de 90
e início dos anos 2000, em
sintonia com os movimentos antiglobalização e as
tensões culturais e políticas à flor da pele vivenciadas em Seattle (1999), Gênova (2001) e Davos
(2003). O papel dessa nova
geração, que prefere as
ruas ao espaço institucional e que privilegia as
ações da troca direta com
o público em lugar de
obras no museu, é recriar a
politização na arte.
O coletivismo brasileiro
de início dos anos 2000 tinha um ar quixotesco como nas ações do grupo Laranjas, de Porto Alegre,
cujas ações consistiam em
distribuir gratuitamente
suco de laranja aos pedestres em ruas movimentadas da capital gaúcha, instalar longas faixas de lambe-lambe cor de laranja
(sem quaisquer frases de
mobilização) em túneis da
cidade ou, como fizeram
em uma intervenção em
2003, bater de porta em
porta (todos devidamente
uniformizados com macacão laranja) e oferecer aos
moradores de Porto Alegre o "Minuto Laranja", vídeo de um minuto de duração em que o monitor de
TV era preenchido pela
cor. O grupo registrava a
visita às casas daqueles
que os convidavam a entrar e a reação das pessoas.
Os artistas gaúchos
Cristina Ribas, Cristiano
Lenhardt, Fabiana Rossarola, Jorge Menna Barreto
e Patrícia Francisco, integrantes do grupo, hoje espalhados pelo Brasil, continuam atuando como coletivo em certas ocasiões,
como em recente exposição na Fundação Joaquim
Nabuco, em Recife, quando montaram um QG na
galeria disponibilizada para sua exposição, que funcionou como pólo irradiador de suas intervenções
nas ruas do Recife.
Peça-chave
Uma figura central na
articulação dos coletivos
brasileiros foi a artista
Graziela Kunsch, que
manteve entre 2001 e
2003 o Centro de ContraCultura de São Paulo, espaço dedicado a residências artísticas -sua própria casa, na Vila Mariana-, por onde passaram
grupos como Urucum, de
Macapá; Transição Listrada, de Fortaleza; EmpreZa, de Goiânia; GRUPO, de
Belo Horizonte; TelephoneColorido, de Recife,
além do próprio Laranjas.
Vários dos coletivos dessa época se desfizeram ou
se reagruparam em novos
-é da natureza desses
grupos ter um tempo limitado de vida uma vez que,
conforme ensina Hakim
Bey em "TAZ - Zona Autônoma Temporária", uma
das balizas teóricas dos coletivos, a potência transformadora, cristaliza-se,
torna-se poder.
O que havia de romântico nas ações de início de
2000 ganhou tom mais explicitamente político a
partir de iniciativas como
a ocupação artística em
dezembro de 2003 em edifício na av. Prestes Maia,
ocupado pelo Movimento
dos Sem-Teto do Centro.
Sintomático desta "virada" é a atuação de Graziela
Kunsch em anos recentes:
engajada no CMI (Centro
de Mídia Independente), a
artista defende o uso da bicicleta contra a poluição
em São Paulo, organiza
manifestações em "comemoração" do aniversário
da Rede Globo e atua em
jornais como "O Independente", de Florianópolis.
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