Livro, que traz comentários de Dumbledore, tem potencial para atrair nova geração de leitores, além dos fãs veteranos de Potter

"Contos de Beedle, o Bardo", citado no último volume da série da inglesa, já era um dos mais vendidos do ano na Amazon antes de ser lançado

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde "Harry Potter e as Relíquias da Morte", o sétimo e último livro da saga criada pela inglesa J.K. Rowling, uma dúzia de editoras se apressou em lançar algo que pudesse ser vendido como "o novo Harry Potter". O herdeiro do cetro literário infanto-juvenil, em badalação e número de vendas, demorou, mas enfim apareceu. E também é de J.K. Rowling.
Se ela de fato não planejava lançar mundialmente "Os Contos de Beedle, o Bardo" -só o fez, insiste, por "cobrança" dos leitores-, o livro que acaba de sair é uma ótima sacada "involuntária". O lançamento, às vésperas do Natal, serve como despedida para leitores veteranos da série e é, ao mesmo tempo, uma espécie de porta de entrada para uma nova geração ao universo Harry Potter.
Com apenas 108 páginas e ilustrada pela autora, a obra reúne cinco contos de fadas no estilo das compilações dos irmãos Grimm, com todas as lições de moral que isso acarreta.
Um prato cheio para um leitor imediatamente mais novo que o leitor pré-adolescente de "Harry Potter e a Pedra Filosofal", o primeiro livro da série.
Os personagens de Harry Potter não aparecem nos contos. Mas cada uma das cinco histórias é seguida de comentários do bruxo Alvo Dumbledore, figura central da trama que a autora dizia ter encerrado.
É uma garantia de que mesmo os já crescidos leitores da série comprarão o seu (apesar da linguagem infantil que haviam deixado para trás logo nos primeiros livros) e também de levantar nos mais novos a curiosidade sobre quem é Dumbledore e do que, afinal, ele fala.
"Os Contos de Beedle, o Bardo" já existia, ficcionalmente, em "Relíquias da Morte". Na história, Dumbledore deixa o livro de contos para a jovem Hermione. Uma das cinco fábulas -sobre o que acontece com quem tenta trapacear a Morte- aparece por inteiro no sétimo livro, e é fundamental para ajudar Harry Potter em sua missão de derrotar Voldemort. Os outros quatro contos do novo volume são inéditos.
Não significa que as notas de "Beedle, o Bardo" supram alguma carência de informação deixada pela série. A revelação de como começou a campanha do vilão Lúcio Malfoy contra Dumbledore, por exemplo, não chega a ser imprescindível para quem terminou de ler a saga.
Além disso, os comentários do bruxo são inócuos o bastante para não estragar a surpresa de quem lê pela primeira vez algo sobre a escola de Hogwarts. "Aqueles que estão familiarizados com as histórias da guerra bruxa mais recente (todos os que leram os sete volumes da vida de Harry Potter, por exemplo) terão percebido que Dumbledore revela menos do que sabe", escreve Rowling na introdução de "Beedle, o Bardo".

Mais vendidos
Na noite de quarta-feira, ainda em pré-venda, "Os Contos de Beedle, o Bardo" já aparecia em quinto lugar entre os cem livros mais vendidos de 2008 na Amazon. O único outro livro em pré-venda a figurar na lista era... "Os Contos de Beedle, o Bardo" em edição de luxo, a US$ 100 (cerca de R$ 242).
Em 2007, o livro teve sete cópias manuscritas por Rowling. Seis ela deu de presente; a sétima foi comprada por US$ 4 milhões em um leilão. Assim como a renda obtida na ocasião, o dinheiro que for arrecadado agora em vendas -a primeira tiragem é de 7,5 milhões de cópias no mundo, sendo 250 mil no Brasil- será revertido a uma entidade, da qual Rowling é co-fundadora, que defende os direitos das crianças.