São Paulo, sexta-feira, 07 de janeiro de 2005

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CINEMA

Dirigido por Mauro Lima, novo longa com a personagem reúne no elenco crianças da região em defesa dos bichos

"Tainá 2" enfrenta a floresta amazônica

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem assiste a "Tainá 2 - A Aventura Continua", segunda parte da saga da indiazinha defensora dos animais que estréia hoje, talvez não imagine a complicada logística de sua produção.
Crianças, bichos e floresta não são elementos fáceis de manejar. "São coisas que um cineasta sensato deve evitar, mas fomos ao auge do masoquismo, colocamos ainda as águas do rio Negro", diz o produtor Pedro Róvai, responsável pelos dois episódios.
Convidado por Róvai, o diretor Mauro Lima aceitou a empreitada de filmar o segundo longa-metragem sobre Tainá. Detalhe: na época das cheias na Amazônia, quando os rios sobem até 30 metros, mas, em compensação, as paisagens ficam mais bonitas.
"Fui para lá depois de assistir aos filmes do Herzog, além de "Floresta das Esmeraldas", do John Boorman, e "Brincando nos Campos do Senhor", do Babenco, e ler os relatos dos desafios que os diretores enfrentaram", conta.
E as dificuldades relatadas pelos predecessores se repetiram. "O calor é causticante, há muita umidade, além da dificuldade do solo. Todo o transporte tem que ser feito de barco e não há muita terra firme para fazer uma base para a equipe. Filmar qualquer bobagem é muito complicado."
Apesar dos obstáculos naturais, a floresta era a casa da maioria do elenco infantil. Assim como Eunice Baía, que faz Tainá, Arilene Rodrigues, que interpreta a pequena Catiti, foi recrutada na região. A tribo de curumins também é de crianças da região.
O novo filme repete a estrutura do anterior, colocando em contato a criança da cidade e os índios, e o antagonismo com os vilões.
Liderada por Tainá, agora pré-adolescente, uma tribo luta contra uma gangue que quer roubar seus bichinhos de estimação -macacos, jabutis e bichos-preguiça.
Um cachorrinho da cidade, mascote de Carlito (Vitor Morosini), garoto que vai visitar o pai (Kadu Moliterno) na floresta, também corre perigo, depois de pular no rio Negro. O menino sai em busca do cão e encontra Tainá e sua "aprendiz" Catiti.
A relação entre as crianças e os animais da região foi o ponto de partida do produtor para o primeiro esboço do longa.
"Quando filmei um documentário na Amazônia, há mais de 20 anos, fiquei fascinado pelo lado lúdico das crianças ribeirinhas. Mesmo vivendo à margem da pobreza, elas eram felizes. Não tinham brinquedos, mas tinham bichinhos. Fiz fotos de cenas das crianças com os animais que me inspiram até hoje", relata Róvai.
A princípio, ele imaginava um filme com tendência social, que acabou dando lugar a um viés mágico e de aventura.
"Em vez do tom catastrofista, quis colocar as crianças a favor dos animais da floresta."
O resultado bem-sucedido pode ser medido não somente pela continuação mas também pela carreira de "Tainá - Uma Aventura na Amazônia". O filme teve uma performance surpreendente no cinema, fez carreira em festivais (participou de 52, ganhou nove), continuou a ser exibido em escolas e projetos educacionais no Brasil e foi vendido para as TVs da América Latina e da China.
"Se no Brasil houvesse mercado, "Tainá" seria uma marca forte e viveria de subprodutos", diz Róvai. Por enquanto, a carreira da indiazinha fica somente no cinema, talvez num terceiro filme.


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