São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2009

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Crítica/TV/"A Lei e o Crime"

Série inconsistente fica presa a estereótipos

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

O empenho da Record em ocupar um espaço vago na ficção de TV ficou ainda mais evidente na noite de anteontem, com a estreia de "A Lei e o Crime". A apresentação do episódio-piloto, com uma hora e dez minutos, sem intervalos comerciais foi uma estratégia de riscos, sobretudo comerciais, salutares para uma emissora aberta. Infelizmente, a ousadia começa e termina aí.
Do ponto de vista de conteúdo, dramatização, encenação e atuações, o resultado que se viu foi pífio para um investimento, como divulgado, de R$ 500 mil para cada um dos 16 episódios.
Da temática "favela movie", o que o seriado conseguiu alcançar já se viu muito e melhor em nossos filmes. O que fez de diferente foi ignorar o conteúdo social que mal ou bem justificava o mostrado em "Cidade de Deus" e de modo mais didático, coerente e simpático na série de TV "Cidade dos Homens".
Do viés entretenimento do "filme de favela", a adrenalina e a hemoglobina concentradas no final do episódio foram de fazer rir qualquer adolescente que se divirta com videogames.
Já o esforço por um suporte suplementar de realismo esteve visível nos espaços, posturas e linguajares. Há, no entanto, um fundo falso de telenovela que insiste em denunciar a inconsistência do projeto. Pobres só bebem pinga, se drogam e se matam em chacinas da periferia, enquanto ricos jogam golfe, bebem daiquiri e, alguns, morrem nas mãos daqueles.
O problema nem é insistir em estereótipos, mas não conseguir se livrar deles quando a meta é um suplemento de verismo. Não basta sujar um galã e jogá-lo na favela ou colocar a atriz negra como secretária da madame. É preciso extirpar a descendência da nobreza europeia que distingue a moça rica e, com ela, as fantasias das quais a Globo se livrou e criou um padrão realista ao eliminar as improbabilidades romanescas de Gloria Magadan.
Luzes e posições de câmera também são problemas irritantes na produção, tornando os diálogos intimistas uma atração de trem-fantasma e transformando qualquer personagem em gigante e poderoso sem justificativa dramática.
Não se trata de comparar a produção da Record às da Globo, cujo "padrão de qualidade" aquela tem buscado emular em suas novelas. O padrão exigido pelo espectador é o dos seriados da TV americana, que hoje só é menos popularizado (ainda) do que nossas telenovelas.
Faz sentido, portanto, que a Record invista pesado no filão, por causa das características aparentemente superiores do velho gênero seriado, depois que este ganhou roupa nova e vem sendo aclamado. No entanto, pelo que se viu neste piloto, falta muito feijão com arroz para alcançarmos resultado satisfatório, distante do inferno da audiência decadente das novelas e dos encantos literários das microsséries.


A LEI E O CRIME
Quando: às segundas, às 23h15
Onde: na Record
Classificação: não indicada a menores de 14 anos
Avaliação: ruim



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