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Crítica/TV/"A Lei e o Crime"
Série inconsistente fica presa a estereótipos
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
O empenho da Record
em ocupar um espaço
vago na ficção de TV ficou ainda mais evidente na noite de anteontem, com a estreia
de "A Lei e o Crime". A apresentação do episódio-piloto, com
uma hora e dez minutos, sem
intervalos comerciais foi uma
estratégia de riscos, sobretudo
comerciais, salutares para uma
emissora aberta. Infelizmente,
a ousadia começa e termina aí.
Do ponto de vista de conteúdo, dramatização, encenação e
atuações, o resultado que se viu
foi pífio para um investimento,
como divulgado, de R$ 500 mil
para cada um dos 16 episódios.
Da temática "favela movie", o
que o seriado conseguiu alcançar já se viu muito e melhor em
nossos filmes. O que fez de diferente foi ignorar o conteúdo social que mal ou bem justificava
o mostrado em "Cidade de
Deus" e de modo mais didático,
coerente e simpático na série
de TV "Cidade dos Homens".
Do viés entretenimento do
"filme de favela", a adrenalina e
a hemoglobina concentradas
no final do episódio foram de
fazer rir qualquer adolescente
que se divirta com videogames.
Já o esforço por um suporte
suplementar de realismo esteve visível nos espaços, posturas
e linguajares. Há, no entanto,
um fundo falso de telenovela
que insiste em denunciar a inconsistência do projeto. Pobres
só bebem pinga, se drogam e se
matam em chacinas da periferia, enquanto ricos jogam golfe,
bebem daiquiri e, alguns, morrem nas mãos daqueles.
O problema nem é insistir
em estereótipos, mas não conseguir se livrar deles quando a
meta é um suplemento de verismo. Não basta sujar um galã
e jogá-lo na favela ou colocar a
atriz negra como secretária da
madame. É preciso extirpar a
descendência da nobreza europeia que distingue a moça rica
e, com ela, as fantasias das
quais a Globo se livrou e criou
um padrão realista ao eliminar
as improbabilidades romanescas de Gloria Magadan.
Luzes e posições de câmera
também são problemas irritantes na produção, tornando os
diálogos intimistas uma atração de trem-fantasma e transformando qualquer personagem em gigante e poderoso sem
justificativa dramática.
Não se trata de comparar a
produção da Record às da Globo, cujo "padrão de qualidade"
aquela tem buscado emular em
suas novelas. O padrão exigido
pelo espectador é o dos seriados da TV americana, que hoje
só é menos popularizado (ainda) do que nossas telenovelas.
Faz sentido, portanto, que a
Record invista pesado no filão,
por causa das características
aparentemente superiores do
velho gênero seriado, depois
que este ganhou roupa nova e
vem sendo aclamado.
No entanto, pelo que se viu
neste piloto, falta muito feijão
com arroz para alcançarmos
resultado satisfatório, distante
do inferno da audiência decadente das novelas e dos encantos literários das microsséries.
A LEI E O CRIME
Quando: às segundas, às 23h15
Onde: na Record
Classificação: não indicada a menores
de 14 anos
Avaliação: ruim
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