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ARTES VISUAIS
Obra, construída em cima de árvore, critica problema da moradia
Artista protesta com casa de madeira
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Em cima de uma árvore da Casa
Verde, região norte de São Paulo,
a artista plástica Floriana Beyer,
22, encontrou o lugar ideal para
exibir uma de suas obras: uma casinha de madeira.
É um protesto contra o abandono dos espaços públicos, a especulação imobiliária e o problema
de moradia na cidade. O trabalho
está instalado na praça Coronel
Torquato Tasso Neto, ao lado da
ponte da Casa Verde.
"A praça fica próxima à marginal [Tietê], onde há muitas moradias irregulares. Ela [a casa] foi
feita para criticar", explica a jovem, que atualmente cursa o terceiro ano do curso de artes plásticas da Faap.
Batizada de "Murulho", alusão
aos tapumes de madeira que geralmente cercam os prédios em
construção, a casinha é um caixote de madeira, que mede 1 m por
1 m e tem altura de 1,5 m.
Há duas pequenas aberturas
nas paredes e uma no chão, que
faz as vezes de porta de entrada. O
teto é removível.
Foi a própria artista que a fabricou, aproveitando material encontrado na rua. Beyer pesquisou
vários espaços antes de escolher a
praça da Casa Verde.
Além da proximidade da marginal Tietê, a artista achou que o local seria apropriado porque observou ali pessoas que dormiam e
guardavam pertences em cima
das árvores.
Apesar de ser uma obra de protesto, a casinha virou atração para
as crianças do bairro que freqüentam a praça, onde não há nenhum
brinquedo nem sequer um banco
-há apenas um gramado, do tamanho de meio campo de futebol,
e algumas árvores. "Um dia vim
aqui e as crianças me pediram para construir outras", conta.
Atualmente, Beyer se dedica,
com um grupo, a um projeto de
revitalização de uma biblioteca
pública no Pari, que talvez também ganhe uma casinha.
Na quinta passada, dia que em
que a reportagem acompanhou a
artista ao local, um dos taxistas
que faz ponto em frente à praça
perguntou a ela sobre a possibilidade de construírem juntos um
viveiro para os pássaros.
"Acho que a obra é uma aproximação com a vida. Ela sai do contexto da arte como algo contemplativo; é algo interativo e de uso
público."
Sem autorização da prefeitura, a
artista instalou a casinha em 17 de
novembro, como parte das atividades do projeto EIA (Experiência Imersiva Ambiental).
O EIA é formado por um grupo
multidisciplinar -há artistas, arquitetos, jornalistas, biólogos
etc.-, e Beyer é uma de suas articuladoras.
Dos 47 trabalhos realizados,
apenas o "Murulho" continua
existindo. Os demais tinham caráter efêmero, como performances, panfletagem, colagem de adesivos etc.
"Discutimos a urgência de
ações que atuem de forma crítica
e estética no espaço da cidade, em
lugares onde vamos ou gostaríamos de freqüentar", diz a artista.
Ilegal
O subprefeito da Casa Verde e
Cachoeirinha, José Claudio Barriguelli, não sabia da intervenção e
informou que mandaria uma
equipe para avaliar a obra.
"Qualquer tipo de melhoria no
espaço público depende de autorização expressa do poder público. Há um processo claro", afirma
Barriguelli.
Segundo ele, para manter o
"Murulho" onde está, a artista vai
ter que formalizar um pedido que
será avaliado pela prefeitura.
"Acredito que seja uma cidadã
bem intencionada; é um problema até agradável de resolver", finalizou.
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