São Paulo, segunda-feira, 07 de fevereiro de 2005

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ARTES VISUAIS

Obra, construída em cima de árvore, critica problema da moradia

Artista protesta com casa de madeira

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em cima de uma árvore da Casa Verde, região norte de São Paulo, a artista plástica Floriana Beyer, 22, encontrou o lugar ideal para exibir uma de suas obras: uma casinha de madeira.
É um protesto contra o abandono dos espaços públicos, a especulação imobiliária e o problema de moradia na cidade. O trabalho está instalado na praça Coronel Torquato Tasso Neto, ao lado da ponte da Casa Verde.
"A praça fica próxima à marginal [Tietê], onde há muitas moradias irregulares. Ela [a casa] foi feita para criticar", explica a jovem, que atualmente cursa o terceiro ano do curso de artes plásticas da Faap.
Batizada de "Murulho", alusão aos tapumes de madeira que geralmente cercam os prédios em construção, a casinha é um caixote de madeira, que mede 1 m por 1 m e tem altura de 1,5 m.
Há duas pequenas aberturas nas paredes e uma no chão, que faz as vezes de porta de entrada. O teto é removível.
Foi a própria artista que a fabricou, aproveitando material encontrado na rua. Beyer pesquisou vários espaços antes de escolher a praça da Casa Verde.
Além da proximidade da marginal Tietê, a artista achou que o local seria apropriado porque observou ali pessoas que dormiam e guardavam pertences em cima das árvores.
Apesar de ser uma obra de protesto, a casinha virou atração para as crianças do bairro que freqüentam a praça, onde não há nenhum brinquedo nem sequer um banco -há apenas um gramado, do tamanho de meio campo de futebol, e algumas árvores. "Um dia vim aqui e as crianças me pediram para construir outras", conta.
Atualmente, Beyer se dedica, com um grupo, a um projeto de revitalização de uma biblioteca pública no Pari, que talvez também ganhe uma casinha.
Na quinta passada, dia que em que a reportagem acompanhou a artista ao local, um dos taxistas que faz ponto em frente à praça perguntou a ela sobre a possibilidade de construírem juntos um viveiro para os pássaros.
"Acho que a obra é uma aproximação com a vida. Ela sai do contexto da arte como algo contemplativo; é algo interativo e de uso público."
Sem autorização da prefeitura, a artista instalou a casinha em 17 de novembro, como parte das atividades do projeto EIA (Experiência Imersiva Ambiental).
O EIA é formado por um grupo multidisciplinar -há artistas, arquitetos, jornalistas, biólogos etc.-, e Beyer é uma de suas articuladoras.
Dos 47 trabalhos realizados, apenas o "Murulho" continua existindo. Os demais tinham caráter efêmero, como performances, panfletagem, colagem de adesivos etc.
"Discutimos a urgência de ações que atuem de forma crítica e estética no espaço da cidade, em lugares onde vamos ou gostaríamos de freqüentar", diz a artista.

Ilegal
O subprefeito da Casa Verde e Cachoeirinha, José Claudio Barriguelli, não sabia da intervenção e informou que mandaria uma equipe para avaliar a obra.
"Qualquer tipo de melhoria no espaço público depende de autorização expressa do poder público. Há um processo claro", afirma Barriguelli.
Segundo ele, para manter o "Murulho" onde está, a artista vai ter que formalizar um pedido que será avaliado pela prefeitura.
"Acredito que seja uma cidadã bem intencionada; é um problema até agradável de resolver", finalizou.


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