São Paulo, terça-feira, 07 de fevereiro de 2006

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Da Bienal de 1951 a trabalhos recentes, passando pelo período da ditadura militar, o Instituto Henry Moore promove na Inglaterra uma compacta retrospectiva de arte brasileira

Para inglês ver

FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A LEEDS

O diálogo começou no ano passado, com a retrospectiva de Henry Moore (1898-1986) em São Paulo, no Rio e em Brasília. A serviço da fundação que leva o nome do grande escultor britânico, o curador Stephen Feeke aproveitou a oportunidade para mergulhar na arte brasileira.
O resultado da incursão de Feeke está exposto desde sábado e fica até 16 de abril no Instituto Henry Moore, em Leeds, norte da Inglaterra. Em quatro pequenas salas, 55 anos de arte brasileira compõem "Espaço Aberto/Espaço Fechado: Lugares para Escultura no Brasil Moderno".
O marco da mostra -que na realidade não apresenta apenas esculturas- é a primeira Bienal Internacional de São Paulo, em 1951. "Foi o momento da grande explosão criativa do Brasil em todas as áreas", diz. Os 20 artistas que compõem a exposição não foram divididos em gavetas formais -o que fica claro já na primeira das três partes da mostra, denominada "Espaço Fechado".
Nela, a escultura "Unidade Tripartida", do suíço Max Bill (o grande premiado da primeira Bienal de São Paulo), aparece junto de "Índio e a Suassuapara", de Victor Brecheret (1894-1955), e "Cubo Vazado", obra realizada pelo neoconcretista Franz Weissmann (1911-2005).
No caso, são esculturas no sentido estrito, todas relacionadas à Bienal de 1951 -além da vitoriosa "Unidade Tripartida", Brecheret foi premiado, e a obra de Weissmann, rejeitada, sob alegação de que não tinha acabamento adequado.
No mesmo módulo da mostra, artistas contemporâneos -Rubens Mano, Paulo Climachauska, Detanico Lain, Rogerio Canella e Luisa Lambri- exibem trabalhos que têm como tema o prédio da Bienal, projetado por Oscar Niemeyer. "As obras, mesmo quando têm uma visão crítica de Niemeyer, mostram que ele permanece atraindo o interesse de novos artistas", diz o curador.
A seguir surge a seção "Espaço Criado", que cobre o período da ditadura militar, com trabalhos de Artur Barrio, Antonio Manuel, Ducha, Waldemar Cordeiro, Grupo Rex, Cildo Meirelles e Iran do Espírito Santo. Já não há mais a escultura-escultura, e os meios vão de projeções de performances em DVD a instalações e intervenções. Participa desse setor o grupo 3NÓS3. "Eles fizeram coisas extraordinárias, como ensacar monumentos e bloquear o trânsito da avenida Paulista, e são completamente desconhecidos fora do Brasil", observa Feeke.
Por fim, a sala "Espaço Aberto" tematiza o período pós-regime militar. Meirelles, Espírito Santo e Mano voltam a aparecer (os únicos a integrarem duas etapas), ao lado de Jac Leirner, Jarbas Lopes e Eduardo Srur/Fernando Huck. "Essa geração não teve que criar seu espaço na rua, como os artistas dos 70, mas retém aquela experimentação e alegria, e, apesar da abertura, faz também crítica política", comenta o curador.
"É uma exposição compacta, mas com uma grandiosidade de leitura e uma inteligência na curadoria que são raras", disse Antônio Manuel, que esteve na abertura da mostra e elogiou o fato do curador ter escapado de lugares-comuns. Concorda com ele o pesquisador anglo-brasileiro Michael Asbury, que foi curador-adjunto da seção dedicada ao Brasil da megamostra "Art and Culture in the Modern Metropolis", que abriu a Tate Modern, em 2001.
"É diferente de outras exposições sobre arte brasileira aqui no Reino Unido, porque não tenta criar uma linearidade e compartimentar formalmente os movimentos. Ela é mais sofisticada", diz ele, que assina um dos ensaios do catálogo -os outros são de Felipe Chaimovich, Cacilda Teixeira da Costa e do próprio curador, com contribuições de Regina Teixeira de Barros.


O jornalista Fábio Victor viajou a convite do Instituto Henry Moore

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