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Da Bienal de 1951 a trabalhos recentes, passando pelo período da ditadura militar, o Instituto Henry Moore promove na Inglaterra uma compacta retrospectiva de arte brasileira
Para inglês ver
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A LEEDS
O diálogo começou no ano passado, com a retrospectiva de
Henry Moore (1898-1986) em São
Paulo, no Rio e em Brasília. A serviço da fundação que leva o nome
do grande escultor britânico, o
curador Stephen Feeke aproveitou a oportunidade para mergulhar na arte brasileira.
O resultado da incursão de Feeke está exposto desde sábado e fica até 16 de abril no Instituto
Henry Moore, em Leeds, norte da
Inglaterra. Em quatro pequenas
salas, 55 anos de arte brasileira
compõem "Espaço Aberto/Espaço Fechado: Lugares para Escultura no Brasil Moderno".
O marco da mostra -que na
realidade não apresenta apenas
esculturas- é a primeira Bienal
Internacional de São Paulo, em
1951. "Foi o momento da grande
explosão criativa do Brasil em todas as áreas", diz. Os 20 artistas
que compõem a exposição não foram divididos em gavetas formais
-o que fica claro já na primeira
das três partes da mostra, denominada "Espaço Fechado".
Nela, a escultura "Unidade Tripartida", do suíço Max Bill (o
grande premiado da primeira
Bienal de São Paulo), aparece junto de "Índio e a Suassuapara", de
Victor Brecheret (1894-1955), e
"Cubo Vazado", obra realizada
pelo neoconcretista Franz Weissmann (1911-2005).
No caso, são esculturas no sentido estrito, todas relacionadas à
Bienal de 1951 -além da vitoriosa "Unidade Tripartida", Brecheret foi premiado, e a obra de
Weissmann, rejeitada, sob alegação de que não tinha acabamento
adequado.
No mesmo módulo da mostra,
artistas contemporâneos -Rubens Mano, Paulo Climachauska,
Detanico Lain, Rogerio Canella e
Luisa Lambri- exibem trabalhos
que têm como tema o prédio da
Bienal, projetado por Oscar Niemeyer. "As obras, mesmo quando
têm uma visão crítica de Niemeyer, mostram que ele permanece
atraindo o interesse de novos artistas", diz o curador.
A seguir surge a seção "Espaço
Criado", que cobre o período da
ditadura militar, com trabalhos
de Artur Barrio, Antonio Manuel,
Ducha, Waldemar Cordeiro, Grupo Rex, Cildo Meirelles e Iran do
Espírito Santo. Já não há mais a
escultura-escultura, e os meios
vão de projeções de performances
em DVD a instalações e intervenções. Participa desse setor o grupo
3NÓS3. "Eles fizeram coisas extraordinárias, como ensacar monumentos e bloquear o trânsito
da avenida Paulista, e são completamente desconhecidos fora do
Brasil", observa Feeke.
Por fim, a sala "Espaço Aberto"
tematiza o período pós-regime
militar. Meirelles, Espírito Santo e
Mano voltam a aparecer (os únicos a integrarem duas etapas), ao
lado de Jac Leirner, Jarbas Lopes e
Eduardo Srur/Fernando Huck.
"Essa geração não teve que criar
seu espaço na rua, como os artistas dos 70, mas retém aquela experimentação e alegria, e, apesar
da abertura, faz também crítica
política", comenta o curador.
"É uma exposição compacta,
mas com uma grandiosidade de
leitura e uma inteligência na curadoria que são raras", disse Antônio Manuel, que esteve na abertura da mostra e elogiou o fato do
curador ter escapado de lugares-comuns. Concorda com ele o pesquisador anglo-brasileiro Michael Asbury, que foi curador-adjunto da seção dedicada ao Brasil
da megamostra "Art and Culture
in the Modern Metropolis", que
abriu a Tate Modern, em 2001.
"É diferente de outras exposições sobre arte brasileira aqui no
Reino Unido, porque não tenta
criar uma linearidade e compartimentar formalmente os movimentos. Ela é mais sofisticada",
diz ele, que assina um dos ensaios
do catálogo -os outros são de
Felipe Chaimovich, Cacilda Teixeira da Costa e do próprio curador, com contribuições de Regina
Teixeira de Barros.
O jornalista Fábio Victor viajou a convite do Instituto Henry Moore
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