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Crítica
Autor se fixa na literatura de gênero
JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA
Michael Chabon,
depois do Pulitzer por "As Incríveis Aventuras de Kavalier & Clay" (2000), tem se
notabilizado por sua defesa da literatura de gênero
(e não me refiro ao sexo de
quem escreve) e da "fan
fiction" (as narrativas anônimas de aficcionados que
se apropriam de personagens alheios). Esse seu
apreço pelas modalidades
supostamente baratas da
ficção (romances de aventuras e detetivescos) levaram-no ao roteiro de "Homem-Aranha 2", mas também a "Associação Judaica
de Polícia", verdadeiro
triunfo literário que tardará a criar teias.
O pendor para questionar limites entre alta e baixa cultura que já não fazem nenhum sentido (se é
que já fizeram) é antigo:
em "Garotos Incríveis"
(1995) o mentor do amalucado Grady Tripp era August Van Zorn, autor de
histórias fantásticas bastante similar a H.P. Lovecraft. Após galgar serelepe
a cordilheira dos mais vendidos, o próprio Chabon
adotaria o "nom de plume" de Van Zorn, publicando esporadicamente
contos de horror nada
horrorosos. Mais além, os
protagonistas "Kavalier &
Clay" eram uma dupla de
quadrinistas judeus na Era
de Ouro dos comics, seara
também experimentada
nas aventuras de "The Escapist", coadjuvante do livro que terminou escapando para gibis reais.
O escritor não se desvia
da rota neste último romance, paródia em todos
os aspectos inspirada na literatura "hard-boiled" e
mais bem sucedida que
"The Final Solution"
(2004), sua incursão anterior pelas vielas escuras e
calçadas molhadas tão típicas do gênero. Aqui, Meyer Landsman é o clássico
detetive "loser" e de mal
com o cosmos, cujo antro,
o pulguento hotel Zamenhof, é abalado com o assassinato de um junkie
misterioso: Emanuel Lasker, além de ter a nuca varada pelo balaço, deixou
inacabada sua partida de
xadrez. Landsman, levando o caso como pessoal, vai
à investigação com o parceiro Berko Shemets, um
índio tlingit brutamontes
que se considera judeu.
O cenário gelado também remete a outra variação da literatura de gênero, a de ficção histórica:
Sitka é a capital do Alasca,
região para onde todos os
judeus foram após perderem Israel, em 1948. Sessenta anos depois, eles
precisam sair de lá, pois o
Alasca iídiche está prestes
a ser reintegrado aos EUA.
É uma estranha época para ser judeu, como Landsman não se cansa de dizer.
Romance de linguagem
e inventividade memoráveis, "Associação Judaica
de Polícia" é impulsionado
pela metralhadora metafórica de Michael Chabon,
uma arma que não parece
nunca engasgar.
JOCA REINERS TERRON é é escritor,
autor de "Sonho Interrompido por Guilhotina" (Casa da Palavra).
ASSOCIAÇÃO JUDAICA DE
POLÍCIA
Autor: Michael Chabon
Tradução: Luiz A. de Araújo
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 58 (470 págs.)
Avaliação: ótimo
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