São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2009

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Livros

Biografia conta a vida de "Forrest Gump" do rock

Livro retrata Bill Graham, produtor que profissionalizou os shows de rock

Janis Joplin, Jimi Hendrix e Rolling Stones são alguns dos artistas que trabalharam com o produtor, morto em acidente de helicóptero

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele não cantava, não tocava instrumentos, não compunha nem tomava drogas, fugindo de qualquer estereótipo de estrela da música. Mesmo assim, Bill Graham foi uma das figuras centrais do cenário da geração "flower power". E o livro que conta a sua história é leitura fundamental para qualquer um que queira entender o rock dos anos 60 e 70 ou mesmo o show business atual. Mas quem diabos é Bill?, pode (e deve) se perguntar o leitor brasileiro.
"Ele é o maior produtor de shows de todos os tempos. Foi ele a primeira pessoa que levou um cuidado cênico ao rock: preocupava-se com os efeitos das luzes, buscava o melhor equipamento de som. Ou seja, tentava criar um ambiente amigável onde a banda pudesse tocar decentemente, e o público, assistir. Sem contar que, ao lado de Bob Geldof, ele foi responsável pelo Live Aid [primeiro megashow de rock beneficente, organizado em 1985 para arrecadar fundos e combater a fome na Etiópia]", diz o jornalista norte-americano Robert Greenfield, 62, coautor de "Bill Graham Apresenta: Minha Vida Dentro e Fora do Rock", livro de proporções épicas publicado no exterior em 1992 e que saiu no Brasil apenas no final do ano passado.
"Épico" não apenas pelas suas 576 páginas. Na segunda parte, todos que importam (ou já importaram) no rock esbarram em Bill Graham (1931-1991) ou nas suas lendárias casas de show Fillmore: Bob Dylan, Rolling Stones, Janis Joplin, Jimi Hendrix, The Doors, The Who, Led Zeppelin, Grateful Dead, Carlos Santana.... "Nenhum deles teria se tornado tão famoso se Bill não tivesse feito o que fez, levando suas músicas a tantas pessoas", afirma Greenfield. Dizer que Graham é o maior produtor pode não impressionar. Mas, se hoje, apresentações dos Stones na praia de Copacabana ou de Madonna em estádios não causam tanto espanto, nos anos 60 era algo distante, já que a profissionalização dos shows não era regra. "O livro é sobre a história de Bill, mas é também a história do rock'n'roll, sobre como, com a sua ajuda, ele se transformou numa indústria que movimenta milhões de dólares até hoje."
Greenfield, jornalista especializado no gênero, fez todas as entrevistas (cerca de 125 personagens, segundo ele) do livro, estruturado da célebre forma de "Mate-me, por Favor" (1997). Ou seja, uma série de depoimentos em primeira pessoa editados e organizados de forma a contar uma história.

Sonho americano
A música é o atrativo do livro. Surpreendente, então, é que a primeira parte, que consome 146 páginas, tenha nada sobre rock. E, mesmo assim, seja uma narrativa emocionante. "Como muitos imigrantes que vieram para a América, Bill queria um livro que contasse a sua vida", conta Greenfield, que escreveu uma peça sobre Graham, um monólogo encenado em 2000 em Los Angeles.
A vida de Graham é digna de Forrest Gump e Benjamin Button e deve virar filme, se depender de Greenfield. Nascido em Berlim, teve que fugir dos nazistas ainda criança. Viveu em orfanatos na França e viu a Segunda Guerra de perto. Foi enviado aos EUA sem nada no bolso e ficou um longo tempo à espera de alguém que o adotasse. Jovem, lutou na Guerra da Coreia, foi motorista de táxi, garçom, ator. Mais tarde, já famoso, atuou em filmes como "Apocalypse Now" (1979) e "Bugsy" (1991). Uma vida impossível de ser resumida em um parágrafo.


BILL GRAHAM APRESENTA:
MINHA VIDA DENTRO E FORA DO ROCK

Autores: Bill Graham e Robert Greenfield
Tradução: Juliana Lemos
Lançamento: Barracuda
Quanto: R$ 59 (576 págs.)



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