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"A TEORIA DA REVOLUÇÃO NO JOVEM MARX"
Löwy descreve a trajetória indivisível de Karl Marx
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Foi há pouco tempo modismo intelectual parisiense, espalhado por vários cantos do mundo, inclusive aqui em nossa
praia, o bisturi epistemológico
que cindia o jovem Marx do velho, dando ensejo às sutilezas mirabolantes acerca de um Marx
meia idade, coroa, avoengo.
Na verdade, o que existe é um só
Karl Marx, indiviso, inconsútil,
inteiriço, conforme revela o marxista Michael Löwy, em cujo livro
o leitor encontrará o percurso
ideológico mais importante do século 19: como e porque o indivíduo Marx virou comunista e crítico radical do princípio e da existência da propriedade privada.
Discípulo de Lucien Goldman,
Michael Löwy nos informa a primeira vez que o autor do "Manifesto do Partido Comunista" usou
a palavra "proletariado".
Jornalista, Marx começou falando dos pobres e da floresta da Alemanha. Foi a questão energética
da madeira que o levou do pobre
ao proleta.
Uni-vos! A natureza. O trabalho. A solidariedade. A relação entre os despossuídos e os libertários. A classe social. A profissão.
Não conseguiu ser professor universitário. Falha da democracia,
as portas da universidade se lhe
fecharam.
Desde cedo preocupado com a
importância do pensamento, escreveu na "Gazeta Renana": "Os
filósofos não brotam da terra como os cogumelos. Toda filosofia é
a quintessência espiritual de seu
tempo."
Ao mesmo tempo que valorizava a filosofia, sacaneava o filósofo
chato e pedante que se compraz
em interpretar o mundo, e não
em transformá-lo.
Vivendo no fastígio do carvão
mineral, impressiona como Marx
anteviu no roubo da floresta a definição de propriedade.
Proudhon foi seu amigo. O coração da propriedade privada está
conectado à inexistência de burguesia arrependida.
Não menos complicada é a situação da classe operária, condenada a ser revolucionária ou não
ser nada. Por isso que a missão do
proletariado é o assunto do século
20 que ressoa até em Oswald de
Andrade: aqui, o boêmio é o contrário do burguês, e não o proleta.
Todavia, mesmo a contradição
universal entre burguesia e proletariado é embaraçosa, porque a
miséria social não se traduz necessariamente em razão política.
E mais: golpe é sempre coisa de
direita. Quanto ao intelectual, o
que importa é menos a classe social a que pertence do que a classe
social por ele representada com
suas idéias. Afinal, Marx e Engels
não eram operários. Nem
Trotsky. Nem Georg Lukàcs.
Michael Löwy se insurge diante
da distinção entre o Marx, homem de ciência de homem de
ação. Assim, o Marx bom é aquele
que analisa cientificamente o funcionamento do sistema capitalista, enquanto o Marx ruim é o
ideólogo da revolução socialista.
É essa distinção que explica a
presença de "marxistas" e "ex-marxistas" instalados no aparelho
neoliberal do poder em vários
países do mundo, inclusive no
Brasil dos últimos oito anos.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é
professor de ciências sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora e autor, entre outros, de "Glauber Pátria Rocha Livre" (Senac)
A Teoria da Revolução no
Jovem Marx
Autor: Michael Löwy
Editora: Vozes
Quanto: R$ 25 (245 págs.)
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