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CRÍTICA
TV perpetua visão conservadora da mulher
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Na véspera do Dia Internacional da Mulher, não é
ocioso pensar em como persistem imagens femininas tradicionais na TV. Apesar de a TV brasileira ter, em determinados momentos, acolhido representações
da mulher mais afinadas com as
conquistas femininas, tanto a
programação quanto a publicidade ainda se mostram bastante
conservadoras.
Pense-se em como a manipulação contemporânea do corpo feminino, tanto no sentido diretamente cirúrgico quanto no sentido da imposição de um padrão,
tem na TV sua vitrine mais privilegiada. No início de uma novela,
a diversão é descobrir qual das
atrizes fez que tipo de intervenção -pôs peito, tirou barriga,
enxertou veneno paralisante etc.
Daqui a coisa de uma semana,
a Record estréia uma novela cujo
tema central são as cirurgias
plásticas -a emissora promete
exibir uma ao vivo, em tempo
real. "Metamorphoses" (atenção,
a grafia é essa mesmo, com esse
pê-agá cafona) ainda não disse a
que veio, mas, a princípio, a idéia
de assistir a uma operação na TV
parece grotesca. That's entertainment, agora.
E não é só o corpo feminino
que é normatizado, esquadrinhado e julgado a todo instante.
Uma jornada diária pela programação revela quanto chão as
mulheres -e as meninas- ainda têm pela frente para derrubar
os preconceitos. De manhã, os
programas são "femininos", o
que significa girar em torno de
assuntos que remetem às atividades ou interesses que se imaginam das mulheres: artesanato,
culinária, saúde e intercalar essa
pauta palpitante com muito
anúncio de produtos para o lar e
remédio ou de aparelhos milagrosos para emagrecer etc. Mais
tarde, entram os programas para
crianças em que se ensinam as
meninas a serem meigas, burras
e gostosas como suas apresentadoras e os meninos a desejarem
essas mesmas mulheres saltitantes, alegres -e estúpidas.
Às tardes, é hora de invejar. Os
programas dedicados às fofocas
do tal do mundo das celebridades ensinam e fomentam a inveja
-o que é natural, dado que não
apenas glamuriza, como trata
com uma realidade que deve ser
levada a sério um mundo povoado por mulheres mais magras,
mais jovens, mais ricas e casadas
com ou namoradas de homens
mais jovens, mais ricos e mais
magros do que os que a maioria
das mulheres têm em casa.
E, de noite, vêm as novelas. Na
ficção, melhora um pouco, mas
só um pouco e não por muito
tempo. Se, por um lado, há personagens modernas, independentes, fortes, bem-sucedidas,
em boa parte da trama quem leva
a melhor são as moças pérfidas e
ambiciosas, que enrolam os belos rapazes com falsas gravidezes, mentiras, estratagemas mirabolantes etc., como bem observou Esther Hamburger em crítica na Folha sobre "Da Cor do Pecado", em 28 de janeiro.
As meninas do Brasil mereciam coisa melhor.
E-mail: biabramo.tv@uol.com.br
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