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Vitória de "Crash" celebra ano político
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES
No Oscar, como no futebol, a
partida só termina quando o juiz
apita. A vitória antecipada de "O
Segredo de Brokeback Mountain" não se confirmou, anteontem, em Los Angeles, quando o
ator Jack Nicholson (no papel de
juiz) anunciou "Crash - No Limite" como o melhor filme.
O espanto dos vencedores foi
evidente. O do "perdedor" Ang
Lee, que minutos antes recebera o
Oscar de melhor diretor, por
"Brokeback", também. O assunto
de Lee após a premiação acabou
sendo o Oscar que ele não venceu.
O diretor admitiu estar decepcionado por não ganhar o prêmio de
melhor filme e confessou outro
desapontamento -o de ver
Heath Ledger voltar para casa
sem o Oscar de ator. A pergunta
da noite -Por que, afinal, "Brokeback" não ganhou?- o diretor
disse não saber responder.
Em contraste com o ar derrotado de Lee, o diretor de "Crash",
Paul Haggis, era todo sorriso. "Estamos putamente felizes", disse,
ao lado da dupla de produtores
Bobby Moresco e Cathy Shulman.
Além de melhor filme, "Crash"
venceu também nas categorias
roteiro original e montagem. Assim, empatou com "Brokeback"
no número de prêmios. O filme
de Lee venceu também roteiro
adaptado e trilha sonora.
Ao receber o prêmio pelo roteiro, Haagis o dedicou "a todos que
se levantam pela paz e a justiça e
contra a intolerância". Haagis é
canadense, radicado em Los Angeles desde os 22 anos. Nesta semana ele completa 53. Seu
"Crash" usa casuais acidentes de
carro em Los Angeles como pretexto para promover várias trombadas de ordem moral entre personagens de diversas etnias e classes sociais. Ele fez carreira na TV e
é o roteirista de "Menina de Ouro", vencedor como melhor filme
em 2005, e também do próximo
filme do Clint Eastwood, ainda
inédito, "Flags of Our Fathers".
"Se há uma coisa que eu queria
dizer [com o filme] é que nós,
americanos, temos a tendência de
julgar os fatos e as pessoas muito
apressadamente. Queríamos que
as pessoas dessem um passo atrás
e esperassem cinco segundos antes de condenar alguém ou apontar o dedo para um país e tachá-lo
de diabólico", disse o diretor.
Com o tema da tensão racial,
"Crash" faz parte do rol de "filmes
políticos", característica dominante deste Oscar 2006. Tão dominante que o cineasta francês
Luc Jacquet, vencedor de melhor
documentário, disse: ""A Marcha
dos Pingüins" não é um filme político, mas esperamos que ele possa
influenciar a geração que decidirá
o futuro do planeta", afirmou.
O perfil sério dos concorrentes
fez bem ao ego dos acadêmicos.
"Tenho orgulho de pertencer a esta Academia", disse George Clooney, ao receber o Oscar de ator
coadjuvante por um filme sobre a
indústria do petróleo ("Syriana").
"Nós falamos sobre a Aids quando o assunto estava apenas sendo
sussurrado e falamos de direitos
civis quando o tema não era exatamente popular", lembrou Clooney. Mas os resultados de bilheteria dos longas sérios foram quase
invariavelmente murchos.
Atriz fiel
Já Rachel Weisz garantiu o único Oscar -atriz coadjuvante- a
"O Jardineiro Fiel", de Fernando
Meirelles. À Folha, o diretor, que
pensava em Eva Green ("Os Sonhadores") para o papel, falou sobre a escolha da atriz: "Quando
ela [Weisz] soube que eu estava
em Londres e ia começar a entrevistar atrizes, aproveitou uma folga nas filmagens de "Constantine",
tomou um vôo de Los Angeles,
chegou lá, fizemos um encontro
de 45 minutos e voltou para o aeroporto. Depois me escreveu uma
bela carta. Me impressionou sua
determinação. Tem algo de Tessa
[Quayle, personagem do livro de
John Le Carré] aí. Ela é extremamente inteligente, fácil de trabalhar e dedicada. Fico feliz que este
filme tenha servido para ela chegar aonde merece estar".
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