São Paulo, terça-feira, 07 de março de 2006

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Vitória de "Crash" celebra ano político

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES

No Oscar, como no futebol, a partida só termina quando o juiz apita. A vitória antecipada de "O Segredo de Brokeback Mountain" não se confirmou, anteontem, em Los Angeles, quando o ator Jack Nicholson (no papel de juiz) anunciou "Crash - No Limite" como o melhor filme.
O espanto dos vencedores foi evidente. O do "perdedor" Ang Lee, que minutos antes recebera o Oscar de melhor diretor, por "Brokeback", também. O assunto de Lee após a premiação acabou sendo o Oscar que ele não venceu. O diretor admitiu estar decepcionado por não ganhar o prêmio de melhor filme e confessou outro desapontamento -o de ver Heath Ledger voltar para casa sem o Oscar de ator. A pergunta da noite -Por que, afinal, "Brokeback" não ganhou?- o diretor disse não saber responder.
Em contraste com o ar derrotado de Lee, o diretor de "Crash", Paul Haggis, era todo sorriso. "Estamos putamente felizes", disse, ao lado da dupla de produtores Bobby Moresco e Cathy Shulman. Além de melhor filme, "Crash" venceu também nas categorias roteiro original e montagem. Assim, empatou com "Brokeback" no número de prêmios. O filme de Lee venceu também roteiro adaptado e trilha sonora.
Ao receber o prêmio pelo roteiro, Haagis o dedicou "a todos que se levantam pela paz e a justiça e contra a intolerância". Haagis é canadense, radicado em Los Angeles desde os 22 anos. Nesta semana ele completa 53. Seu "Crash" usa casuais acidentes de carro em Los Angeles como pretexto para promover várias trombadas de ordem moral entre personagens de diversas etnias e classes sociais. Ele fez carreira na TV e é o roteirista de "Menina de Ouro", vencedor como melhor filme em 2005, e também do próximo filme do Clint Eastwood, ainda inédito, "Flags of Our Fathers".
"Se há uma coisa que eu queria dizer [com o filme] é que nós, americanos, temos a tendência de julgar os fatos e as pessoas muito apressadamente. Queríamos que as pessoas dessem um passo atrás e esperassem cinco segundos antes de condenar alguém ou apontar o dedo para um país e tachá-lo de diabólico", disse o diretor.
Com o tema da tensão racial, "Crash" faz parte do rol de "filmes políticos", característica dominante deste Oscar 2006. Tão dominante que o cineasta francês Luc Jacquet, vencedor de melhor documentário, disse: ""A Marcha dos Pingüins" não é um filme político, mas esperamos que ele possa influenciar a geração que decidirá o futuro do planeta", afirmou.
O perfil sério dos concorrentes fez bem ao ego dos acadêmicos. "Tenho orgulho de pertencer a esta Academia", disse George Clooney, ao receber o Oscar de ator coadjuvante por um filme sobre a indústria do petróleo ("Syriana"). "Nós falamos sobre a Aids quando o assunto estava apenas sendo sussurrado e falamos de direitos civis quando o tema não era exatamente popular", lembrou Clooney. Mas os resultados de bilheteria dos longas sérios foram quase invariavelmente murchos.

Atriz fiel
Já Rachel Weisz garantiu o único Oscar -atriz coadjuvante- a "O Jardineiro Fiel", de Fernando Meirelles. À Folha, o diretor, que pensava em Eva Green ("Os Sonhadores") para o papel, falou sobre a escolha da atriz: "Quando ela [Weisz] soube que eu estava em Londres e ia começar a entrevistar atrizes, aproveitou uma folga nas filmagens de "Constantine", tomou um vôo de Los Angeles, chegou lá, fizemos um encontro de 45 minutos e voltou para o aeroporto. Depois me escreveu uma bela carta. Me impressionou sua determinação. Tem algo de Tessa [Quayle, personagem do livro de John Le Carré] aí. Ela é extremamente inteligente, fácil de trabalhar e dedicada. Fico feliz que este filme tenha servido para ela chegar aonde merece estar".


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