São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2008

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Crítica/"A Morte de George W. Bush"

Era Bush é ironizada em longa

Falso documentário de diretor britânico tem no enredo criação do "Ato Patriota 3", mais duro que os reais

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Visto hoje, 11 meses antes do fim do mandato de um dos piores presidentes da história dos Estados Unidos, "A Morte de George W. Bush" parece mais um exemplar do sempre reprovável ato de se chutar cachorro morto.
Quando foi lançado aqui -ou não foi lançado, tamanhas as dificuldades que recebeu nos EUA-, há dois anos, no entanto, era um exercício de coragem e ousadia.
No "mockumentary" -contração em inglês das palavras "mock", falso, e "documentary", documentário-, o diretor britânico Gabriel Range "registra" a tentativa de assassinato do presidente norte-americano durante manifestação de opositores no lado de fora do hotel Sheraton de Chicago, onde ele faria um discurso importante. Para tanto, mistura cenas reais do presidente a filmagem com atores.
O ato é pretexto para que a Casa Branca, agora com Dick Cheney no comando, force a passagem do "Ato Patriota 3", ainda mais bélico, chauvinista e restritivo às liberdades individuais que os dois verdadeiros que o antecederam.
A suposta medida ainda abre as comportas para que todas as forças envolvidas na investigação exerçam seus preconceitos adormecidos contra árabes. De quebra, toca no tema sempre atual da eficácia da tortura durante interrogatórios.
Mas a "realidade" é bem diferente -não estragarei a surpresa para o leitor, pois se trata de um filme que vale o ingresso-, e parece premonição de Range que ele tenha escolhido justamente Chicago, Illinois, como cenário, em 2005, num momento em que as pretensões de concorrer à Casa Branca do senador júnior por aquele Estado eram apenas um plano delineado por um grupo de assessores e políticos locais.

Ameaças
Pergunto a ele em entrevista por telefone se sofreu muita crítica, ameaça e sugestão de retaliação ao fazer o filme. "Recebi muito e-mail ameaçador, muita gente da indústria com medo de lidar comigo, mas não, não ouvi de Hollywood a frase "Você nunca mais trabalhará nessa cidade". E recebi a crítica com que todo cineasta sonha: do então porta-voz da Casa Branca [Ari Fleischer]."
Quero saber se ele faria o mesmo tipo de "mockumentary" em que o assunto fosse a morte do ex-primeiro-ministro Tony Blair, à frente do gabinete britânico quando ele fez esse filme, ou o atual, Gordon Brown. "Faria, e provavelmente os britânicos encarariam como comédia. Nós não temos essa mesma reverência a eles que os americanos têm em relação ao ocupante da presidência."
E sobre a rainha Elizabeth? "Ah, agora você me pegou.
Acho que aí seria mais complicado. Se eu fizesse -e eu não estou dizendo que faria-, provavelmente seria linchado na rua por parte das pessoas e elogiado por outra parte. Mas não farei outro filme nessa linha, de qualquer maneira."


A MORTE DE GEORGE W. BUSH
Produção:
Reino Unido, 2006
Direção: Gabriel Range
Com: Michael Rilley Burke, Hend Ayoub, Neko Parham
Onde: estréia hoje no cine Frei Caneca Unibanco Arteplex
Avaliação: bom


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