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Crítica/"A Morte de George W. Bush"
Era Bush é ironizada em longa
Falso documentário de diretor britânico tem no enredo criação do "Ato Patriota 3", mais duro que os reais
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Visto hoje, 11 meses antes do fim do mandato
de um dos piores presidentes da história dos Estados
Unidos, "A Morte de George W.
Bush" parece mais um exemplar do sempre reprovável ato
de se chutar cachorro morto.
Quando foi lançado aqui -ou
não foi lançado, tamanhas as
dificuldades que recebeu nos
EUA-, há dois anos, no entanto, era um exercício de coragem
e ousadia.
No "mockumentary" -contração em inglês das palavras
"mock", falso, e "documentary", documentário-, o diretor britânico Gabriel Range
"registra" a tentativa de assassinato do presidente norte-americano durante manifestação de opositores no lado de fora do hotel Sheraton de Chicago, onde ele faria um discurso
importante. Para tanto, mistura cenas reais do presidente a
filmagem com atores.
O ato é pretexto para que a
Casa Branca, agora com Dick
Cheney no comando, force a
passagem do "Ato Patriota 3",
ainda mais bélico, chauvinista e
restritivo às liberdades individuais que os dois verdadeiros
que o antecederam.
A suposta medida ainda abre
as comportas para que todas as
forças envolvidas na investigação exerçam seus preconceitos
adormecidos contra árabes. De
quebra, toca no tema sempre
atual da eficácia da tortura durante interrogatórios.
Mas a "realidade" é bem diferente -não estragarei a surpresa para o leitor, pois se trata de
um filme que vale o ingresso-,
e parece premonição de Range
que ele tenha escolhido justamente Chicago, Illinois, como
cenário, em 2005, num momento em que as pretensões de
concorrer à Casa Branca do senador júnior por aquele Estado
eram apenas um plano delineado por um grupo de assessores
e políticos locais.
Ameaças
Pergunto a ele em entrevista
por telefone se sofreu muita
crítica, ameaça e sugestão de
retaliação ao fazer o filme.
"Recebi muito e-mail ameaçador, muita gente da indústria
com medo de lidar comigo, mas
não, não ouvi de Hollywood a
frase "Você nunca mais trabalhará nessa cidade". E recebi a
crítica com que todo cineasta
sonha: do então porta-voz da
Casa Branca [Ari Fleischer]."
Quero saber se ele faria o
mesmo tipo de "mockumentary" em que o assunto fosse a
morte do ex-primeiro-ministro
Tony Blair, à frente do gabinete
britânico quando ele fez esse
filme, ou o atual, Gordon
Brown. "Faria, e provavelmente os britânicos encarariam como comédia. Nós não temos essa mesma reverência a eles que
os americanos têm em relação
ao ocupante da presidência."
E sobre a rainha Elizabeth?
"Ah, agora você me pegou.
Acho que aí seria mais complicado. Se eu fizesse -e eu não
estou dizendo que faria-, provavelmente seria linchado na
rua por parte das pessoas e elogiado por outra parte. Mas não
farei outro filme nessa linha, de
qualquer maneira."
A MORTE DE GEORGE W. BUSH
Produção: Reino Unido, 2006
Direção: Gabriel Range
Com: Michael Rilley Burke, Hend Ayoub, Neko Parham
Onde: estréia hoje no cine Frei Caneca Unibanco Arteplex
Avaliação: bom
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