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"Coleção Folha" traz Drummond neste domingo
"Sentimento do Mundo" confirma experimentação artística e retrata preocupações políticas e sociais do autor mineiro
Livro de 1940 se equipara ao melhor da poesia produzida no período; autor abriu mão do ritmo e da metáfora para privilegiar a argumentação
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1968, o crítico Otto Maria
Carpeaux justificou da seguinte maneira os debates apaixonados que corriam em torno da
obra de Carlos Drummond de
Andrade (1902-1987): "Não
passam de sintomas da forte influência exercida pela originalidade e personalidade do poeta,
hoje geralmente reconhecido
como o maior do Brasil".
Passados 40 anos, a afirmação de Carpeaux continua válida. Desde o lançamento de "Alguma Poesia", em 1930, Drummond firmou-se como figura
central nas discussões acerca
da modernidade no país.
"Sentimento do Mundo"
(1940), quarto volume da coleção "Coleção Folha Grandes
Escritores Brasileiros", representa, neste sentido, não só
uma confirmação dos procedimentos modernos na poesia de
Drummond, como um acirramento de suas preocupações
sociais e políticas.
Era sombria
Num período em que, no
Brasil, vivia-se sob a ditadura
do Estado Novo e, no cenário
internacional, eclodia a Segunda Guerra, o poeta falava de
uma era sombria, sobre a qual
descerrava a noite que o impedia de ver seus irmãos.
Trata-se de uma realidade
opressiva que, embora se afigurasse decrépita, também lhe
parecia demasiado grande:
"Não, meu coração não é maior
do que o mundo. É muito menor." Mas é justamente essa
condição que impele o poeta à
expressão: "Nele não cabem
nem as minhas dores. Por isso
gosto tanto de me contar."
Nessa procura por saídas
diante das contradições do
mundo, o poeta sublinhou a
importância de se aliar à vida e
ao tempo presente: "Não serei
o poeta de um mundo caduco./
Também não cantarei o mundo
futuro. [...] O tempo é a minha
matéria, o tempo presente, os
homens presentes,/ a vida presente."
A antilírica drummondiana
abre mão de recursos tradicionais como o ritmo e a metáfora
em favor de uma poética baseada no movimento objetivo das
idéias e da argumentação lógica. O resultado é uma poesia
irônica e despojada, em que os
valores privados identificam-se
com os valores coletivos, uma
poesia que se funda no presente - não no presente eterno da
lírica, mas no presente da hora,
do homem e da revolução.
Eis a força extraordinária
que emana deste livro excepcional em todos os sentidos,
coerente com o posicionamento político do poeta e com o radicalismo de sua experimentação artística. Trata-se de uma
obra que ombreia com o melhor que se produzia na poesia
internacional daquele período
- do chileno Pablo Neruda ao
inglês W. H. Auden -, e que não
perdeu a atualidade.
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