São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2008

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"Coleção Folha" traz Drummond neste domingo

"Sentimento do Mundo" confirma experimentação artística e retrata preocupações políticas e sociais do autor mineiro

Livro de 1940 se equipara ao melhor da poesia produzida no período; autor abriu mão do ritmo e da metáfora para privilegiar a argumentação

DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1968, o crítico Otto Maria Carpeaux justificou da seguinte maneira os debates apaixonados que corriam em torno da obra de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): "Não passam de sintomas da forte influência exercida pela originalidade e personalidade do poeta, hoje geralmente reconhecido como o maior do Brasil".
Passados 40 anos, a afirmação de Carpeaux continua válida. Desde o lançamento de "Alguma Poesia", em 1930, Drummond firmou-se como figura central nas discussões acerca da modernidade no país.
"Sentimento do Mundo" (1940), quarto volume da coleção "Coleção Folha Grandes Escritores Brasileiros", representa, neste sentido, não só uma confirmação dos procedimentos modernos na poesia de Drummond, como um acirramento de suas preocupações sociais e políticas.

Era sombria
Num período em que, no Brasil, vivia-se sob a ditadura do Estado Novo e, no cenário internacional, eclodia a Segunda Guerra, o poeta falava de uma era sombria, sobre a qual descerrava a noite que o impedia de ver seus irmãos.
Trata-se de uma realidade opressiva que, embora se afigurasse decrépita, também lhe parecia demasiado grande: "Não, meu coração não é maior do que o mundo. É muito menor." Mas é justamente essa condição que impele o poeta à expressão: "Nele não cabem nem as minhas dores. Por isso gosto tanto de me contar."
Nessa procura por saídas diante das contradições do mundo, o poeta sublinhou a importância de se aliar à vida e ao tempo presente: "Não serei o poeta de um mundo caduco./ Também não cantarei o mundo futuro. [...] O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,/ a vida presente."
A antilírica drummondiana abre mão de recursos tradicionais como o ritmo e a metáfora em favor de uma poética baseada no movimento objetivo das idéias e da argumentação lógica. O resultado é uma poesia irônica e despojada, em que os valores privados identificam-se com os valores coletivos, uma poesia que se funda no presente - não no presente eterno da lírica, mas no presente da hora, do homem e da revolução.
Eis a força extraordinária que emana deste livro excepcional em todos os sentidos, coerente com o posicionamento político do poeta e com o radicalismo de sua experimentação artística. Trata-se de uma obra que ombreia com o melhor que se produzia na poesia internacional daquele período - do chileno Pablo Neruda ao inglês W. H. Auden -, e que não perdeu a atualidade.


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