São Paulo, sábado, 07 de março de 2009

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LIVROS

Romance conta história de jovem morta pelo PCB

Autor une jornalismo e ficção e conta como Elza Fernandes teve a sorte selada por Prestes

Em "Elza, a Garota", Sérgio Rodrigues usa documentos sobre a adolescente, morta em 1936, e também cria personagem em torno dela

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Elvira Cupello Calônio era a mulher errada na hora errada. Tinha apenas 16 anos e o codinome Elza Fernandes quando, no início de 1936, foi morta por decisão da cúpula do Partido Comunista do Brasil, Luiz Carlos Prestes incluído, sob suspeita de traição.
Despolitizada, fora jogada no olho do furacão da chamada Intentona Comunista por ser namorada de Antônio Maciel Bonfim, o Miranda, secretário-geral do PCB que apostou no natimorto movimento, reprimido com intensidade por Getúlio Vargas em 1935. "Elza, a Garota", que chega às livrarias no próximo dia 16, conta essa história sem se pretender um livro de história. O jornalista e escritor Sérgio Rodrigues, 46, partiu das poucas e por vezes contraditórias informações a respeito de Elza para combinar ficção e reportagem.
"Com o andamento da pesquisa, foi ficando claro que, se fosse um livro de reportagem, teria muito poucos elementos sobre a figura principal", justifica ele, que encontrou pastas sobre Elza vazias em arquivos públicos e não localizou em Sorocaba o registro de nascimento dela, confiando na versão dos 16 anos (há a dos 21) em função de outros documentos.
"Eu comecei a gostar da ideia de fazer uma ficção, de tentar misturar as duas linguagens de uma maneira não muito previsível, que não tivesse sido feita no velho romance-reportagem. Comecei a achar que a ficção poderia jogar luz na história e que a história poderia ajudar a sustentar a ficção", diz.
Rodrigues decidiu alternar os dois tipos de narrativa. Em itálico, aparece a busca por informações. Em corpo normal, acompanha-se a vida do jornalista e escritor Molina, contratado por um certo Xerxes para escrever um livro sobre Elza e o fracasso da Intentona.
Xerxes foi apaixonado por Elza. Mas, no final, descobre-se que há um fundo falso nesse mote. "Elza era uma personagem meio fria, a história é velha. Ao criar um homem que a teria agarrado no Passeio Público [do Rio], foi um pouco como perder o respeito. Ela virou uma pessoa ali", afirma o autor.

Stalinismo
Rodrigues se valeu em especial de um depoimento dado a ele por Sara Becker, militante que a conheceu. O perfil é de uma interiorana analfabeta que não sabia onde estava se metendo. "Ela ocupa um lugar interessante em termos históricos. É uma vítima do stalinismo, talvez a maior no Brasil." Até Prestes reconheceu que foi um erro matá-la, mas atribuía a decisão ao partido.
No entanto, carta sua de 19 de fevereiro de 1936 enviada a Honório de Freitas Guimarães, o Martins, deixa clara a pressão que estava fazendo pela execução de Elza. Ela acontece dias depois, por estrangulamento, numa ação de cinco homens.


ELZA, A GAROTA
Autor: Sérgio Rodrigues
Editora: Nova Fronteira
Quanto: R$ 29,90 (240 págs.)



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