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LIVROS
Romance conta história de jovem morta pelo PCB
Autor une jornalismo e ficção e conta como Elza Fernandes teve a sorte selada por Prestes
Em "Elza, a Garota", Sérgio
Rodrigues usa documentos
sobre a adolescente, morta
em 1936, e também cria
personagem em torno dela
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Elvira Cupello Calônio era a
mulher errada na hora errada.
Tinha apenas 16 anos e o codinome Elza Fernandes quando,
no início de 1936, foi morta por
decisão da cúpula do Partido
Comunista do Brasil, Luiz Carlos Prestes incluído, sob suspeita de traição.
Despolitizada, fora jogada no
olho do furacão da chamada Intentona Comunista por ser namorada de Antônio Maciel
Bonfim, o Miranda, secretário-geral do PCB que apostou no
natimorto movimento, reprimido com intensidade por Getúlio Vargas em 1935.
"Elza, a Garota", que chega às
livrarias no próximo dia 16,
conta essa história sem se pretender um livro de história. O
jornalista e escritor Sérgio Rodrigues, 46, partiu das poucas e
por vezes contraditórias informações a respeito de Elza para
combinar ficção e reportagem.
"Com o andamento da pesquisa, foi ficando claro que, se
fosse um livro de reportagem,
teria muito poucos elementos
sobre a figura principal", justifica ele, que encontrou pastas
sobre Elza vazias em arquivos
públicos e não localizou em Sorocaba o registro de nascimento dela, confiando na versão dos
16 anos (há a dos 21) em função
de outros documentos.
"Eu comecei a gostar da ideia
de fazer uma ficção, de tentar
misturar as duas linguagens de
uma maneira não muito previsível, que não tivesse sido feita
no velho romance-reportagem.
Comecei a achar que a ficção
poderia jogar luz na história e
que a história poderia ajudar a
sustentar a ficção", diz.
Rodrigues decidiu alternar
os dois tipos de narrativa. Em
itálico, aparece a busca por informações. Em corpo normal,
acompanha-se a vida do jornalista e escritor Molina, contratado por um certo Xerxes para
escrever um livro sobre Elza e o
fracasso da Intentona.
Xerxes foi apaixonado por
Elza. Mas, no final, descobre-se
que há um fundo falso nesse
mote. "Elza era uma personagem meio fria, a história é velha. Ao criar um homem que a
teria agarrado no Passeio Público [do Rio], foi um pouco como perder o respeito. Ela virou
uma pessoa ali", afirma o autor.
Stalinismo
Rodrigues se valeu em especial de um depoimento dado a
ele por Sara Becker, militante
que a conheceu. O perfil é de
uma interiorana analfabeta que
não sabia onde estava se metendo. "Ela ocupa um lugar interessante em termos históricos. É uma vítima do stalinismo, talvez a maior no Brasil."
Até Prestes reconheceu que
foi um erro matá-la, mas atribuía a decisão ao partido.
No
entanto, carta sua de 19 de fevereiro de 1936 enviada a Honório de Freitas Guimarães, o
Martins, deixa clara a pressão
que estava fazendo pela execução de Elza. Ela acontece dias
depois, por estrangulamento,
numa ação de cinco homens.
ELZA, A GAROTA
Autor: Sérgio Rodrigues
Editora: Nova Fronteira
Quanto: R$ 29,90 (240 págs.)
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