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Artistas interpretam catástrofes climáticas
Mostra na Oca reúne fotos e vídeos com visões apocalípticas do futuro do planeta
Com curadoria de Alfons Hug, exposição serve de prévia para a Bienal do Fim do Mundo, que começa em abril, na Terra do Fogo (Argentina)
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma torre de dez toneladas
de gelo começa a derreter hoje
na Oca. A intervenção na coletiva "Intempéries", com obras de
30 artistas, deve transformar o
subsolo do prédio no Ibirapuera num espelho d'água -e rápido, se o calor que vem sufocando São Paulo não se dissipar.
Os termômetros em ebulição
na cidade e as nevascas que têm
paralisado o hemisfério norte
servem, aliás, de prelúdio irônico, senão trágico, à mostra que
tenta lançar um olhar artístico
aos fenômenos climáticos -é
uma prévia da Bienal do Fim do
Mundo, que começa em abril,
na gélida Terra do Fogo, ponto
no extremo sul da Argentina.
Enquanto na agora escaldante São Paulo, o subsolo da Oca
vai virando piscina, também
ganham vulto as ondas na baía
de Guanabara, retratada por
Thiago Rocha Pitta. No vídeo,
as ondas azuis abraçam um bote reluzente à distância, e a luz
do sol vira escuridão repentina.
"Cada vez mais me convenço
de que gosto do sobrenatural",
afirma Rocha Pitta, 28. "Mas
minha pegada é mais poética do
que qualquer denúncia."
Essa ambivalência marca os
trabalhos na mostra, que hesitam entre se assumir como
obra panfletária, arriscando semelhanças com documentários
do Discovery, cheios de letárgicas geleiras se despedaçando, e
focar em aspectos formais, revestindo de um verniz estetizante as tais intempéries.
Em Rocha Pitta, o verniz vem
da literatura: um conto de Joseph Conrad sobre a primeira
noite de um capitão num navio.
Na mesma pegada náutica, o
britânico Simon Faithfull registra o que restou da estação
baleeira de South Georgia, na
costa antártica. Antes um entreposto comercial que abastecia a Europa com óleo de baleia,
combustível usado até na iluminação pública de Londres, a
ilha foi tomada por milhares de
focas, que ocupam as fábricas.
"É uma visão do mundo depois que não estivermos mais
aqui", descreve Faithfull, 42. "É
o lugar mais estranho que já vi
na vida, cheio de animais e o barulho ensurdecedor deles."
Longe do ruído, o alemão Michael Sailstorfer sugere outra
visão apocalíptica. Uma pequena casa de campo é destruída,
com suas portas, janelas e paredes queimadas na própria lareira, até não sobrar nada, só a fumaça preta no céu -imagem
que lembra as nuvens metafísicas de Giorgio De Chirico- e
pilhas de cinzas no chão.
"Tem a ver com vida e morte,
o uso total dos recursos e do
tempo", diz Sailstorfer, 30. "É
metafórico e sarcástico."
Também corrosivo, o vídeo
de Reynold Reynolds mostra os
moradores de uma casa em
chamas, que parecem não se
importar muito com as labaredas que consomem móveis e
roupas. De quebra, o coreano
Shin Kiwoun tritura um relógio, numa contagem dos segundos que restam antes do fim.
INTEMPÉRIES
Quando: abertura hoje, às 11h; de
ter. a sex., das 14h às 20h, sáb. e
dom., das 10h às 20h; até 12/4
Onde: Oca (pq. Ibirapuera, portão 3,
tel. 0/xx/11/3081-0113); livre
Quanto: entrada franca
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