São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2000


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CINEMA ESTRÉIAS
Kevin Costner desanca estúdio de "Por Amor"

CLÁUDIO CASTILHO
especial para a Folha, em Los Angeles

Kevin Costner, protagonista de "Por Amor", filme de Sam Raimi que estréia hoje, anda irado. O ator, que no início dos 90 era considerado o maior astro sexy de Hollywood, hoje não esconde seu desapontamento com a máquina que lhe deu fama e fortuna.
Desde "Dança com Lobos", que lhe garantiu o Oscar de melhor diretor e uma indicação a melhor ator em 91, poucos filmes foram gratificantes para Costner.
"Por Amor" levou Costner a desacordos com a Universal (mesmo estúdio de "Waterworld", exemplo mais controverso de sua carreira). Segundo o ator, a razão da discórdia foi o corte imposto pelo estúdio de cenas que ele julgava essenciais.
"Cortaram as cenas para permitir que crianças de 10 anos assistissem ao filme, para garantir mais dinheiro", protestou Costner, em entrevista à Folha.
O ator disse apenas que as cenas cortadas eram "importantes diálogos entre homem e mulher", ou melhor, conversas entre seu personagem -o jogador de beisebol Billy Chapel, que, aos 40, vê sua carreira ameaçada-e sua namorada Jane (Kelly Preston).
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida à Folha, em que Costner expressa sua insatisfação com relação à versão final de "Por Amor".

Folha - Esse é o terceiro filme de sua carreira sobre beisebol. O sr. é fã do esporte?
Kevin Costner -
Já fui mais. Não fiz esse filme por causa do beisebol, mas por seus incríveis diálogos entre homem e mulher.

Folha - Em que o sr. se identifica com seu personagem?
Costner -
Ambos experimentaram a fama e estão na mesma faixa etária. Isso me faz refletir bastante. Billy atingiu o ápice e, de uma hora para outra, é colocado de escanteio. Ele não vê outra saída senão desistir de tudo que conquistou em anos de dedicação. Decisão difícil para qualquer um.

Folha - E se o sr. tivesse de abrir mão de sua profissão?
Costner -
Se tivesse de desistir de minha carreira por insatisfação com os estúdios, ou por causa da maneira como os filmes são feitos, ficaria triste, mas nem sempre há alternativa. Às vezes penso que poderia ter feito coisas de maneira diferente. Mas sem olhar para trás se vai rumo ao futuro.

Folha - Se pudesse voltar ao passado, falaria menos?
Costner -
Acho que falo até pouco. Os estúdios têm sorte. Eles deveriam se responsabilizar por todos os erros que cometem. Danem-se eles! Eles deram "Por Amor" como morto um ano antes da estréia. Diziam que jamais faria US$ 40 milhões, por ser um filme de beisebol, sem chances de atrair o mercado internacional, um filme para adultos, isso e aquilo. Abri mão de meu salário para baixar o orçamento e, no fim, cortaram cenas importantíssimas.

Folha - Não foram seus primeiros problemas com estúdios.
Costner -
Vou lhe contar o que houve com "Waterworld": o estúdio gastou uma fortuna na mais cara produção cinematográfica da história. Chamaram Kevin Reynolds para dirigi-lo e não o apoiaram quando os problemas surgiram. Acharam que ele não tinha condição de fazer o que queriam e me pediram para tomar a frente do projeto. Sabia que teria problemas com Kevin, mas concordei que filme tão caro não podia ser abandonado. Fui fiel ao projeto, que acabou fazendo quase US$ 400 milhões em bilheteria, detalhe ignorado pela imprensa.

Folha - "O Guarda-Costas" foi um blockbuster. Houve algum problema sério com ele?
Costner -
"O Guarda-Costas" é um filme muito comercial, mas bem-feito. Em testes, teve só 65 pontos de aprovação. Esperavam de 80 a 90 pontos. O estúdio, insatisfeito, pediu minha ajuda. Consegui o papel para Whitney Houston, e o filme estourou. Sabe por que essa história não veio à tona? Porque todos, inclusive o diretor, fizeram uma fortuna com o filme. Já "Por Amor" foi superbem nos testes antes dos cortes, mas, mesmo assim, houve mudanças.

Folha - Quais foram os cortes?
Costner -
Apenas uns diálogos não muito importantes -para eles. Se esticam ou cortam cenas de um filme por pensarem que não sou mais o garoto de ouro de antes, não estou nem aí. Só sei que cometeram um tremendo erro.


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