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CINEMA ESTRÉIAS
Kevin Costner desanca estúdio de "Por Amor"
CLÁUDIO CASTILHO
especial para a Folha, em Los Angeles
Kevin Costner, protagonista de
"Por Amor", filme de Sam Raimi
que estréia hoje, anda irado. O
ator, que no início dos 90 era considerado o maior astro sexy de
Hollywood, hoje não esconde seu
desapontamento com a máquina
que lhe deu fama e fortuna.
Desde "Dança com Lobos", que
lhe garantiu o Oscar de melhor
diretor e uma indicação a melhor
ator em 91, poucos filmes foram
gratificantes para Costner.
"Por Amor" levou Costner a
desacordos com a Universal
(mesmo estúdio de "Waterworld", exemplo mais controverso de sua carreira). Segundo o
ator, a razão da discórdia foi o
corte imposto pelo estúdio de cenas que ele julgava essenciais.
"Cortaram as cenas para permitir que crianças de 10 anos assistissem ao filme, para garantir
mais dinheiro", protestou Costner, em entrevista à Folha.
O ator disse apenas que as cenas
cortadas eram "importantes diálogos entre homem e mulher", ou
melhor, conversas entre seu personagem -o jogador de beisebol
Billy Chapel, que, aos 40, vê sua
carreira ameaçada-e sua namorada Jane (Kelly Preston).
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida à
Folha, em que Costner expressa
sua insatisfação com relação à
versão final de "Por Amor".
Folha - Esse é o terceiro filme
de sua carreira sobre beisebol.
O sr. é fã do esporte?
Kevin Costner - Já fui mais. Não
fiz esse filme por causa do beisebol, mas por seus incríveis diálogos entre homem e mulher.
Folha - Em que o sr. se identifica com seu personagem?
Costner - Ambos experimentaram a fama e estão na mesma faixa etária. Isso me faz refletir bastante. Billy atingiu o ápice e, de
uma hora para outra, é colocado
de escanteio. Ele não vê outra saída senão desistir de tudo que conquistou em anos de dedicação.
Decisão difícil para qualquer um.
Folha - E se o sr. tivesse de
abrir mão de sua profissão?
Costner - Se tivesse de desistir
de minha carreira por insatisfação com os estúdios, ou por causa
da maneira como os filmes são
feitos, ficaria triste, mas nem sempre há alternativa. Às vezes penso
que poderia ter feito coisas de maneira diferente. Mas sem olhar para trás se vai rumo ao futuro.
Folha - Se pudesse voltar ao
passado, falaria menos?
Costner - Acho que falo até
pouco. Os estúdios têm sorte. Eles
deveriam se responsabilizar por
todos os erros que cometem. Danem-se eles! Eles deram "Por
Amor" como morto um ano antes
da estréia. Diziam que jamais faria US$ 40 milhões, por ser um filme de beisebol, sem chances de
atrair o mercado internacional,
um filme para adultos, isso e aquilo. Abri mão de meu salário para
baixar o orçamento e, no fim, cortaram cenas importantíssimas.
Folha - Não foram seus primeiros problemas com estúdios.
Costner - Vou lhe contar o que
houve com "Waterworld": o estúdio gastou uma fortuna na mais
cara produção cinematográfica
da história. Chamaram Kevin
Reynolds para dirigi-lo e não o
apoiaram quando os problemas
surgiram. Acharam que ele não tinha condição de fazer o que queriam e me pediram para tomar a
frente do projeto. Sabia que teria
problemas com Kevin, mas concordei que filme tão caro não podia ser abandonado. Fui fiel ao
projeto, que acabou fazendo quase US$ 400 milhões em bilheteria,
detalhe ignorado pela imprensa.
Folha - "O Guarda-Costas" foi
um blockbuster. Houve algum
problema sério com ele?
Costner - "O Guarda-Costas" é
um filme muito comercial, mas
bem-feito. Em testes, teve só 65
pontos de aprovação. Esperavam
de 80 a 90 pontos. O estúdio, insatisfeito, pediu minha ajuda. Consegui o papel para Whitney Houston, e o filme estourou. Sabe por
que essa história não veio à tona?
Porque todos, inclusive o diretor,
fizeram uma fortuna com o filme.
Já "Por Amor" foi superbem nos
testes antes dos cortes, mas, mesmo assim, houve mudanças.
Folha - Quais foram os cortes?
Costner - Apenas uns diálogos
não muito importantes -para
eles. Se esticam ou cortam cenas
de um filme por pensarem que
não sou mais o garoto de ouro de
antes, não estou nem aí. Só sei que
cometeram um tremendo erro.
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