São Paulo, sábado, 07 de abril de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Lenora de Barros convida a reexperimentar o novo

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE ESPECIAIS

"What's New, Pussycat?" é o nome de um cultuado filme dos anos 60 (no Brasil, "O Que Há de Novo, Gatinha?"). É como se chama também a música-tema de Burt Bacharat que inspirou o título da exposição de Lenora de Barros, "O Que Há de Novo, de Novo, Pussyquete?".
O título é pura provocação, com seu jeito de estribilho pop. Por um lado, ele esvazia, com a repetição, o conceito de "novo". Por outro, ao fazer a palavra repicar sonoramente na frase, transforma a interrogação em apelo sarcástico. Um mecanismo e outro liberam a palavra "novo" -densa, neurótica, aflitiva- para uma circulação coloquial, leve e sem traumas.
A exposição atual na galeria Millan amplia indagações desenvolvidas no limite entre as artes plásticas e a poesia visual por Lenora de Barros em sua primeira individual, em Milão (1990), e na exposição "Ping Poems para Boris", em São Paulo (2000).
Nesta, o futurismo russo oficiava o fundamento construtivo do trabalho da artista. Agora, as peças estão livres das cores folclóricas do movimento -o vermelho e o preto-, e o branco dominante anula a sensação de nostalgia. A unidade dos materiais garante a coesão dos dispositivos poéticos, enfatizados pelo vídeo de Grima Grimaldi, com trilha de Cid Campos e Marcos Augusto Gonçalves.
A mostra é estruturada a partir da possibilidade de produzir atritos entre coisas e conceitos, por meio de jogos visuais, escritos e sonoros. A essa forma-jogo, construída sobretudo com raquetes e inúmeras bolas de pingue-pongue, Lenora deu o nome de "pussyquete", neologismo que tem tanto de linguagem infantil quanto de conotação sexual.
Associar arte e jogo é um grande risco. Com frequência, este se antepõe àquela, e o entretenimento recobre a elaboração de uma experiência detida e singular. Não é o que ocorre nesta mostra.
O "novo, de novo" de Lenora é um convite para que a obra seja experimentada como permanente "co-produção" de sentidos e sintaxes. O novo não está à nossa espera: ele se materializa tão logo reafirmamos nossa disponibilidade integral para a partida.
Raquetes presas em plásticos transparentes exibem a esterilidade do não-jogo. Baús em que cadeados vedam a manipulação do conteúdo ironizam a autonomia da obra. "Dividir imagens, multiplicar idéias", defende um dos trabalhos desta mostra, que firma Lenora como uma das artistas mais interessantes de sua geração.



Lenora de Barros
    
Onde: galeria Millan (r. Estados Unidos, 1.581, região sudoeste, tel. 3062-5722)
Quando: último dia, das 11h às 14h




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