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ARTES PLÁSTICAS
Lenora de Barros convida a reexperimentar o novo
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE ESPECIAIS
"What's New, Pussycat?"
é o nome de um cultuado filme dos anos 60 (no Brasil,
"O Que Há de Novo, Gatinha?").
É como se chama também a música-tema de Burt Bacharat que
inspirou o título da exposição de
Lenora de Barros, "O Que Há de
Novo, de Novo, Pussyquete?".
O título é pura provocação, com
seu jeito de estribilho pop. Por um
lado, ele esvazia, com a repetição,
o conceito de "novo". Por outro,
ao fazer a palavra repicar sonoramente na frase, transforma a interrogação em apelo sarcástico.
Um mecanismo e outro liberam a
palavra "novo" -densa, neurótica, aflitiva- para uma circulação
coloquial, leve e sem traumas.
A exposição atual na galeria Millan amplia indagações desenvolvidas no limite entre as artes plásticas e a poesia visual por Lenora
de Barros em sua primeira individual, em Milão (1990), e na exposição "Ping Poems para Boris",
em São Paulo (2000).
Nesta, o futurismo russo oficiava o fundamento construtivo do
trabalho da artista. Agora, as peças estão livres das cores folclóricas do movimento -o vermelho
e o preto-, e o branco dominante anula a sensação de nostalgia. A
unidade dos materiais garante a
coesão dos dispositivos poéticos,
enfatizados pelo vídeo de Grima
Grimaldi, com trilha de Cid Campos e Marcos Augusto Gonçalves.
A mostra é estruturada a partir
da possibilidade de produzir atritos entre coisas e conceitos, por
meio de jogos visuais, escritos e
sonoros. A essa forma-jogo, construída sobretudo com raquetes e
inúmeras bolas de pingue-pongue, Lenora deu o nome de
"pussyquete", neologismo que
tem tanto de linguagem infantil
quanto de conotação sexual.
Associar arte e jogo é um grande
risco. Com frequência, este se antepõe àquela, e o entretenimento
recobre a elaboração de uma experiência detida e singular. Não é
o que ocorre nesta mostra.
O "novo, de novo" de Lenora é
um convite para que a obra seja
experimentada como permanente "co-produção" de sentidos e
sintaxes. O novo não está à nossa
espera: ele se materializa tão logo
reafirmamos nossa disponibilidade integral para a partida.
Raquetes presas em plásticos
transparentes exibem a esterilidade do não-jogo. Baús em que cadeados vedam a manipulação do
conteúdo ironizam a autonomia
da obra. "Dividir imagens, multiplicar idéias", defende um dos
trabalhos desta mostra, que firma
Lenora como uma das artistas
mais interessantes de sua geração.
Lenora de Barros
Onde: galeria Millan (r. Estados Unidos,
1.581, região sudoeste, tel. 3062-5722)
Quando: último dia, das 11h às 14h
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