|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Primeiro conto do criador de Sherlock Holmes, recusado em 1877, enfim é publicado
Um Conan Doyle elementar
"The Haunted Grange of Goresthorpe" traz "embriões" dos personagens Holmes e Watson
LEONARDO CRUZ
DE LONDRES
Em 1877, o jovem Arthur Conan
Doyle deixou de lado suas aulas
de anatomia na Universidade de
Edimburgo para redigir o conto
de horror "The Haunted Grange
of Goresthorpe" (A Fazenda assombrada de Goresthorpe). Finalizada a tarefa, o então estudante
de medicina de 18 anos enviou
suas 24 páginas manuscritas para
avaliação dos editores da revista
literária "Blackwood", que consideraram o trabalho indigno de
publicação.
Esse conto de horror, considerado o primeiro texto ficcional do
criador do detetive Sherlock Holmes, acaba de ser publicado pela
primeira vez pela Sociedade Conan Doyle, entidade com base no
Canadá que divulga a obra do autor escocês (1859-1930).
"O texto mostra os primeiros
traços de um autor em formação,
que começa a desenvolver seu estilo", disse à Folha Ian McGowan,
diretor da Biblioteca Nacional da
Escócia, onde a estréia literária de
Conan Doyle estava guardada
desde 1942. Nesse ano, todo o
acervo da "Blackwood" foi doado
à biblioteca, e o conto esquecido
de Conan Doyle, redescoberto.
Por mais de 50 anos, a publicação de "The Haunted Grange of
Goresthorpe" fora proibida por
Jean, filha do escritor, que dizia
que o texto, extremamente imaturo, prejudicaria a imagem de seu
pai.
Após a morte de Jean, em 1997,
a Sociedade Conan Doyle conseguiu convencer os herdeiros da
obra do escritor a permitir a publicação do conto, que sai em edição especial de 500 exemplares,
em capa dura, por cerca de R$ 70.
"Tinha esse projeto havia dez
anos. Finalmente a família de
Doyle percebeu a importância da
divulgação do texto", avalia
Christopher Roden, fundador da
sociedade. Já foram vendidas 400
cópias do conto e uma nova edição está sendo preparada.
A história
"The Haunted Grange of Goresthorpe" retrata o encontro que
dois amigos, Jack e Tom, têm com
um fantasma, durante uma noite
em uma casa abandonada.
Segundo Ian McGowan, "os
personagens possuem elementos
claros" dos dois personagens
mais famosos de Conan Doyle: o
detetive Sherlock Holmes e seu
parceiro Watson, que só apareceriam na obra do escocês em 1887,
no romance "Um Estudo em Vermelho".
Para o diretor da biblioteca escocesa, "o narrador Jack é romântico e emotivo, como Watson, e
seu amigo Tom fuma cachimbo,
sempre se mostra cético e busca
analisar os fatos racionalmente,
como Holmes".
"Creio que o conto esclarece um
pouco como foi o processo de
surgimento de Watson e Holmes", avalia Christopher Roden,
canadense de origem britânica.
Roden fundou sua sociedade em
1989 para "divulgar a obra de Conan Doyle e incentivar pesquisas
sobre o autor". Hoje, a Sociedade
Conan Doyle tem mais de 300 associados, que participam de grupos de discussão.
O principal veículo de comunicação é um jornal semestral batizado com as iniciais do escritor.
Com cerca de cem páginas, o
"ACD" já publicou cartas trocadas entre Conan Doyle e o crítico
inglês Bernard Shaw, pequenos
contos do criador de Sherlock
Holmes e, obviamente, artigos
analíticos sobre seus escritos.
A sociedade possui também um
site na Internet, que explica os
procedimentos para quem quiser
se associar. Pelo endereço
www.ash-tree.bc.ca/acdsocy.
html, é possível obter informações biográficas sobre Conan
Doyle e ler alguns de seus contos.
O site também recebe pedidos
de encomendas de publicações,
como a própria edição especial de
"The Haunted Grange of Goresthorpe".
Texto Anterior: Fotografia: Mostra flagra o (in)visível dos ianomâmis Próximo Texto: Trecho Índice
|