São Paulo, sábado, 07 de abril de 2001

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Primeiro conto do criador de Sherlock Holmes, recusado em 1877, enfim é publicado

Um Conan Doyle elementar

"The Haunted Grange of Goresthorpe" traz "embriões" dos personagens Holmes e Watson
LEONARDO CRUZ
DE LONDRES

Em 1877, o jovem Arthur Conan Doyle deixou de lado suas aulas de anatomia na Universidade de Edimburgo para redigir o conto de horror "The Haunted Grange of Goresthorpe" (A Fazenda assombrada de Goresthorpe). Finalizada a tarefa, o então estudante de medicina de 18 anos enviou suas 24 páginas manuscritas para avaliação dos editores da revista literária "Blackwood", que consideraram o trabalho indigno de publicação.
Esse conto de horror, considerado o primeiro texto ficcional do criador do detetive Sherlock Holmes, acaba de ser publicado pela primeira vez pela Sociedade Conan Doyle, entidade com base no Canadá que divulga a obra do autor escocês (1859-1930).
"O texto mostra os primeiros traços de um autor em formação, que começa a desenvolver seu estilo", disse à Folha Ian McGowan, diretor da Biblioteca Nacional da Escócia, onde a estréia literária de Conan Doyle estava guardada desde 1942. Nesse ano, todo o acervo da "Blackwood" foi doado à biblioteca, e o conto esquecido de Conan Doyle, redescoberto.
Por mais de 50 anos, a publicação de "The Haunted Grange of Goresthorpe" fora proibida por Jean, filha do escritor, que dizia que o texto, extremamente imaturo, prejudicaria a imagem de seu pai.
Após a morte de Jean, em 1997, a Sociedade Conan Doyle conseguiu convencer os herdeiros da obra do escritor a permitir a publicação do conto, que sai em edição especial de 500 exemplares, em capa dura, por cerca de R$ 70. "Tinha esse projeto havia dez anos. Finalmente a família de Doyle percebeu a importância da divulgação do texto", avalia Christopher Roden, fundador da sociedade. Já foram vendidas 400 cópias do conto e uma nova edição está sendo preparada.

A história
"The Haunted Grange of Goresthorpe" retrata o encontro que dois amigos, Jack e Tom, têm com um fantasma, durante uma noite em uma casa abandonada.
Segundo Ian McGowan, "os personagens possuem elementos claros" dos dois personagens mais famosos de Conan Doyle: o detetive Sherlock Holmes e seu parceiro Watson, que só apareceriam na obra do escocês em 1887, no romance "Um Estudo em Vermelho".
Para o diretor da biblioteca escocesa, "o narrador Jack é romântico e emotivo, como Watson, e seu amigo Tom fuma cachimbo, sempre se mostra cético e busca analisar os fatos racionalmente, como Holmes".
"Creio que o conto esclarece um pouco como foi o processo de surgimento de Watson e Holmes", avalia Christopher Roden, canadense de origem britânica. Roden fundou sua sociedade em 1989 para "divulgar a obra de Conan Doyle e incentivar pesquisas sobre o autor". Hoje, a Sociedade Conan Doyle tem mais de 300 associados, que participam de grupos de discussão.
O principal veículo de comunicação é um jornal semestral batizado com as iniciais do escritor. Com cerca de cem páginas, o "ACD" já publicou cartas trocadas entre Conan Doyle e o crítico inglês Bernard Shaw, pequenos contos do criador de Sherlock Holmes e, obviamente, artigos analíticos sobre seus escritos.
A sociedade possui também um site na Internet, que explica os procedimentos para quem quiser se associar. Pelo endereço www.ash-tree.bc.ca/acdsocy. html, é possível obter informações biográficas sobre Conan Doyle e ler alguns de seus contos.
O site também recebe pedidos de encomendas de publicações, como a própria edição especial de "The Haunted Grange of Goresthorpe".


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