São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2008

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Baú digital

O conceituado site de música Pitchfork lança hoje seu canal de TV on-line, em que busca ir "além da MTV' com produção própria e vídeos raros dos anos 80 e 90

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

A força com que a MTV surgiu nos anos 80 foi avassaladora e passageira. Encarcerados na grade de programação, os videoclipes tinham tanta eficiência quanto o horário político para segurar o ibope. O cenário em que o conceituado site de música Pitchfork (www.pitchfork.com) abriga a partir de hoje sua TV on-line é bem mais acolhedor -e livre de rédeas.
Centrada na produção independente, a Pitchfork.TV (www.pitchfork.tv) pretende inclusive corrigir uma "injustiça" histórica: o seu acervo de videoclipes incluirá trabalhos de bandas que, nas décadas de 80 e 90, não cabiam nos padrões da "music television".
Esse material, e também de bandas novas, vem chegando às mãos de Ryan Schreiber, criador e editor do Pitchfork, há algum tempo. "Já temos mais de mil vídeos, mas vamos começar com uns 250. Alguns obviamente nunca irão ao ar [risos]", diz Schreiber, 31, à Folha.
Entre as "preciosidades", há criações da Negativland, banda americana que já no fim dos anos 70 fazia "mash-ups". "Era mais que juntar duas músicas. Eles eram experimentais e artísticos de um jeito estranho", argumenta. A banda teria passado incólume pela história do pop não fosse a batalha judicial travada (e perdida) contra o U2 e a Island Records após samplear os irlandeses no EP "U2".
A programação (destaques acima) inclui produções próprias, como uma gravação com o Radiohead feita para o lançamento do canal e o "Juan's Basement", que na estréia põe a nova-iorquina Liars para tocar num porão. O canal exibirá ainda documentários musicais. O primeiro será "LoudQuiet-Loud" (2006), sobre os Pixies.
"A internet é um meio muito mais propício a um canal musical do que a televisão. Há menos amarras, pode-se viajar mais", avalia Schreiber.

Prateleiras
Ele tem a anuência de Zico Goes, diretor de programação e conteúdo da MTV Brasil. "O consumo de música é mais afeito à web. Nela, as prateleiras são infinitas, cada um é sua própria mídia", diz Goes.
O impacto que os videoclipes causaram em 1990, na estréia da emissora no país, foi suplantado cinco anos depois, conta o diretor, "quando falou mais alto a necessidade da TV de contar histórias". Desde então, de musical, o canal prefere o epíteto "jovem". "Manter os videoclipes seria romantismo, não tiraria a emissora do limbo."
Hoje Goes divide em duas a MTV Brasil: a da TV e a da internet. A primeira jogou no site Overdrive (www.overdrive. com.br) cerca de 15 mil clipes que não exibe mais.
Em 2005, um ano antes de a MTV anunciar que relegaria os videoclipes às madrugadas, o canal pago VH1 fez o caminho inverso, chegando ao país com 50% de programação musical.
A explicação estava na segmentação do público-alvo, de 25 a 49 anos. "A TV a cabo hoje dá a opção de pensar em audiências menores", diz Jimmy Leroy, vice-presidente criativo do canal no Brasil. É um público distinto do que consome o Pitchfork. "The Police é algo totalmente VH1", exemplifica.

Referência
Schreiber prefere obscuras crias do cenário indie na programação do Pitchfork.TV. Foi esse perfil, afinal, que fez seu modesto blog de crítica musical, criado em 1995, se tornar referência inclusive para a mídia "mainstream" nos anos 00.
Seu rigoroso sistema decimal de avaliação abriu portas para nomes como Arcade Fire, cuja estréia, com o CD "Funeral" (2004), mereceu uma honrosa nota 9,7. "Nossas críticas interferiram na história de bandas como Broken Social Scene, Arcade Fire. Aceleramos o processo", admite Schreiber.
Não é difícil imaginar que a Pitchfork.TV não vá ter dificuldades em encontrar bandas para participar de seus programas. Como avaliou Lee Sargent, tecladista do Clap Your Hands Say Yeah, quando seu primeiro CD levou um 9, "o caso de uma publicação como o Pitchfork é que ela decide quando o sucesso acontece".

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