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Baú digital
O conceituado site de música Pitchfork lança hoje seu canal de TV on-line, em que busca ir "além da MTV' com produção própria e vídeos raros dos anos 80 e 90
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL
A força com que a MTV surgiu nos anos 80 foi avassaladora e passageira. Encarcerados
na grade de programação, os videoclipes tinham tanta eficiência quanto o horário político
para segurar o ibope. O cenário
em que o conceituado site de
música Pitchfork (www.pitchfork.com) abriga a partir de
hoje sua TV on-line é bem mais
acolhedor -e livre de rédeas.
Centrada na produção independente, a Pitchfork.TV
(www.pitchfork.tv) pretende
inclusive corrigir uma "injustiça" histórica: o seu acervo de
videoclipes incluirá trabalhos
de bandas que, nas décadas de
80 e 90, não cabiam nos padrões da "music television".
Esse material, e também de
bandas novas, vem chegando às
mãos de Ryan Schreiber, criador e editor do Pitchfork, há algum tempo. "Já temos mais de
mil vídeos, mas vamos começar
com uns 250. Alguns obviamente nunca irão ao ar [risos]",
diz Schreiber, 31, à Folha.
Entre as "preciosidades", há
criações da Negativland, banda
americana que já no fim dos
anos 70 fazia "mash-ups". "Era
mais que juntar duas músicas.
Eles eram experimentais e artísticos de um jeito estranho",
argumenta. A banda teria passado incólume pela história do
pop não fosse a batalha judicial
travada (e perdida) contra o U2
e a Island Records após samplear os irlandeses no EP "U2".
A programação (destaques
acima) inclui produções próprias, como uma gravação com
o Radiohead feita para o lançamento do canal e o "Juan's Basement", que na estréia põe a
nova-iorquina Liars para tocar
num porão. O canal exibirá ainda documentários musicais. O
primeiro será "LoudQuiet-Loud" (2006), sobre os Pixies.
"A internet é um meio muito
mais propício a um canal musical do que a televisão. Há menos amarras, pode-se viajar
mais", avalia Schreiber.
Prateleiras
Ele tem a anuência de Zico
Goes, diretor de programação e
conteúdo da MTV Brasil. "O
consumo de música é mais afeito à web. Nela, as prateleiras
são infinitas, cada um é sua
própria mídia", diz Goes.
O impacto que os videoclipes
causaram em 1990, na estréia
da emissora no país, foi suplantado cinco anos depois, conta o
diretor, "quando falou mais alto a necessidade da TV de contar histórias". Desde então, de
musical, o canal prefere o epíteto "jovem". "Manter os videoclipes seria romantismo, não tiraria a emissora do limbo."
Hoje Goes divide em duas a
MTV Brasil: a da TV e a da internet. A primeira jogou no site
Overdrive (www.overdrive.
com.br) cerca de 15 mil clipes
que não exibe mais.
Em 2005, um ano antes de a
MTV anunciar que relegaria os
videoclipes às madrugadas, o
canal pago VH1 fez o caminho
inverso, chegando ao país com
50% de programação musical.
A explicação estava na segmentação do público-alvo, de
25 a 49 anos. "A TV a cabo hoje
dá a opção de pensar em audiências menores", diz Jimmy
Leroy, vice-presidente criativo
do canal no Brasil. É um público distinto do que consome o
Pitchfork. "The Police é algo
totalmente VH1", exemplifica.
Referência
Schreiber prefere obscuras
crias do cenário indie na programação do Pitchfork.TV. Foi
esse perfil, afinal, que fez seu
modesto blog de crítica musical, criado em 1995, se tornar
referência inclusive para a mídia "mainstream" nos anos 00.
Seu rigoroso sistema decimal
de avaliação abriu portas para
nomes como Arcade Fire, cuja
estréia, com o CD "Funeral"
(2004), mereceu uma honrosa
nota 9,7. "Nossas críticas interferiram na história de bandas
como Broken Social Scene, Arcade Fire. Aceleramos o processo", admite Schreiber.
Não é difícil imaginar que a
Pitchfork.TV não vá ter dificuldades em encontrar bandas para participar de seus programas. Como avaliou Lee Sargent, tecladista do Clap Your
Hands Say Yeah, quando seu
primeiro CD levou um 9, "o caso de uma publicação como o
Pitchfork é que ela decide
quando o sucesso acontece".
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