São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2008

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Tréplica

Escolhas da reportagem foram apenas jornalísticas

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL

Escrevo resenhas de música, mas sou, sobretudo, repórter, e foi nesta condição que escrevi o texto "Vida de som e fúria". As escolhas feitas não me parecem de difícil compreensão para quem atua em jornalismo.
Wilson Simonal, um excepcional cantor, tornou-se tabu ao ter sua imagem associada ao regime militar. O primeiro documentário sobre sua vida ("Ninguém Sabe o Duro que Dei") não poderia passar ao largo disso, e ainda teve a ousadia de buscar o contador que foi o pivô da derrocada do artista. Essa redescoberta, somada à dramaticidade da transformação de um astro em pessoa fartamente odiada, dificilmente deixaria de ser o carro-chefe de uma reportagem sobre o tema.
No delicado caso de Simonal, o equilíbrio entre o quanto falar de seu talento e o quanto falar de sua queda é difícil de alcançar. Críticas sempre existirão e, possivelmente, todas têm seu fundamento. Se por um lado a família queria ver ressaltados os dotes musicais, por outro recebi críticas por não ter mostrado "provas" da relação do cantor com o regime militar, como constam do processo de que Simonal foi réu.
Conforme mostrou reportagem da Folha de 26 de junho de 2000, o juiz João de Deus Lacerda Menna Barreto, baseado em três depoimentos (um deles, do próprio Simonal), classificou o cantor, em 1974, como "colaborador das Forças Armadas e informante do Dops [Departamento de Ordem Política e Social]".
"Provas" como essa não estão no filme, que não esclarece completamente, portanto, o episódio. O documentário também tem outros objetivos, como bem ressalta Max de Castro e está dito na reportagem, ainda que sem o destaque desejado pela família de Simonal. Sem dúvida, "o filme vale a pena ser visto", assim como o cantor vale a pena ser ouvido. Não creio que meu texto vá prejudicar nenhum dos dois objetivos. Talvez, apesar dos supostos defeitos, até os ajude.


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