IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O ano de 2010 marca o bicentenário de nascimento do compositor alemão Robert Schumann (1810-1856). Uma das maneiras mais prazerosas de celebrar a efeméride é ouvir o generoso álbum duplo em que suas obras são interpretadas pela pianista paulista Guiomar Novaes (1894-1979).
O disco traz a célebre gravação do concerto de Schumann em que Novaes é acompanhada pela Sinfônica de Viena, sob a batuta do mítico regente germânico Otto Klemperer (1885-1973), e que já andou circulando em CD. Os itens solo, contudo, jamais haviam aparecido neste formato; eles não eram lançados comercialmente há mais de três décadas.
A um só tempo amigo do magiar Franz Liszt (1811-1886) e incentivador do alemão Johannes Brahms (1833-1897), Schumann foi o ponto de ligação e síntese das duas tendências que se opunham no romantismo musical: a "música do futuro", representada pelo primeiro, e a reverência pela herança clássica, do segundo.
Embora ele tenha escrito canções, obras orquestrais, oratórios e até uma ópera ("Genoveva"), o teclado foi o meio de expressão preferencial de Schumann, cuja mulher, Clara, teve grande atuação como pianista, divulgando, executando e defendendo a obra do marido.
Obra essa na qual se destacam grandes painéis, constituídos de peças breves, nos quais a capacidade de caracterização e expressão individual do intérprete conta tanto quanto ou até mais que a habilidade técnica.

Representativo
Nesse aspecto, o álbum de Novaes é extremamente representativo, trazendo leituras profundas de "Papillons", "Estudos Sinfônicos", "Kinderszenen", "Fantasiestücke op. 12" e um registro maduro e vigoroso do "Carnaval", que corre sério risco de ser a melhor versão da obra existente em CD.
Robustez sonora, instinto musical infalível, refinamento e profunda compreensão do universo estético do compositor; gravado na década de 1950, o Schumann de Guiomar Novaes não é menos que essencial. Não por acaso, ela trata-se da principal influência do Schumann de Nelson Freire.