São Paulo, quinta-feira, 07 de abril de 2011

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comida

Comida de papel

Ilustradores especializados em gastronomia falam de truques para tornar desenhos suculentos

EM NOVA YORK

"Por favor, só mais uma doçaria", Abby Denson, 35, suplica à reportagem da Folha com olhos pidões enquanto caminha à noite pelas ruas de Nova York, em Koreatown. "Essa padaria é nova, eu ainda não conheço!"
A quadrinista, premiada em janeiro com um disputado International Manga Award (prêmio internacional de mangá), é uma espécie de pesquisadora do censo das doçarias de Manhattan. Entra nas lojas e logo começa a bisbilhotar cardápios e estantes em busca de informações e guloseimas.
A curiosidade faz parte do trabalho dela. Denson alimenta há três anos o blog City Sweet Tooth, em que desenha e comenta o vasto mundo dos doces de NY.
A profissão leva a artista a restaurantes de toda a cidade, como o japonês visitado com a reportagem. Durante o jantar, Denson fotografou e rascunhou os pratos servidos à mesa, em especial o iogurte de panna cotta (semelhante a um pudim), o chocolate caseiro e a garrafa de saquê "doce e borbulhante".
Os açucarados são o xodó da desenhista, preferência que ela credita a uma sensibilidade excessiva do paladar. "Tenho um superssentido. Não suporto gostos amargos, por exemplo."
Denson começou o blog após ligar dois (doces) pontos. "Sou uma artista e sou uma formiguinha, então por que não desenhar comida?"
A decisão trouxe obstáculos estéticos. Como alimentos dependem de todos os cinco sentidos, e não apenas da visão, é necessário usar truques para expressar gosto, aroma, textura e até som.
"Posso me desenhar comendo um sorvete de pera e desenhar um balão de pensamento com a fruta", exemplifica Denson. "Faço linhas ondulantes para indicar calor."

TRUQUES
A ilustradora norte-americana Judy Unger, 51, especializada em traçar comida, tem as próprios dicas.
"Uso cores brilhantes e muito contraste para chamar a atenção", explica. "Coloco gotas d'água em frutas, para parecerem frescas, e então desenho manchas e arranhões, para que não aparentem ser de plástico", diz.
Unger começou na década de 80 no mercado de embalagens e conta que, naquela época, a meta era desenhar como nas fotos. E melhor.
"Você pode melhorar a realidade na ilustração", diz. "Uma fruta fica saborosa sem deixar de ser real."
Em tempos de Photoshop, porém, o mercado minguou para Judy. "Estou tendo de aprender a usar o computador e reinventar minha carreira. Hoje, minha meta é desenhar como nas pinturas, para que eu possa me diferenciar", diz.
Os irmãos Nate Padavick, 40, e Salli Swindell, 52, encontraram um nicho específico ao fundar o blog de receitas ilustradas They Draw and Cook.
"Artistas sempre foram fascinados por desenhar e fotografar comida. Foi o assunto de muitas obras-primas históricas", diz Padavick.
O site recebe colaborações de ilustradores ao redor do mundo, inclusive brasileiros. "Todo artista tenta tornar a receita saborosa, quer seja por texturas de deixar com água na boca ou por formas e cores bonitas", afirma. "Ou criam, ainda, cenas nostálgicas e fofas que ajudam a evocar memórias doces."
(DIOGO BERCITO)


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