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DANÇA
Temporada paulistana começa hoje à noite, mostrando as transformações dos 20 anos de trabalho do coreógrafo
Jones abandona política e mostra o lírico
ANA FRANCISCA PONZIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Começa hoje, no teatro Alfa, a
temporada paulistana da Bill T.
Jones/Arnie Zane Dance Company, que faz parte da programação Antares Dança 2002. Completando 20 anos de atividades, o
grupo fundado por Jones em parceria com Zane, que morreu em
1988, mostra as transformações
que a linguagem do coreógrafo
ganhou com o tempo.
Quando o público brasileiro conheceu Bill T. Jones, no Carlton
Dance Festival de 1990, ele representava o vigor criativo de uma
geração surgida nos anos 80 -a
chamada "next wave", que sucedeu os pós-modernistas. Daquela
época até meados dos anos 90, Jones ampliou sua projeção internacional com coreografias que somavam beleza e sofisticação formal à abordagem de temas inquietantes, como as segregações
raciais e as inseguranças provocadas pela Aids.
Hoje, embora continue expressando o mundo que o rodeia, Jones diluiu o tom político e reivindicatório para se concentrar na
estrutura coreográfica, na qualidade e eloquência dos movimentos. Essa nova postura pode ser
observada no programa da atual
temporada, que é composta por
duas peças feitas em 1996 -"Power/Full" e "Some Songs"- e
duas de 2001, "Verbum" e "Black
Suzanne".
Com a inteligência e o carisma
de sempre, Jones sintetiza como
sua linguagem mudou: "Antes eu
considerava mais importante
quem eram as pessoas que dançavam minhas coreografias. Hoje é
o contrário: o que essas pessoas
dançam se tornou prioridade".
Ao enfatizar o movimento e se
despir da encenação teatral, Jones
volta a se inspirar mais intensamente em seu coreógrafo predileto: Merce Cunningham, o revolucionário que revelou novos conceitos de tempo e de espaço. "A dedicação ao gesto, a busca contínua por novas maneiras de se mover no espaço continuam fazendo
de Merce um artista fundamental
para as gerações que lhe sucederam", afirma.
Para Jones, no entanto, as "tradições" da dança moderna americana servem de âncora para a pesquisa de um caminho próprio. De
Cunningham, por exemplo, ele
não aceita a ruptura com a música
nem a despersonalização dos bailarinos. "Minhas referências são
diferentes. Cresci dentro das culturas pop e afro-americana. Eu
era ator quando passei a me dedicar à dança, influenciado pelo cinema e pela literatura."
Jones ainda se diz interessado
por poesia e por relações humanas, sendo que hoje ele procura
transcender política e modismos
para desenvolver uma comunicação emocional através do corpo.
"Minhas criações continuam falando de poder e esperança, mas
de uma maneira não muito específica. Para expressar o que nos
cerca, preciso de um elenco sem a
homogeneidade que lhes retiraria
a chance de transmitir a diversidade do mundo."
A ligação cada vez mais estreita
com a música também marca a
fase atual de Jones. Nas obras recentes, as composições escolhidas
assumem sentido à medida que as
coreografias se desenvolvem. O lirismo peculiar de Jones é outro
detalhe presente no programa da
atual temporada, principalmente
em "Verbum", dançado ao som
do "Quarteto de Cordas em Lá
Maior, opus 135", de Beethoven.
Contudo, na produção atual de
Jones, se sente falta da contundência do passado. Como vem
ocorrendo com muitas companhias consagradas, as inevitáveis
mudanças de elenco parecem
prejudicar o aprofundamento dos
dançarinos nas verdades dos coreógrafos. Com isso, também no
grupo de Jones pairam as lacunas
deixadas por seus primeiros e impactantes intérpretes.
BILL T. JONES/ARNIE ZANE DANCE
COMPANY. Quando: de hoje até quinta,
às 21h. Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco
de Andrade Filho, 722, SP, tel. 0800-558191). Quanto: de R$ 45 a R$ 110.
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