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ROMANCE
Convidado da Bienal do Rio, o norueguês Lars Saabye Christensen tem sua principal obra lançada no Brasil
"Meio-Irmão" foca Europa em saga familiar
MARCOS STRECKER
DA REDAÇÃO
O norueguês Lars Saabye Christensen (1953), uma das estrelas da
Bienal Internacional do Livro do
Rio, vem lançar "O Meio-Irmão",
seu principal livro e o primeiro a
ser publicado no Brasil. É um épico familiar e histórico, um romance de formação que tem como pano de fundo a história européia dos últimos 60 anos.
O livro foi traduzido em 25 línguas e já vendeu 300 mil exemplares. Christensen, o "best-seller
que veio do frio", é atualmente o
maior escritor de seu país. Publicou dez coletâneas de poesia, três
de contos e 11 romances. Sua carreira decolou com o romance
"Beatles", de 1984, que ultrapassou a marca de 200 mil exemplares vendidos e que conta a história
de jovens que cresceram na capital Oslo nos anos 1960 e 1970. Em
entrevista à Folha, Christensen
fala de literatura e de sua relação
com cinema.
Folha - Você levou dez anos para
escrever "O Meio-Irmão"?
Lars Saabye Christensen - Tenho
pensado neste romance praticamente desde que escrevi meu primeiro livro. Realmente levei quase dez anos para escrevê-lo. Para
mim é um romance épico e poético, mas um romance.
Folha - Como você recebe comparações entre seu livro e as obras de
Jonathan Franzen ou John Irving,
por exemplo?
Christensen - É uma honra ser
comparado com estes escritores.
Acho que talvez nós tenhamos
certos "temas" literários em comum: a estranha família.
Folha - Você usa a imagem da Segunda Guerra. Como isso afeta sua
obra e o imaginário no seu país?
Christensen - Acho que todas as
histórias sobre a Noruega moderna e contemporânea precisam
abordar a Segunda Guerra, de
uma maneira ou outra. E eu queria começar meu romance no dia
da libertação: um triunfo para o
país, mas uma catástrofe para a
família que descrevo. É de alguma
forma a perspectiva do romance:
os destinos individuais dentro de
um contexto histórico.
Folha - A matriarca era uma estrela do cinema mudo....
Christensen - Ela é a "heroína".
Era uma estrela do cinema mudo,
e o silêncio é um tema importante
do livro. É forte, esperta, teimosa e
rude. Adorei escrever sobre ela.
Meu livro é, entre outras coisas,
um romance sobre três gerações
de mulheres fortes.
Folha - Barnum, que trabalha
com cinema, aparece em Berlim no
começo e no final do livro. Qual é
sua relação com cinema e com a
Alemanha?
Christensen - O narrador trabalha como roteirista, mas seus roteiros nunca são produzidos. É o
escritor de filmes que não são só
silenciosos, mas invisíveis. Eu,
por outro lado, escrevi oito roteiros. Mas os meus foram produzidos. Assim, mesmo que eu tenha
comparecido ao festival diversas
vezes, este não é, digamos, um romance autobiográfico.
Folha - Barnum se recusa a crescer, como a personagem principal
de "O Tambor", do alemão Günter
Grass. Você sente na sua obra alguma influência da literatura alemã?
Christensen - Barnum é o menino mais baixo de Oslo. Não se recusa a crescer, como Oskar [personagem de "O Tambor"], mas
simplesmente pára de crescer.
Tem todo o desejo de crescer, mas
não consegue. É por isso que quer
escrever. Procura criar histórias
maiores do que ele mesmo. Autores alemães como Thomas Mann
e Günter Grass foram uma importante experiência para mim.
Folha - Seu livro já foi lançado em
25 países. Como você se sente tendo produzido um best-seller?
Christensen - Devo admitir que o
romance foi muito bem recebido
em outros países. Foi uma experiência muito importante porque
me considero um escritor "local".
Folha - Como você se compara
com um dos ícones da literatura do
seu país, Knut Hamsun [1859-1952], vencedor do Nobel, autor de
"Fome" e grande influência do escritor Paul Auster, entre outros?
Christensen - Acho que não pertenço a nenhum "grupo", ou a
uma tendência. Sou um poeta escrevendo romances, ou um romancista escrevendo poesia. "Fome", de Hamsun, é o primeiro romance moderno da Noruega, é
extremamente importante. Traz o
narrador moderno, a temperatura da prosa e o romance. Hamsun
foi minha primeira inspiração na
adolescência. Fiquei "viciado" à
sua linguagem, à sua prosa, da
mesma maneira que fiquei "viciado" em Beatles ou em Doors.
Folha - Como o rock e a cultura
pop podem se integrar à "boa" literatura?
Christensen - Minha geração de
escritores noruegueses, nascidos
nos anos 1950, sofreu a influência
da cultura clássica e da cultura popular. Isto é visível em romances e
poemas. E pode ser uma química
poderosa: Beatles e Bach, Jim
Morrison e Rimbaud, Clint Eastwood e Marcel Proust.....
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