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Maria Amélia, mãe de Chico Buarque, morre aos 100
Memélia, como era conhecida, morreu de causas
naturais, de madrugada, e deixa 7 filhos, 14 netos e 14 bisnetos
Viúva do historiador Sérgio
Buarque de Holanda foi, ao
lado do marido, uma das
fundadoras do PT; Lula
lamentou a morte em nota
DA SUCURSAL DO RIO
Maria Amélia Alvim Buarque
de Holanda, viúva do historiador Sérgio Buarque de Holanda
(1902-1982) e mãe do cantor,
compositor e escritor Chico
Buarque, morreu na madrugada de ontem, exatamente cem
dias após completar cem anos
de idade, enquanto dormia, em
sua casa, em Copacabana (zona
sul do Rio).
Segundo assessor da família,
ela não tinha problemas de saúde e teve morte natural.
Memélia, como era conhecida, será velada em cerimônia
restrita à família e aos amigos e
seu corpo deve ser cremado no
próximo sábado, no cemitério
do Caju (zona norte do Rio).
O marido também foi cremado ao morrer, em abril de 1982,
aos 79 anos, em São Paulo.
"Era uma das pessoas mais
notáveis que conheci", afirmou
Antonio Candido, 91, crítico literário e amigo de Memélia.
"Inteligente, culta, alegre, corajosa, desprendida, de uma retidão incrível", enumera.
O arquiteto Oscar Niemeyer,
102, mesmo internado, recuperando-se de uma infecção urinária -ele deve ter alta hoje-,
também lamentou a morte de
Memélia.
"Acompanho com imensa
tristeza a dor do meu amigo
Chico Buarque e família", afirmou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador do
Rio, Sérgio Cabral, também lamentaram a morte.
"Mesmo sendo filha de família tradicional, durante toda a
vida lutou e apoiou as lutas pela
liberdade e por uma sociedade
mais igualitária", afirmou Lula,
em nota. "Há poucos meses,
durante as comemorações de
seus 100 anos de idade, eu a encontrei, como sempre, lúcida e
demonstrando estar ligada às
questões que afetam nosso país
e nosso povo", completou.
"Dona Maria Amélia foi uma
grande mulher, matriarca de
uma família que, na música e na
literatura, simboliza o talento
brasileiro. [...] Junto com a sua
enorme e querida família, o Rio
e o Brasil sentirão muitas saudades", afirmou Cabral.
Memélia nasceu no Rio, em
25 de janeiro de 1910. Morou
em Laranjeiras, no Cosme Velho e, a partir dos cinco anos,
em Copacabana.
Aos oito já era torcedora fanática do Fluminense -paixão
transmitida ao filho Chico- e
chegava a telefonar para o clube perguntando o resultado dos
jogos. "Mamãe me achava meio
maluquinha", contou, em 1997,
em entrevista à revista "TPM".
Casamento
Foi durante um baile de Carnaval, aos 26 anos, que Memélia conheceu Sérgio Buarque de
Holanda. "Antes de casar, eu já
senti que estava muito "emparceirada" com ele", disse ela.
"Pensávamos do mesmo jeito, eu não fazia questão de ser rica, tinha muita admiração pelo
trabalho dele."
Quando decidiram se casar,
um primo dela foi incumbido
de fazer o pedido ao pai de Memélia, em nome de Sérgio. Tudo porque o pai dela estava "assustadíssimo", segundo ela, e
ninguém queria falar com ele
sobre o casamento.
Mas os noivos, que aguardavam em uma confeitaria a resposta, puderam comemorar a a
resposta positiva trazida pelo
intermediário.
Durante as décadas em que
viveram juntos, Memélia cuidava da casa e dos sete filhos
-que renderam 14 netos e 14
bisnetos-, enquanto o marido
produzia obras como "Raízes
do Brasil", cujos originais ela
teve o privilégio de ler em primeira mão.
"Acho que a coisa mais bonita de Sérgio era o amor dele pelo trabalho, a vibração com que
fazia as coisas."
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