São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2010

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Maria Amélia, mãe de Chico Buarque, morre aos 100

Memélia, como era conhecida, morreu de causas naturais, de madrugada, e deixa 7 filhos, 14 netos e 14 bisnetos

Viúva do historiador Sérgio Buarque de Holanda foi, ao lado do marido, uma das fundadoras do PT; Lula lamentou a morte em nota

DA SUCURSAL DO RIO

Maria Amélia Alvim Buarque de Holanda, viúva do historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) e mãe do cantor, compositor e escritor Chico Buarque, morreu na madrugada de ontem, exatamente cem dias após completar cem anos de idade, enquanto dormia, em sua casa, em Copacabana (zona sul do Rio).
Segundo assessor da família, ela não tinha problemas de saúde e teve morte natural.
Memélia, como era conhecida, será velada em cerimônia restrita à família e aos amigos e seu corpo deve ser cremado no próximo sábado, no cemitério do Caju (zona norte do Rio).
O marido também foi cremado ao morrer, em abril de 1982, aos 79 anos, em São Paulo.
"Era uma das pessoas mais notáveis que conheci", afirmou Antonio Candido, 91, crítico literário e amigo de Memélia. "Inteligente, culta, alegre, corajosa, desprendida, de uma retidão incrível", enumera. O arquiteto Oscar Niemeyer, 102, mesmo internado, recuperando-se de uma infecção urinária -ele deve ter alta hoje-, também lamentou a morte de Memélia.
"Acompanho com imensa tristeza a dor do meu amigo Chico Buarque e família", afirmou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador do Rio, Sérgio Cabral, também lamentaram a morte.
"Mesmo sendo filha de família tradicional, durante toda a vida lutou e apoiou as lutas pela liberdade e por uma sociedade mais igualitária", afirmou Lula, em nota. "Há poucos meses, durante as comemorações de seus 100 anos de idade, eu a encontrei, como sempre, lúcida e demonstrando estar ligada às questões que afetam nosso país e nosso povo", completou.
"Dona Maria Amélia foi uma grande mulher, matriarca de uma família que, na música e na literatura, simboliza o talento brasileiro. [...] Junto com a sua enorme e querida família, o Rio e o Brasil sentirão muitas saudades", afirmou Cabral.
Memélia nasceu no Rio, em 25 de janeiro de 1910. Morou em Laranjeiras, no Cosme Velho e, a partir dos cinco anos, em Copacabana.
Aos oito já era torcedora fanática do Fluminense -paixão transmitida ao filho Chico- e chegava a telefonar para o clube perguntando o resultado dos jogos. "Mamãe me achava meio maluquinha", contou, em 1997, em entrevista à revista "TPM".

Casamento
Foi durante um baile de Carnaval, aos 26 anos, que Memélia conheceu Sérgio Buarque de Holanda. "Antes de casar, eu já senti que estava muito "emparceirada" com ele", disse ela.
"Pensávamos do mesmo jeito, eu não fazia questão de ser rica, tinha muita admiração pelo trabalho dele."
Quando decidiram se casar, um primo dela foi incumbido de fazer o pedido ao pai de Memélia, em nome de Sérgio. Tudo porque o pai dela estava "assustadíssimo", segundo ela, e ninguém queria falar com ele sobre o casamento.
Mas os noivos, que aguardavam em uma confeitaria a resposta, puderam comemorar a a resposta positiva trazida pelo intermediário.
Durante as décadas em que viveram juntos, Memélia cuidava da casa e dos sete filhos -que renderam 14 netos e 14 bisnetos-, enquanto o marido produzia obras como "Raízes do Brasil", cujos originais ela teve o privilégio de ler em primeira mão.
"Acho que a coisa mais bonita de Sérgio era o amor dele pelo trabalho, a vibração com que fazia as coisas."


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