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Salmaso persegue a "alma lírica brasileira"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Embora seja pouco conhecida, a
paulistana Mônica Salmaso, 27,
não é nenhuma iniciante. Trabalhando profissionalmente com
música há nove anos, desde que
estreou cantando na peça teatral
"O Concílio do Amor" (89), de
Gabriel Villela, só agora chega ao
primeiro CD solo, "Trampolim".
É estréia solo a rigor, porque antes sua voz solou em "Afro- Sambas - Baden Powell e Vinicius de
Moraes" (96), CD de parceria
com o violonista Paulo Bellinati;
participou, também, de "Notícias
do Brasil" (95), de Eduardo Gudin, como uma das quatro solistas.
Mônica afirma que "Trampolim" -que ela apresenta hoje
com show no Sesc Ipiranga- dá
sequência a um projeto de investigação da "alma lírica brasileira"
-definição cunhada pelo produtor do CD, Rodolfo Stroeter.
Tal projeto contempla cantos de
trabalho de escravos, reisados, temas de domínio público, canções
amazonenses, canções praieiras.
"É um olhar sobre o Brasil, sobre suas regionalidades, mas de
quem está vendo de fora. O filme
"Central do Brasil', de Walter Salles, é um pouco isso -ele não viveu aquilo, mas me toca, me faz
chorar. Sou paulistana, nunca saí
daqui, não vivi as coisas que canto
-por isso é um olhar de fora."
Não se trata, porém, de um trabalho de tez regionalista: "Não
queria que tivesse sonoridade regional, soaria falso. Zabumba,
sanfona e triângulo não podia, ia
ser mentira da boa".
Aí entrou o percussionista Naná
Vasconcelos, presente em seis das
13 faixas. "Naná era justamente o
que a gente precisava, é um cidadão do mundo."
Rebento de família sem tradição
musical ("resolvi ser cantora aos
18 anos, mas não sabia a quem recorrer, não tinha parente, nem
amigo nem primo de quinto grau
fazendo música"), andou pelas
aulas de canto -algumas até com
Cida Moreira-, sempre sem muita pressa, segundo ela.
"Nunca tive pressa de gravar,
tenho medo que saia de qualquer
jeito. Minha responsabilidade é
maior que minha vaidade. Hoje,
acho que os selos pequenos aos
poucos estão ganhando consistência, vão ficando viáveis."
A artista demonstra certo grau
de "alergia" ao estrelato. "Pelo
senso comum, artista é aquele que
é superfamoso, que todo mundo
conhece, que está na multinacional. O que me encanta é muito menos isso que o amor à música."
Ela aprofunda a reflexão sobre o
relacionamento com o mercado:
"As pessoas que dominam hoje a
MPB são perenes, vieram por essa
via do mercado e lá estão. Devem
ter um jeito de se manter, que eu
não sei qual é. Para os novos, para
mim em particular, ficar tentando
entrar é suicida".
"O mercado é um só, pequeno,
não há a prática das pessoas passarem a bola, impulsionarem outros
artistas. Já deve ser uma grande dificuldade se manter no lugar."
Passa, então, à contemporânea
MPB. "Essa "nova MPB' me parece uma boa notícia, até há pouco
estava Olimpo demais, ou você era
Olimpo ou era bicho. Mas já vou
sentindo que está caindo num padrão repetitivo. Vão se formando
turminhas que acabam fazendo
tudo parecido, o espaço recém-aberto já começa a se fechar. As padronizações agem contra a construção de identidades próprias".
Mesmo admitindo a coerência
entre os dois CDs, diz que eles não
bastam para definir Mônica Salmaso. "Não sinto que esses discos
sejam eu. Tenho total liberdade
para buscar outro caminho de repertório, se quiser. Por enquanto
nem eu sei que cara tenho."
Show: Trampolim
Artista: Mônica Salmaso
Onde: Teatro Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor,
822, tel. 011/3340-2000)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: R$ 10
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