São Paulo, Sexta-feira, 07 de Maio de 1999
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PATRIMÔNIO
Presidente da World Monuments Fund disse que a vila não está desmoralizada pois se mantém viva
Bonnie Burnham acredita em Paranapiacaba

Cleo Velleda/Folha Imagem
Vista da antiga casa do administrador da estação de trem de Paranapiacaba, no ponto mais alto da vila, que hoje abriga um pequeno museu


da Reportagem Local

A visita da presidente da World Monuments Fund ao Brasil pode ser considerada um trunfo para o patrimônio histórico nacional, já que raramente Bonnie Burnham visita os países pleiteantes.
"Temos pouco dinheiro para auxiliar a recuperação dos locais e menos ainda para viajar. Vim basicamente porque fui convidada pela Fundação Vitae e tenho interesse no país", disse.
Para a lista dos cem sítios históricos em maior risco no mundo referente ao ano 2000, que será divulgada em setembro, concorrem cerca de 350 locais em todo o mundo, sendo que 125 deles já estiveram presentes em listas anteriores e pleiteiam nova entrada.
Segundo Burnham, apesar de seu avançado estado de degradação, a situação da vila e estação de trem de Paranapiacaba não é das piores.
"Em muitos casos, os lugares estão desmoralizados. Paranapiacaba não me parece o pior deles. Muitas residências estão ocupadas e isso é um bom sinal. O problema maior para o patrimônio é manter o que está abandonado, onde não há mais vida. Aqui é necessário apenas iniciar um projeto de restauração e manutenção e implementar um programa de turismo para local", disse à Folha durante sua visita ao sítio.
A presidente também acredita no potencial turístico da região. "Paranapiacaba é um local que pode interessar os patrocinadores pois oferece um vasto potencial ecológico e histórico, além de amplas possibilidades de recreação para a população das cidades vizinhas. É uma vila com muito potencial. Não é um sítio limitado, como uma igreja, por exemplo", disse.
Segundo ela, seria necessário criar um programa para ser desenvolvido pela comunidade local, que precisaria estar aparelhada para isso. "Percebi que existem muitas pessoas interessadas na manutenção de Paranapiacaba. É preciso que se desenvolva um programa para auxiliar e conscientizar a população local de sua importância. Existem muitas pessoas que sabem o que seria preciso fazer, mas é preciso dar condições para se colocar os projetos em prática", disse.
A vila e estação de Paranapiacaba são mantidas hoje basicamente por meio do trabalho de seus moradores e voluntários, que cuidam, por exemplo, da manutenção do museu local, localizado na antiga casa do administrador da vila.
A inclusão na lista, apesar de indicar uma deficiência crônica do país, é encarada de maneira positiva. "Estar incluído na lista é um bom sinal, sem dúvida, pelo conhecimento público que isso gera. Criamos com a lista um senso de urgência para esses lugares que acaba sensibilizando os governos locais. Mas os países latinos precisam acabar com esse hábito de esperar que o governo tome conta de tudo. Devem perceber que a preservação do patrimônio é papel de absolutamente todos. É necessário um engajamento coletivo", disse.
"A inclusão na lista é interessante por sua visibilidade. Ter um bem incluído nela aponta uma deficiência no país que deve ser sanada", concorda o arquiteto Antonio Soufek Junior.
A inscrição da vila contou com o apoio de Maria Inês Dias Mazzoco, uma das maiores defensoras da vila e coordenadora de preservação ferroviária da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S/A), que é proprietária da estação de trem.
Segundo Maria Inês, os problemas enfrentados pelo sistema ferroviário nacional vêm desde o governo de Juscelino Kubitschek.
"O Brasil teima em não ver que o sistema ferroviário é o meio mais viável de transporte em um país de dimensões continentais como o nosso. Da mesma forma que JK construiu 50 anos em cinco também, destruiu 50 anos em cinco ao implementar um sistema de transporte individual em detrimento de um coletivo, como o trem", disse.
"A preservação desses sítios significa um presente amplo e sólido e um futuro repleto de perspectivas. Não se trata de uma história morta", complementou Maria Inês, que alerta ainda para a situação do arquivo histórico da Fepasa, em Jundiaí, que também corre graves riscos de se perder.

Processo de indicação
O processo para a indicação de um sítio histórico na lista da WMF é relativamente simples.
O interessado deve preencher um formulário padrão, fazer um levantamento histórico do lugar e dos tipos de riscos que corre. Deve ainda estimar o custo de sua restauração e estabelecer um programa para a sua manutenção.
Ao longo de sua história, a entidade já atuou em cerca de 170 projetos em mais de 50 países.
Os interessados em obter mais informações podem entrar em contato com a WMF: 949, Park Avenue, New York, 10028, NY, tel. 00 1 212 517-9367, fax 00 1 212 517-9494). (CELSO FIORAVANTE)



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