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"QUARTO DO PÂNICO"
É o primeiro grande filme americano do ano
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
"Quarto do Pânico" é o
melhor filme com edifício
como personagem desde "O Bebê
de Rosemary" (68), de Roman
Polanski. Seu diretor, numa época em que diretores são tão importantes em Hollywood quanto
datilógrafos numa editora de livros, tem caráter e personalidade.
Estou falando de David Fincher,
o mesmo dos excelentes "Alien
3", "Seven" e "Clube da Luta". Se
um filme de suspense é tão bom
quanto seu vilão, os dele são tão
bons quanto o cinegrafista. Os
movimentos de câmera de "Quarto" não apenas registram as imagens, mas fazem comentários sobre a trama. Assim, uma cena começa num quarto e continua, sem
cortes, por dentro do tubo mínimo que é a única entrada de ar
deste quarto; ou parte de uma
chaleira que esquenta água até o
bico que solta o vapor. Pense em
Hitchcock, pense em Brian de
Palma, pense em muito talento.
Tudo se passa numa townhouse
do Upper West Side nova-iorquino, com vários andares e apenas
duas moradoras, uma mulher recém-divorciada e sua filha pré-adolescente, que acabam de se
mudar. Ela é Jodie Foster, aqui tão
frágil como naquele comercial da
Coppertone que fazia aos dois
anos, e tão abandonada que você
tem ganas de abraçá-la e prometer que a vida é boa.
A menina, a novata Kristen Stewart, também segura bem como a
garota diabética que inspira cuidados especiais. O filme começa
com as duas se adaptando na residência de luxo que conta com o
tal "quarto do pânico" do título,
artifício cada vez mais comum entre as classes endinheiradas norte-americana e européia.
Trata-se de um aposento impenetrável por estranhos, com provisões e monitores que vigiam todo o resto da casa, para onde o
morador se retira em caso de
ameaça, parecido com o que o
banqueiro Edmond Safra se refugiou na vida real em Mônaco e
que acabou lhe custando a vida.
Aqui, mãe e filha se trancam
quando um bando liderado por
Forest Whitaker invade o prédio.
O problema é que os gatunos querem exatamente o tesouro que está escondido dentro do tal quarto,
e aí começa a guerra psicológica
entre o trio de bandidos e as duas
mulheres, gatos e ratos, mas nem
sempre nesta ordem.
A personagem de Jodie Foster
passa do desespero e do acuamento para o controle da situação
com verossimilhança e sem em
nenhum momento vestir a roupa
de Rambo tão cara ao cinema
norte-americano. Já Whitaker dá
caráter tridimensional ao seu funcionário corrupto da seguradora
que instalou o quarto e que quer
dar o golpe para mudar sua vida.
Se o ator negro está competente
como sempre, os outros dois
membros do bando se anulam como positivo e negativo. Jared Leto
deveria ser multado por excesso
de interpretação, como disse alguém; já o músico e ator bissexto
Dwight Yoakam veste perfeitamente a carapuça do psicopata
Raoul (eles são mais conhecidos
por suas namoradas na vida real,
Cameron Diaz e Bridget Fonda,
respectivamente; eu sei, dá raiva).
Se você está pensando no primeiro grande filme americano do
ano, é isso mesmo. Os próximos
são "Insônia" (do diretor de "Amnésia/Memento") e "The Salton
Sea", este infelizmente ainda não
comprado pelo Brasil.
Quarto do Pânico
Panic Room
Direção: David Fincher
Produção: EUA, 2002
Com: Jodie Foster, Kristen Stewart,
Forest Whitaker
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Eldorado e circuito
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