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CINEMA/ESTRÉIAS
"ALÔ, ALÔ, CARNAVAL"
Produção com Carmen Miranda volta restaurada
Longa mostra que resiste aos inúmeros Carnavais
MARIO SERGIO CONTI
DA SUCURSAL DO RIO
Quando foi lançado, em janeiro de 36, "Alô, Alô, Carnaval" bateu o recorde de bilheteria dos filmes nacionais. Ficou um
mês em cartaz no Rio e depois
percorreu o Brasil, lotando salas.
"Alô, Alô, Carnaval" foi relançado três vezes (em 52, 74 e 83) e em
todas as ocasiões atraiu público e
elogios da crítica. Há algo no filme
de Adhemar Gonzaga que desafia
o tempo, mas o que será?
Graças à tenacidade da filha do
diretor, Alice Gonzaga, responsável pela restauração primorosa
que estréia hoje, fica claro que o
filme não é uma peça de museu,
que agrada apenas nostálgicos ou
cinéfilos. Sua força está na feliz
união de cinema e música popular, na leveza com que confronta o
subdesenvolvimento.
O filme conta a história de dois
autores e produtores de revistas
musicais, Arthur (Barbosa Júnior) e José (Pinto Filho). Endividados até o pescoço, eles querem
que um empresário português
(Jayme Costa) financie a montagem de um espetáculo que os redima da penúria. O empresário
tem um acerto com uma companhia francesa e os afasta liminarmente. A companhia francesa,
contudo, cancela a turnê para o
Rio, e o português é obrigado a recorrer a Arthur e José.
Os brasileiros se vingam, obrigando o empresário a saldar-lhes
todas as dívidas. O objetivo deles,
por meio de macetes escusos e superfaturamento, é arrancar o máximo de dinheiro do português.
Esse enredo tênue, que serve de
ligação para os 23 números musicais mostrados no filme, capta aspectos do movimento do capital:
o endividamento do empresariado nacional, a substituição de importações e a rede de favorecimentos e corrupção que se cria
com a chegada do investimento.
A música popular já era, nos
anos 30, a arte brasileira mais rica.
Seu meio industrial de difusão era
o rádio. O longa cumpriu então o
papel de revelar aquilo que o rádio não podia mostrar: os cantores e músicos em ação.
Esse aspecto continua tão vivo
quanto na sua estréia. Lamartine
Babo, Mario Reis, Francisco Alves, Dircinha Baptista, Aurora e
Carmen Miranda desfilam pela
tela, interpretando músicas ingênuas e engraçadas. Tolas, até.
Mas é da tolice, do esquematismo do enredo e da dicção popular
que "Alô, Alô, Carnaval" retira a
sua graça. Gonzaga sublinha o
congraçamento (vale dizer: a conciliação entre exploradores e explorados) carnavalesco propiciado pela música popular.
O gume político e as marcas do
subdesenvolvimento, no entanto,
estão intactas em "Alô, Alô, Carnaval". Eles fazem tanto sentido
hoje quanto há quase 70 anos.
Alô, Alô, Carnaval
Direção: Adhemar Gonzaga
Produção: Brasil, 1936
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco
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