São Paulo, sexta-feira, 07 de junho de 2002

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MÚSICA

À procura de nova gravadora e sem uma vocalista, Belle & Sebastian lança disco

Sem justa causa

Divulgação
O Belle & Sebastian, que lança "Storytelling", trilha de "Histórias Proibidas"


DA ENVIADA ESPECIAL AO REINO UNIDO

Já esteve desempregado e se sentindo rejeitado pela melhor amiga? Assim, sem gravadora e sem a lindinha Isobel Campbell, agora oficialmente ex-vocalista e ex-violoncelista da banda, o Belle & Sebastian lança o álbum "Storytelling", trilha sonora tardia de "Histórias Proibidas", de Todd Solondz.
No Brasil, bem como em alguns outros países, o filme já saiu de cartaz há tempos.
"Estamos nos sentindo como aqueles caras que saem de casa de manhã com o CV embaixo do braço procurando emprego", disse à Folha a simpática Sarah Martin, 27, violinista e eventual vocalista do grupo -no Brasil, ela cantou muito bem "Baby" (Caetano Veloso), em português.
Além dela, a Folha conversou, num café barulhento de Glasgow (Escócia), com o trompetista Mick Cooke, 27, o tecladista Chris Geddes, 25, e Stevie Jackson, 32, cantor, guitarrista e letrista da banda. Em comum todos tinham uma tremenda cara de ressaca.
Jackson e Sarah comentavam no intervalo entre as perguntas o show da banda Love, que saíra das cavernas para uma apresentação na cidade, na noite anterior. Os dois estavam impressionados com a habilidade do velhaco Arthur Lee na guitarra.
Cooke e Geddes falavam, do outro lado da mesinha, sobre as comemorações do Jubileu da Rainha da Inglaterra, que teve shows de Paul McCartney, Brian May, Ozzy Osbourne "e mais um monte de velhos decadentes".
Empolgação para falar sobre o novo disco, que chegou às lojas do mundo inteiro nesta semana? Pouca, bem pouca. Insisto, e Stevie Jackson toma coragem:
"Ficamos um pouco desapontados. Estávamos pensando que íamos fazer uma coisa e acabamos fazendo outra. Aparecemos na trilha sonora por seis minutos... Não ficamos bravos, só desapontados", disse o guitarrista.
Sarah vai em sua defesa: "Mas acho que isso é normal. A trilha dos "Excêntricos Tenenbaums" é assim também. No filme você tem a sensação de que há bastante música. Mas comprei o CD e vi que as músicas que aparecem no filme somam menos de dez minutos também...".
Jackson tenta consertar seu comentário de antes. "Trabalhar sobre o produto artístico de outra pessoa é uma experiência diferente", disse. "Mas o fato de você ter de trabalhar sobre um tema afunila muito seu horizontes."
Para Sarah, porém, está aí o lado positivo da coisa. "Isso te dá um foco, fica mais fácil de produzir."
No projeto de "Storytelling", o Belle & Sebastian gastou quase um ano de trabalho, nos intervalos de turnês como a que os trouxe ao Brasil.
Os quatro, aliás, se animam muita ao falar da passagem pelo país: "A gente nem esperava que nos conhecessem. Foi surreal ver uma sala lotada de gente cantando as nossas músicas", diz o tímido Geddes.
Enquanto não entra em estúdio para gravar o próximo álbum, que deve sair ainda este ano, o agora septeto tem se concentrado em duas coisas: ensaiar para shows da temporada de festivais da Europa -entre eles o esperado Glastonbury- e... procurar uma nova gravadora.
"Nosso relacionamento com a [gravadora" Jeepster não acabou. Eles ainda vão negociar nossos discos antigos, incluindo este que acabou de sair. Foi mais uma decisão deles, na verdade. Acho que estávamos mobilizando mais gente da gravadora do que o que eles gostariam", avalia Sarah.
Mas por que demitir uma banda de infra-estrutura enxutíssima que vende só entre Inglaterra e EUA 100 mil, 200 mil cópias por CD? "Acho que é difícil para uma gravadora, especialmente para uma do porte da Jeepster, administrar uma banda como a gente", arrisca Jackson. E Sarah completa: "E tem o fato de o dono ser um cara que trabalha na bolsa de ações... ele tem filhos, família, acho que quer menos problema e mais dinheiro".
Então o B&S ficou grande demais para a Jeepster? "Talvez. Toda vez que fazemos um disco gastamos absolutamente tudo com promoção, compra de equipamentos etc. Acho que funcionou para nós, mas não para eles", esclarece de uma vez a violinista.
E o fato de Isobell ter deixado a banda, será que o B&S ficou grande demais para o B&S? "Acho que você pode dizer que o B&S tem nos surpreendido", finaliza, misterioso, Cooke. (CLAUDIA ASSEF)

A jornalista Claudia Assef viajou à Escócia a convite da gravadora Trama


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