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CINEMA
Mesmo tendo vencido concurso da estatal, "O Jardim das Folhas Sagradas", de Pola Ribeiro, permanece só no papel
Com R$ 600 mil da Petrobras, filme baiano emperra
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA
Vencer o concurso de patrocínio da Petrobras à produção de
longas, na seleção de 2003, não foi
suficiente para tirar do papel o
projeto "O Jardim das Folhas Sagradas", do baiano Pola Ribeiro.
O filme concorreu com dezenas
de outros projetos na faixa de patrocínios de até R$ 600 mil. Ocorre que seu orçamento total é de R$
2,4 milhões e, para ter acesso à
verba da estatal, o diretor deve
comprovar que terá o restante do
dinheiro necessário para concluir
seu projeto. Isso, Ribeiro ainda
não conseguiu.
"Passei todo o último ano tentando outro patrocínio. Preciso
de pelo menos mais R$ 600 mil
para garantir as filmagens", diz o
cineasta, que integra o júri da
competição do 15º Cine Ceará. O
resultado do concurso foi divulgado em maio de 2004.
Segundo as regras do contrato
de patrocínio firmado com a Petrobras, os vencedores têm prazo
até 2006 para concluir as filmagens dos projetos premiados.
"O Jardim das Folhas Sagradas"
é ambientado em Salvador e pretende contar a história de um
bancário negro que, aos 40 anos,
ouve de uma mãe-de-santo a revelação de que deverá ser sacerdote de terreiro de candomblé.
Para ajudar a divulgar o projeto
e atrair outros patrocinadores, Ribeiro construiu um site (www.jardimdasfolhassagradas.com.br).
Sobre a proposta apresentada
ao governo por um grupo de cineastas e produtores do Rio e de
São Paulo de que a Petrobras passe a destinar mais dinheiro a um
número menor de filmes, Ribeiro
diz: "Acho que deveria ser uma
quantidade maior de dinheiro a
um número maior de filmes".
Consultada, a Petrobras afirmou, por meio de sua assessoria:
"A Petrobras estabelece três faixas
de apoio à produção cinematográfica (R$ 600 mil, R$ 800 mil e
R$ 1 milhão), condicionados a
currículo da produtora/diretor,
relevância e mérito qualitativo do
projeto. Seguramente, são as faixas mais altas de todo o mercado,
apostando assim na diversidade e
viabilidade das produções".
Ribeiro avalia que "quem está
longe dos pólos de produção acaba dependendo exclusivamente
do patrocínio das estatais, por
concurso". Com seu projeto, foram selecionados pela edição
2003 do programa Petrobras Cultural outros 27 projetos de longas.
O carioca Roberto Berliner, que
concorre no Cine Ceará com seu
longa de estréia, o documentário
"A Pessoa É para o que Nasce",
obteve prêmio de R$ 600 mil para
realizar seu próximo projeto, "Senhora das Imagens", a respeito do
trabalho da fundadora do Museu
do Inconsciente, Nise da Silveira.
Berliner já conseguiu reunir outros R$ 600 mil para filmar. "Se eu
tivesse só o dinheiro da Petrobras,
faria um filme diferente do que
vou fazer." Para o cineasta, o valor
de R$ 600 mil em patrocínio para
um longa, "por um lado, é muito
pouco dinheiro". Porém não endossa a tese de que os valores devam ser aumentados.
"Querer o ideal é muito difícil.
Acho que devemos dar um passo
de cada vez. Fiquei muito feliz de
ganhar", diz. Egresso da publicidade, Berliner acha que houve
"renovação" entre os premiados.
"Antes, os mesmos nomes ganhavam sempre. Agora está cheio de
caras novas."
Berliner se refere aos demais estreantes ou em início de carreira
premiados, como Jeferson De,
Eugenio Puppo, Evaldo Mocarzel,
José Padilha e Karim Aïnouz.
A distribuição dos prêmios
aponta 13 produções do Rio, 11 de
São Paulo, uma de Minas, uma do
Paraná, uma de Pernambuco e
uma da Bahia (a de Ribeiro).
A jornalista Silvana Arantes viajou a
convite do 15º Cine Ceará
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