São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2005

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CINEMA

Mesmo tendo vencido concurso da estatal, "O Jardim das Folhas Sagradas", de Pola Ribeiro, permanece só no papel

Com R$ 600 mil da Petrobras, filme baiano emperra

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA

Vencer o concurso de patrocínio da Petrobras à produção de longas, na seleção de 2003, não foi suficiente para tirar do papel o projeto "O Jardim das Folhas Sagradas", do baiano Pola Ribeiro.
O filme concorreu com dezenas de outros projetos na faixa de patrocínios de até R$ 600 mil. Ocorre que seu orçamento total é de R$ 2,4 milhões e, para ter acesso à verba da estatal, o diretor deve comprovar que terá o restante do dinheiro necessário para concluir seu projeto. Isso, Ribeiro ainda não conseguiu.
"Passei todo o último ano tentando outro patrocínio. Preciso de pelo menos mais R$ 600 mil para garantir as filmagens", diz o cineasta, que integra o júri da competição do 15º Cine Ceará. O resultado do concurso foi divulgado em maio de 2004.
Segundo as regras do contrato de patrocínio firmado com a Petrobras, os vencedores têm prazo até 2006 para concluir as filmagens dos projetos premiados.
"O Jardim das Folhas Sagradas" é ambientado em Salvador e pretende contar a história de um bancário negro que, aos 40 anos, ouve de uma mãe-de-santo a revelação de que deverá ser sacerdote de terreiro de candomblé.
Para ajudar a divulgar o projeto e atrair outros patrocinadores, Ribeiro construiu um site (www.jardimdasfolhassagradas.com.br).
Sobre a proposta apresentada ao governo por um grupo de cineastas e produtores do Rio e de São Paulo de que a Petrobras passe a destinar mais dinheiro a um número menor de filmes, Ribeiro diz: "Acho que deveria ser uma quantidade maior de dinheiro a um número maior de filmes".
Consultada, a Petrobras afirmou, por meio de sua assessoria: "A Petrobras estabelece três faixas de apoio à produção cinematográfica (R$ 600 mil, R$ 800 mil e R$ 1 milhão), condicionados a currículo da produtora/diretor, relevância e mérito qualitativo do projeto. Seguramente, são as faixas mais altas de todo o mercado, apostando assim na diversidade e viabilidade das produções".
Ribeiro avalia que "quem está longe dos pólos de produção acaba dependendo exclusivamente do patrocínio das estatais, por concurso". Com seu projeto, foram selecionados pela edição 2003 do programa Petrobras Cultural outros 27 projetos de longas.
O carioca Roberto Berliner, que concorre no Cine Ceará com seu longa de estréia, o documentário "A Pessoa É para o que Nasce", obteve prêmio de R$ 600 mil para realizar seu próximo projeto, "Senhora das Imagens", a respeito do trabalho da fundadora do Museu do Inconsciente, Nise da Silveira.
Berliner já conseguiu reunir outros R$ 600 mil para filmar. "Se eu tivesse só o dinheiro da Petrobras, faria um filme diferente do que vou fazer." Para o cineasta, o valor de R$ 600 mil em patrocínio para um longa, "por um lado, é muito pouco dinheiro". Porém não endossa a tese de que os valores devam ser aumentados.
"Querer o ideal é muito difícil. Acho que devemos dar um passo de cada vez. Fiquei muito feliz de ganhar", diz. Egresso da publicidade, Berliner acha que houve "renovação" entre os premiados. "Antes, os mesmos nomes ganhavam sempre. Agora está cheio de caras novas."
Berliner se refere aos demais estreantes ou em início de carreira premiados, como Jeferson De, Eugenio Puppo, Evaldo Mocarzel, José Padilha e Karim Aïnouz.
A distribuição dos prêmios aponta 13 produções do Rio, 11 de São Paulo, uma de Minas, uma do Paraná, uma de Pernambuco e uma da Bahia (a de Ribeiro).


A jornalista Silvana Arantes viajou a convite do 15º Cine Ceará

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