São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Rapper Nega Gizza traz seu hip hop ao lado das Quebradeiras de Coco do Babaçu em apresentação no CCBB do Rio

Show-protesto une canto urbano ao rural

ANA PAULA CONDE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Milhares de quilômetros separam as regiões de plantação de babaçu no Nordeste da favela Parque Esperança, no Rio de Janeiro, mas uma característica comum une a obra da rapper Nega Gizza, 27, à das Quebradeiras de Coco do Babaçu: o uso do canto como forma de protesto.
"O que a gente faz é muito diferente, mas a luta é parecida. Nós temos nossos direitos, assim como o pessoal da favela", compara a paraense Maria Clarinda Maximiano, 54.
"O ambiente rural e os centros urbanos têm realidades diferentes, só que as quebradeiras também sabem muito bem lutar pelo espaço delas", diz Gizza.
Elas apresentam-se hoje na estréia do projeto "Encantadeiras" no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro. O evento, com direção artística de Lu Araújo, reúne grupos tradicionais e nomes já consagrados. Até o fim do mês, sempre às terças-feiras, irão dividir o palco do Teatro 2 o Cortejo Brincante Abayomi e Virgínia Rodrigues, as Ceguinhas de Campina Grande e o grupo Mawaca, as Encomendadeiras de Correntina e Elisa Lucinda.

Repertório
Para o show de abertura, Gizza escolheu algumas canções do CD "Na Humildade" e duas músicas do novo trabalho, a ser lançado em abril pela Cufa (Central Única das Favelas). "Vou cantar "Testa de Ferro", que trata dos problemas que tivemos com algumas pessoas que quiseram falar em nome do movimento hip hop, e "Prisioneira'", conta. Gizza também interpreta com as quebradeiras uma versão original para a música "Quebra Coco, Nega".
"Vamos cantar acompanhadas por uma base eletrônica. É algo muito diferente para quem está acostumado com o coco, e elas adoraram a idéia. A gente junta os bondes no palco", brinca a rapper.
A diretora artística do projeto conta que a idéia de produzir a série surgiu há dois anos, a partir de uma reportagem vista na TV.
"O programa mostrava as quebradeiras do Lago do Junco, no Maranhão. Uma delas saía ainda de madrugada de casa e ia chamando as outras pelo caminho através do canto. Fiquei encantada", diz.
O grupo, com oito mulheres e dois percussionistas, foi formado especialmente para o "Encantadeiras", projeto que começou em maio no CCBB Brasília. As quebradeiras costumam cantar nas assembléias de luta pelo babaçu livre, mas nunca tinham participado de um show. "No primeiro momento, elas ficaram assustadas. Agora, estão acostumadas ao desafio e logo toparam", conta Lu.
"Ficamos preocupadas inicialmente, mas estou gostando muito da experiência. Não tinha esperança de viver uma coisa dessas na minha vida", diz a piauiense Francisca do Santos, 65.
As mulheres do grupo são líderes comunitárias dos quatro estados com plantação de babaçu (Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins). As músicas foram selecionas por elas. Há canções tradicionais no repertório do dia-a-dia das quebradeiras, mas as escolhidas para o show são de forte conteúdo político e trazem títulos como "Essa Luta Não é Fácil", "Vem Mulher Nosso Direito Vem" e o xote das quebradeiras, "Não Derrube Essa Palmeira".
"As músicas do show são as que a gente mais gosta, que têm mais a ver com a nossa realidade", diz a maranhense Maria Nice Machado Aires, 52.


Encantadeiras
Quando:
dias 7, 14, 21 e 28, às 12h30 e às 18h30
Onde: CCBB Rio (r. Primeiro de Março, 66, tel. 0/xx/21/3808-2020)
Quanto: R$ 6


Texto Anterior: Gramado vê "queda de qualidade" na ficção brasileira
Próximo Texto: Flip: Público sofre para conseguir ingressos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.