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MÚSICA
Rapper Nega Gizza traz seu hip hop ao lado das Quebradeiras de Coco do Babaçu em apresentação no CCBB do Rio
Show-protesto une canto urbano ao rural
ANA PAULA CONDE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Milhares de quilômetros separam as regiões de plantação de babaçu no Nordeste da favela Parque Esperança, no Rio de Janeiro,
mas uma característica comum
une a obra da rapper Nega Gizza,
27, à das Quebradeiras de Coco do
Babaçu: o uso do canto como forma de protesto.
"O que a gente faz é muito diferente, mas a luta é parecida. Nós
temos nossos direitos, assim como o pessoal da favela", compara
a paraense Maria Clarinda Maximiano, 54.
"O ambiente rural e os centros
urbanos têm realidades diferentes, só que as quebradeiras também sabem muito bem lutar pelo
espaço delas", diz Gizza.
Elas apresentam-se hoje na estréia do projeto "Encantadeiras"
no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro. O evento,
com direção artística de Lu Araújo, reúne grupos tradicionais e
nomes já consagrados. Até o fim
do mês, sempre às terças-feiras,
irão dividir o palco do Teatro 2 o
Cortejo Brincante Abayomi e Virgínia Rodrigues, as Ceguinhas de
Campina Grande e o grupo Mawaca, as Encomendadeiras de
Correntina e Elisa Lucinda.
Repertório
Para o show de abertura, Gizza
escolheu algumas canções do CD
"Na Humildade" e duas músicas
do novo trabalho, a ser lançado
em abril pela Cufa (Central Única
das Favelas). "Vou cantar "Testa
de Ferro", que trata dos problemas que tivemos com algumas
pessoas que quiseram falar em
nome do movimento hip hop, e
"Prisioneira'", conta. Gizza também interpreta com as quebradeiras uma versão original para a
música "Quebra Coco, Nega".
"Vamos cantar acompanhadas
por uma base eletrônica. É algo
muito diferente para quem está
acostumado com o coco, e elas
adoraram a idéia. A gente junta os
bondes no palco", brinca a rapper.
A diretora artística do projeto
conta que a idéia de produzir a série surgiu há dois anos, a partir de
uma reportagem vista na TV.
"O programa mostrava as quebradeiras do Lago do Junco, no
Maranhão. Uma delas saía ainda
de madrugada de casa e ia chamando as outras pelo caminho
através do canto. Fiquei encantada", diz.
O grupo, com oito mulheres e
dois percussionistas, foi formado
especialmente para o "Encantadeiras", projeto que começou em
maio no CCBB Brasília. As quebradeiras costumam cantar nas
assembléias de luta pelo babaçu
livre, mas nunca tinham participado de um show. "No primeiro
momento, elas ficaram assustadas. Agora, estão acostumadas ao
desafio e logo toparam", conta Lu.
"Ficamos preocupadas inicialmente, mas estou gostando muito
da experiência. Não tinha esperança de viver uma coisa dessas
na minha vida", diz a piauiense
Francisca do Santos, 65.
As mulheres do grupo são líderes comunitárias dos quatro estados com plantação de babaçu
(Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins). As músicas foram selecionas por elas. Há canções tradicionais no repertório do dia-a-dia
das quebradeiras, mas as escolhidas para o show são de forte conteúdo político e trazem títulos como "Essa Luta Não é Fácil", "Vem
Mulher Nosso Direito Vem" e o
xote das quebradeiras, "Não Derrube Essa Palmeira".
"As músicas do show são as que
a gente mais gosta, que têm mais a
ver com a nossa realidade", diz a
maranhense Maria Nice Machado Aires, 52.
Encantadeiras
Quando: dias 7, 14, 21 e 28, às 12h30 e
às 18h30
Onde: CCBB Rio (r. Primeiro de Março,
66, tel. 0/xx/21/3808-2020)
Quanto: R$ 6
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