MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

O mundo dos jovens milionários californianos, com seus carrões, suas mansões e seu excesso de indiferença em relação ao que está fora de seu círculo social já foi retratado em várias séries.
"Veronica Mars", que estréia hoje na TNT, investe nessa seara, mas muda o foco: primeiro, acrescenta um clima de histórias de detetives; segundo, e mais interessante, mostra o mundo dourado dos bem-nascidos visto sob a perspectiva de uma garota que já esteve lá, mas caiu em desgraça.
A história é narrada pela própria Veronica, uma loirinha de 17 anos que vive em Neptune, na Califórnia, uma cidade "sem classe média: ou seus pais são milionários ou trabalham para eles", como ela mesma define.
O primeiro episódio conta a mirabolante vida de Veronica e sua família até então: como seu pai, ex-xerife de Neptune, perdeu o cargo e as regalias sociais que vinham com ele, levando-o a abrir uma agência de investigação privada, na qual sua filha colabora.
O roteiro, de Rob Thomas (de "Dawson's Creek"), é bem amarrado e lança no primeiro episódio uma quantidade de mistérios suficiente para manter a trama interessante por pelo menos uma temporada. Há alguns clichês -como a gangue de motoqueiros bad boys (e com tendências fascistas) que aterroriza a escola de Veronica- e situações inverossímeis, mas que são esquecíveis em prol do humor sarcástico e triste que permeia a série.
Já desde a abertura, ao som da ótima "We Used to Be Friends", dos Dandy Warhols, a história de Veronica é contada com a amargura de uma adolescente que descobriu, ao ser afastada do circuito de festas e amizades milionárias, quão vazio era aquele mundo.
Assim, o público é levado a simpatizar com a ex-patricinha -do tipo que perdeu a virgindade quando estava bêbada, em uma festa-, agora uma adolescente mordaz, sagaz e triste.