|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula quer dar incentivo fiscal para TV produzir
Presidente assina hoje projeto pelo qual governo deixa de arrecadar R$ 40 mi/ano
Secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura define texto como "pacote de bondades"; aprovação depende do Congresso
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assina hoje, em Brasília, projeto de lei que dá às
emissoras de TV o benefício da
renúncia fiscal: o governo abre
mão de receber parte do Imposto de Renda devido pelas
emissoras, para que elas invistam o valor na co-produção de
conteúdo audiovisual.
Com exceção das novelas, o
dinheiro pode financiar todo tipo de produto audiovisual -telefilme, minissérie, documentário, longas-metragens-, caso
prevaleça no documento que o
presidente assina hoje a versão
do projeto que o governo desenvolvia na semana passada.
A estimativa do governo, com
base em cálculos da Receita Federal, é que o montante da renúncia seja de aproximadamente R$ 40 milhões/ano.
"É um pacote de bondades",
define o secretário do Audiovisual do MinC (Ministério da
Cultura), Orlando Senna. O
projeto prevê outras medidas
para injeção de dinheiro no cinema, além de estender para as
TVs um benefício que a atual
Lei do Audiovisual garante para as "majors", os grandes estúdios de Hollywood.
"Agora, o mecanismo passa a
vigorar para as televisões. É
uma questão de isonomia", diz
Senna. Para Manoel Rangel, diretor da Ancine (Agência Nacional do Cinema), que participou da elaboração do documento, é mais do que questão
de isonomia: "É o casamento
entre o cinema e a TV", afirma.
Consenso
Senna e Rangel afirmam que
a idéia de conceder benefício
fiscal às TVs para investimento
em co-produção audiovisual
brasileira "é antigo consenso"
no setor e estava prevista na
abortada medida de criação da
Ancinav (Agência Nacional do
Cinema e do Audiovisual).
De fato, constava do projeto
de criação da Ancinav a extensão do mecanismo desfrutado
pelas majors para as TVs. No
entanto, o projeto teve a desaprovação das emissoras, por
seus outros aspectos, sobretudo o que taxava em 4% a publicidade feita na TV (o dinheiro
iria para o financiamento do cinema) e o que dava à futura
agência reguladora a capacidade de regular e fiscalizar o mercado de TV, além do cinema.
Gosto de guarda-chuva
"É sem dúvida um grande
trabalho", diz Rodrigo Saturnino Braga, presidente da distribuidora Columbia, que utiliza o
artigo 3º da Lei do Audiovisual
para co-produzir filmes brasileiros, entre os quais os megasucessos "2 Filhos de Francisco" e "Carandiru".
O executivo lembra que a
medida havia sido tentada no
governo Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002) pelo Gedic (Grupo de Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica), do qual ele fazia parte. Na
administração FHC, porém, a
idéia esbarrou na intransigência da Receita Federal.
"Foi um dos maiores "nãos"
que levei na minha vida. Por isso imagino que a Receita esteja
fazendo isso agora com certo
gosto de guarda-chuva na boca", diz Saturnino Braga.
O ator e cineasta Paulo Betti
("Cafundó") diz "ter medo" de
que a medida afaste os investidores de filmes para cinema.
"Com essa concorrência [das
TVs], quem vai querer colocar
dinheiro no cinema? A TV tem
audiência, mais espectadores."
Desalento
O consultor em patrocínio
empresarial Yacoff Sarkovas vê
"com desalento" a outra peça
principal do projeto, que prorroga a validade do artigo 1º da
Lei do Audiovisual, pelo qual
empresas patrocinam filmes,
"com dedução do IR, e podem
lançar o investimento como
despesa, para nova dedução".
"Só posso atribuir a persistência desse mecanismo ao fato
de que a população desconhece
que o cinema brasileiro vem
sendo financiado por dinheiro
exclusivamente público, mas
decidido por critérios privados
e com o comissionamento de
quem decide", afirma Sarkovas.
Texto Anterior: Prêmio: Brasileiro recebe o "Oscar da moda" em NY Próximo Texto: O "Pacote de Bondades" para as TVs Índice
|