São Paulo, quinta-feira, 07 de junho de 2007

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Diretor estréia com sinuca e trânsito

"Não por Acaso" conta duas histórias ambientadas em SP, protagonizadas por Rodrigo Santoro e Leonardo Medeiros

Philippe Barcinski levou cinco anos para concluir roteiro do filme e recebeu conselhos do diretor Fernando Meirelles

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em seu primeiro longa, "Não por Acaso", que estréia hoje em 15 cidades do Brasil, o diretor Philippe Barcinski, 34, quis contar não uma, mas duas histórias, que ocorrem em paralelo e tratam do mesmo tema.
"É um filme sobre o desejo humano de controlar a vida e a descoberta de que ela é complexa demais para ser controlada", afirma o cineasta.
O aprendizado sobre a inocuidade da obsessão pelo controle inclui uma lição sobre como lidar com a morte -ou o contrário da vida-, num episódio que é o único ponto de contato na trajetória dos protagonistas Ênio (Leonardo Medeiros) e Pedro (Rodrigo Santoro).
Ênio é técnico da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Vive separado da mulher (Graziela Moretto) e afastado da filha adolescente (Rita Batata). Na rotina de supervisionar o trânsito de São Paulo, ele metamorfoseia a ambição de ordenar um sistema aparentemente arredio às rédeas da razão.
Na outra ponta, está Pedro, um marceneiro e ás da sinuca que derrota mentalmente os adversários, antecipando suas tacadas. Barcinski vê nesse jogo "uma clara metáfora da questão amorosa", em que o conhecimento teórico pouco ajuda a atravessar as provas práticas.
Santoro aceitou o papel do obsessivo porque "é um ator inquieto, que procura não se repetir", na opinião de Barcinski.
Para o diretor, Santoro e Medeiros são "atores do mesmo naipe", com a diferença que Santoro é hoje "um ícone nacional" e Medeiros, "um nome muito respeitado no teatro".
São Paulo, a terceira protagonista de "Não por Acaso", revelou-se uma personagem "mais difícil" de ser dirigida do que supôs o cineasta. Barcinski diz que buscou um meio termo entre "o registro inteiramente documental" que a cidade ganha em certos filmes e o tratamento publicitário que às vezes deixa "São Paulo parecendo Paris".
Exemplo da dificuldade são as cenas em que Ênio provoca um nó no trânsito. A "confusão" só podia ser filmada aos domingos, em trechos previamente acordados com a administração municipal. Mas, em nome da veracidade da cena, que ocorre num dia útil, os produtores tinham de negociar com comerciantes da região a abertura de seus negócios.
Metódico, Barcinski diz que "quis levar ao longa a experiência acumulada nos curtas" como "Palíndromo", com os quais colecionou prêmios.
De Fernando Meirelles ("Cidade de Deus"), que produz o filme, Barcinski ouviu o conselho: "Cuidado para uma história não eclipsar a outra. Você tem que acertar nas duas".
Havia também a alternativa de "errar em ambas", citada ironicamente por Meirelles. Para afastá-la, Barcinski gastou cinco anos no roteiro e contou com colaborações da mulher, Fabiana Werneck Barcinski, e do produtor Eugênio Puppo.
O desafio, diz ele, era desenvolver personagens espessos o bastante para emocionar o espectador, mesmo que num filme "sobre sinuca e trânsito".


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