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Diretor estréia com sinuca e trânsito
"Não por Acaso" conta duas histórias ambientadas em SP, protagonizadas por Rodrigo Santoro e Leonardo Medeiros
Philippe Barcinski levou cinco anos para concluir roteiro do filme e recebeu conselhos do diretor Fernando Meirelles
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Em seu primeiro longa, "Não
por Acaso", que estréia hoje em
15 cidades do Brasil, o diretor
Philippe Barcinski, 34, quis
contar não uma, mas duas histórias, que ocorrem em paralelo e tratam do mesmo tema.
"É um filme sobre o desejo
humano de controlar a vida e a
descoberta de que ela é complexa demais para ser controlada",
afirma o cineasta.
O aprendizado sobre a inocuidade da obsessão pelo controle inclui uma lição sobre como lidar com a morte -ou o
contrário da vida-, num episódio que é o único ponto de contato na trajetória dos protagonistas Ênio (Leonardo Medeiros) e Pedro (Rodrigo Santoro).
Ênio é técnico da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Vive separado da mulher
(Graziela Moretto) e afastado
da filha adolescente (Rita Batata). Na rotina de supervisionar
o trânsito de São Paulo, ele metamorfoseia a ambição de ordenar um sistema aparentemente
arredio às rédeas da razão.
Na outra ponta, está Pedro,
um marceneiro e ás da sinuca
que derrota mentalmente os
adversários, antecipando suas
tacadas. Barcinski vê nesse jogo
"uma clara metáfora da questão amorosa", em que o conhecimento teórico pouco ajuda a
atravessar as provas práticas.
Santoro aceitou o papel do
obsessivo porque "é um ator inquieto, que procura não se repetir", na opinião de Barcinski.
Para o diretor, Santoro e Medeiros são "atores do mesmo
naipe", com a diferença que
Santoro é hoje "um ícone nacional" e Medeiros, "um nome
muito respeitado no teatro".
São Paulo, a terceira protagonista de "Não por Acaso", revelou-se uma personagem "mais
difícil" de ser dirigida do que
supôs o cineasta. Barcinski diz
que buscou um meio termo entre "o registro inteiramente documental" que a cidade ganha
em certos filmes e o tratamento
publicitário que às vezes deixa
"São Paulo parecendo Paris".
Exemplo da dificuldade são
as cenas em que Ênio provoca
um nó no trânsito. A "confusão" só podia ser filmada aos
domingos, em trechos previamente acordados com a administração municipal. Mas, em
nome da veracidade da cena,
que ocorre num dia útil, os produtores tinham de negociar
com comerciantes da região a
abertura de seus negócios.
Metódico, Barcinski diz que
"quis levar ao longa a experiência acumulada nos curtas" como "Palíndromo", com os quais
colecionou prêmios.
De Fernando Meirelles ("Cidade de Deus"), que produz o
filme, Barcinski ouviu o conselho: "Cuidado para uma história não eclipsar a outra. Você
tem que acertar nas duas".
Havia também a alternativa
de "errar em ambas", citada
ironicamente por Meirelles.
Para afastá-la, Barcinski gastou
cinco anos no roteiro e contou
com colaborações da mulher,
Fabiana Werneck Barcinski, e
do produtor Eugênio Puppo.
O desafio, diz ele, era desenvolver personagens espessos o
bastante para emocionar o espectador, mesmo que num filme "sobre sinuca e trânsito".
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