São Paulo, sábado, 07 de junho de 2008

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LIVROS

Coletânea reúne 14 diários de guerra

"Vozes Roubadas" foi organizado por Zlata Filipovic, que nos anos 90 relatou sua experiência com o conflito nos Bálcãs

Volume traz oito diários inéditos, que vão da Primeira Guerra Mundial ao início da ocupação dos EUA no Iraque, em 2003


EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1993, em meio à guerra dos Bálcãs (1991-1995), o horror dos conflitos, visto sob a perspectiva de uma menina entre seus 11 e 13 anos de idade, virou best-seller na França. Treze anos depois, a autora de "Os Diários de Zlata", a bósnia Zlata Filipovic, saiu em busca de relatos de outras crianças e adolescentes vitimados pela guerra, ao longo do século 20 e início do 21. O resultado é o livro "Vozes Roubadas - Diários de Guerra" (Companhia das Letras), que Zlata organizou em parceria com a escritora Melanie Challenger.
O volume traz 14 diários, oito deles inéditos. O restante já havia sido publicado, mas todas as edições esgotaram. Caso do próprio livro de Zlata, também publicado pela Companhia no Brasil, em 1994, quando chegou à lista de mais vendidos da Folha, na categoria de não-ficção.
O livro tem parentesco quase filial com o famoso relato "O Diário de Anne Frank". Em entrevista à Folha, Zlata conta que em 2003 foi convidada pelo museu Anne Frank, da Holanda, para reunir trechos de alguns diários semelhantes, em folhetos que seriam distribuídos na estréia de um musical sobre Frank.
No entanto, a pesquisa, feita em arquivos de outros museus e ONGs que lidam com crianças e adolescentes vivendo em regiões conflagradas, acabou se estendendo por três anos e resultando em "Vozes Roubadas". O livro começa com um relato da Primeira Guerra e vai até o início da Guerra do Iraque, em 2003.
"Queríamos fazer uma compilação a mais global possível. Mas havia algumas coisas impossíveis de achar, como um diário africano, de uma criança-soldado, por exemplo", diz Zlata. "Essas crianças e adolescentes, muitas vezes, vivem drogadas, o tempo todo com metralhadoras nas mãos. Perderam traços de humanidade e raramente escrevem sobre suas experiências. Então optamos pela forma específica do diário. O que não significa que não achamos relatos de experiências em outros formatos, como poemas, desenhos etc."

Humanidade dos detalhes
Zlata tinha outros dois parâmetros em mente. Ela buscou diários que, como o seu, trouxessem detalhes simples, "mas bem humanos", como o fato de ela ter um gato ou um passarinho, ou de gostar de Michael Jackson e Madonna. Também era importante que os textos tivessem qualidade literária.
"Havia diários ricos em informação, mas não escritos de uma maneira que pudessem atrair o leitor. Eram relevantes em termos históricos, mas não tinham elementos que provocassem compaixão e empatia."
Ainda segundo Zlata, assim como "O Diário de Anne Frank", os relatos reunidos em "Vozes Roubadas" trazem o sentimento de que a juventude daquelas pessoas estava sendo subtraída.
"Ao mesmo tempo, eles são esperançosos, têm planos para o futuro, embora tudo pareça incerto. O que chama mais atenção é quão parecidas são uma garota afetada pela Primeira Guerra e outra, pelo conflito no Iraque. Em termos humanos, somos capazes de ser tão terríveis quanto maravilhosos uns com os outros", diz.


VOZES ROUBADAS - DIÁRIOS DE GUERRA
Organização: Zlata Filipovic e Melanie Challenger
Tradução: Augusto Pacheco Calil
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 37 (368 págs.)



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