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LIVROS
Coletânea reúne 14 diários de guerra
"Vozes Roubadas" foi organizado por Zlata Filipovic, que nos anos 90 relatou sua experiência com o conflito nos Bálcãs
Volume traz oito diários inéditos, que vão da Primeira Guerra Mundial ao início da ocupação dos EUA no Iraque, em 2003
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1993, em meio à guerra
dos Bálcãs (1991-1995), o horror dos conflitos, visto sob a
perspectiva de uma menina entre seus 11 e 13 anos de idade, virou best-seller na França. Treze anos depois, a autora de "Os
Diários de Zlata", a bósnia Zlata
Filipovic, saiu em busca de relatos de outras crianças e adolescentes vitimados pela guerra, ao longo do século 20 e início do 21. O resultado é o livro
"Vozes Roubadas - Diários de
Guerra" (Companhia das Letras), que Zlata organizou em
parceria com a escritora Melanie Challenger.
O volume traz 14 diários, oito
deles inéditos. O restante já havia sido publicado, mas todas as
edições esgotaram. Caso do
próprio livro de Zlata, também
publicado pela Companhia no
Brasil, em 1994, quando chegou
à lista de mais vendidos da Folha, na categoria de não-ficção.
O livro tem parentesco quase
filial com o famoso relato "O
Diário de Anne Frank". Em entrevista à Folha, Zlata conta
que em 2003 foi convidada pelo museu Anne Frank, da Holanda, para reunir trechos de
alguns diários semelhantes, em
folhetos que seriam distribuídos na estréia de um musical
sobre Frank.
No entanto, a pesquisa, feita
em arquivos de outros museus
e ONGs que lidam com crianças e adolescentes vivendo em
regiões conflagradas, acabou se
estendendo por três anos e resultando em "Vozes Roubadas". O livro começa com um
relato da Primeira Guerra e vai
até o início da Guerra do Iraque, em 2003.
"Queríamos fazer uma compilação a mais global possível.
Mas havia algumas coisas impossíveis de achar, como um
diário africano, de uma criança-soldado, por exemplo", diz
Zlata. "Essas crianças e adolescentes, muitas vezes, vivem
drogadas, o tempo todo com
metralhadoras nas mãos. Perderam traços de humanidade e
raramente escrevem sobre
suas experiências. Então optamos pela forma específica do
diário. O que não significa que
não achamos relatos de experiências em outros formatos,
como poemas, desenhos etc."
Humanidade dos detalhes
Zlata tinha outros dois parâmetros em mente. Ela buscou
diários que, como o seu, trouxessem detalhes simples, "mas
bem humanos", como o fato de
ela ter um gato ou um passarinho, ou de gostar de Michael
Jackson e Madonna. Também
era importante que os textos tivessem qualidade literária.
"Havia diários ricos em informação, mas não escritos de
uma maneira que pudessem
atrair o leitor. Eram relevantes
em termos históricos, mas não
tinham elementos que provocassem compaixão e empatia."
Ainda segundo Zlata, assim
como "O Diário de Anne
Frank", os relatos reunidos em
"Vozes Roubadas" trazem o
sentimento de que a juventude
daquelas pessoas estava sendo
subtraída.
"Ao mesmo tempo, eles são
esperançosos, têm planos para
o futuro, embora tudo pareça
incerto. O que chama mais
atenção é quão parecidas são
uma garota afetada pela Primeira Guerra e outra, pelo conflito no Iraque. Em termos humanos, somos capazes de ser
tão terríveis quanto maravilhosos uns com os outros", diz.
VOZES ROUBADAS - DIÁRIOS
DE GUERRA
Organização: Zlata Filipovic e Melanie
Challenger
Tradução: Augusto Pacheco Calil
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 37 (368 págs.)
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