São Paulo, sábado, 07 de junho de 2008

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TRECHO

Tempos atrás [11.1.2007], escrevi uma crônica sobre a pouca ousadia dos desejos de nossos jovens. Pois bem, como antídoto, prescrevo "Ratatouille" a todos, crianças e pais. Quando pensamos no futuro de nossos rebentos, temos, em geral, uma visão limitada, preocupada com a "possibilidade" de seus desejos. Na maioria dos casos, preferimos que eles tenham desejos "plausíveis". Parece lógico. Mas o problema é que medimos esse "plausível" a partir da lição de nossos próprios limites ou fracassos. Isso, sem mencionar nossa vontade de guardar os filhos por perto e, eventualmente, nossa inveja, que é inconfessável, mas existe: nem sempre é fácil aceitar que nossos filhos inventem para si uma vida melhor do que a nossa. O rato que ambiciona ser chef de cozinha é como o menino que pretende se tornar escritor, ator, violinista ou astronauta. Em geral, nos filhos que desejam uma vida que atropelaria a cerca de casa, a resistência dos pais encoraja uma hipertrofia do devaneio, que compensa o abandono dos sonhos "extravagantes".

Extraído de ""Ratatouille" e o Desejo", crônica de 12/7/2007 que integra o livro "Quinta-Coluna", de Contardo Calligaris


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