Sai no Brasil "Pequeno Vampiro e o Kung Fu", de Joann Sfar, HQ que une elementos infantis a temas pesados

Francês que dirigiu filme sobre o cantor Serge Gainsbourg está fazendo animação baseada na HQ "O Gato do Rabino"

DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

"Quis fazer como a [Marjane] Satrapi!", brinca o francês Joann Sfar, 38, enquanto fala à Folha por telefone sobre a animação baseada na HQ dele "O Gato do Rabino".
A iraniana Satrapi transformou a graphic novel "Persépolis" em filme em 2007. Foi sucesso de crítica.
Em fase de pós-produção e sem data de lançamento, o longa sobre um gato judeu falante marca nova fase na carreira do artista, que dirigiu também "Gainsbourg -Vie Héroïque" (Gainsbourg -vida heroica), lançado em janeiro na França.
"Quando faço quadrinhos, estou sozinho. Já no filme, estou cercado de pessoas e sou obrigado a ser legal. Mas essa não é minha natureza, a de ter de ser gentil sempre!"
Autor de quase cem livros publicados, Sfar coleciona prêmios no mercado europeu de HQs. No Brasil, lançou o gibi "Pequeno Vampiro e o Kung Fu".
A HQ dá continuidade às peripécias do sanguessuga fofo que dá nome à série -uma espécie de Gasparzinho de dentes afiados.
O enredo une elementos meigos a outros violentos e agrada a diversas faixas etárias. "Há um aspecto infantil em meu trabalho, gosto de desenhar animaizinhos e de colocar lições de moral."
Outra das predileções de Sfar é tratar questões delicadas com deboche e leveza.
Foi essa abordagem, aliás, que resultou no culto à HQ "O Gato do Rabino", em que um felino decide aprender os ensinamentos do judaísmo.
"Sou judeu e minha perspectiva é a de que ser judeu é mais engraçado do que trágico", diz. "As pessoas brigam por razões religiosas, mas tento "desdramatizá-las"."
As histórias de "Pequeno Vampiro" também são rodeadas de morte. "Você não pode resolver o problema da morte, mas você pode ajudar as crianças a verem que o mundo é bonito mesmo se faltar alguém nele", diz Sfar, que, jovem, perdeu a mãe.