São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2011

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Skylab 1999-2011

Com dez álbuns lançados de maneira independente, músico carioca encerra agora a série "Skylab" e mata seu personagem

Alexandre Rezende/Folhapress
O músico Rogerio Skylab no cemitério do Araçá, em São Paulo

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

É a morte anunciada.
Desde que o músico carioca Rogério Tolomei Teixeira, 50, lançou o primeiro CD da série "Skylab", em 1999, ele já planejava seu suicídio.
Mataria seu personagem assim que ele completasse o décimo volume.
Não foram necessários mais do que 12 anos para que concluísse o plano -e é supreendente que o artista tenha produzido tanto, e em tão pouco tempo, sempre à margem da indústria.
Conseguiu. E é também em esquema de total independência que chega às lojas agora "Skylab X", o ponto final do decálogo skylabiano.
O momento tem especial valor para o autor. Não apenas por seu caráter conclusivo, mas porque, agora, ele está diante do assunto que mais o fascina: morrer.
"A morte é meu tema preferido. Sempre falei dela, em todos os meus discos", diz. "Não prefiro a escatologia nem o terror nem a piada, como muitos pensam. Prefiro a morte. Eu sempre fui um cadáver dentro da MPB."
A morte é o tema central de "Skylab X" -não haveria como ser diferente em um álbum que é, também, um atestado de óbito. Mas todos os outros assuntos que compõem a lista de obsessões do artista estão presentes aqui: piada, terror e escatologia.

DESCONFORTO
"Dentro das minhas entranhas/ O câncer se desenvolvendo/ Ânsia, vômito, espasmo/ Os nervos à flor da pele/ Sinto um cheiro de ópio/ Que bate e me conecta", dizem os versos de "O Corvo".
Ele entoa a letra com naturalidade, como se nada fosse. A base musical é de primeira, fundindo jazz e rock. "Plasil, Plasil, Plasil", sobe o refrão.
Não é de estranhar que, mesmo com obra tão vasta, Rogério Skylab nunca tenha conseguido romper as fronteiras do underground.
Sua música corre o tempo todo de agradar ao ouvinte. Ao contrário, ela não permite jamais que ele relaxe, que encontre uma zona confortável.
Ela pode descrever os movimentos de um serial killer matando freiras. Ou a ação do namorado ciumento que, traído, esquarteja a amada com uma motosserra.
Skylab ainda constrói versos a partir de privadas entupidas, gazes e urina. Esperma, sangue e lágrimas. Vitiligo, derrame e câncer. Mutilações e espancamentos.
"Hey, moço, já matou uma velhinha hoje?", ele canta.


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