São Paulo, quarta-feira, 07 de julho de 2004

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Dadá maravilha

Divulgação
A obra "Fonte", de Marcel Duchamp


Exposição em Curitiba e em São Paulo reúne 274 trabalhos surrealistas e dadaístas

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Dois movimentos surgidos no início do século 20 revolucionaram a forma de ver a arte. Tanto o dadá quanto o surrealismo questionaram a exacerbação racionalista do Ocidente e denunciavam a especialização com que se criava uma vida moderna segura e sem complexidade. Os dois movimentos foram descritos pelo poeta francês André Breton, que lançou o "Primeiro Manifesto do Surrealismo", em 1924, "como duas ondas quebrando uma na outra".
Pois a força dessa marola chega ao Brasil em grande estilo, com "Sonhando de Olhos Abertos", que o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, inaugura hoje e que irá terminar a itinerância em SP, no Instituto Tomie Ohtake, com abertura no dia 21 de setembro.
São 274 obras, entre as 750 reunidas pelo colecionador e marchand Arturo Schwarz, 80, e doadas ao Museu de Israel, em 1998. Em 1987, 24 peças de Marcel Duchamp (1887-1968) participaram da 19ª Bienal de São Paulo, mas o que se pode ver agora é muito mais impressionante.
Sem dúvida, é Duchamp a estrela da exposição. Ele comparece com 50 obras, entre elas grande parte de seus "ready-mades". Utilizando peças banais, como uma roda de bicicleta, um porta-garrafas ou um urinol, Duchamp os transformou em objeto de arte, eliminando as fronteiras entre o estético e o utilitário e forçando a questão do que é ou não arte.
Pois todas essas obras, a roda de bicicleta, o porta-garrafas e o urinol, ou "Fonte", constam da exposição. É bom que se diga que não são os originais, perdidos ao longo da história, mas refeitos em séries de oito, por Schwarz, na década de 60, com acompanhamento do próprio Duchamp. Outra peça importante do artista é "LHOOQ", de 1919, mas também uma cópia, de 1964, com a reprodução da Monalisa, de Leonardo da Vinci, rasurada com bigodes. O nome, se lido em voz alta em francês, significa "ela tem o rabo quente", outra operação de deslocamento provocado pelo artista.
"Sonhando de Olhos Abertos" começa com um módulo dedicado aos dadaístas. "Eles foram os pioneiros de um trabalho muito comum hoje em dia, que é a performance", conta Tamar Manor, uma das curadoras.
A mostra segue com a sala dedicada ao criador do "ready-made" e continua com outra dedicada a Man Ray (1890-1976), fotógrafo amigo de Duchamp, que participou tanto do movimento dadá quanto do surrealismo. "Ele tem predominância com trabalhos eróticos e foi precursor em vários campos da arte, especialmente na fotografia", afirma Luis Cancel, o outro curador da exposição.
Finalmente, termina com o módulo dedicado aos surrealistas, no qual a falta mais sentida é a brasileira Maria Martins, escultora que tem participado de todas as retrospectivas sobre o tema. "Essa exposição tem como característica a visão de um colecionador, o que cria limites. Ele mesmo começou a comprar tardiamente, o que já eliminou artistas muito valorizados e, por outro lado, não gostava de Salvador Dalí, pois ele se promovia demais", diz Manor.
Mesmo assim, Dalí está na mostra, assim como Miró, entre outros, alguns até posteriores a 1966, data da morte de Breton, considerada o fim do movimento.

O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite do Museu Oscar Niemeyer


SONHANDO DE OLHOS ABERTOS. Mostra com 234 peças. Curadoria: Tamar Manor e Luis Cancel. Quando: abertura hoje (para convidados), de ter. a dom., das 10h às 20h; até 29/8. Onde: Museu Oscar Niemeyer (r. Marechal Hermes, 999, Curitiba, tel. 0/xx/41/350-4400). Quanto: R$ 4. Patrocinadores: Petrobras, Sanepar e Agência de Fomento do Paraná. Em São Paulo: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201, tel. 6844-1900), a partir do dia 21/9.



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