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MÚSICA
Projeto que começa amanhã no Sesc Vila Mariana tem exposição, shows e debate sobre o poeta da dor-de-cotovelo
Boemia de Lupicínio ganha roteiro em SP
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Sobre ele, o poeta Augusto de
Campos dizia que se caracterizava
"pelo uso explosivo do óbvio, da
vulgaridade e do lugar-comum",
e o comparava a Shakespeare.
Depois de ter suas composições
gravadas por todas as grandes vozes da era de ouro do rádio (Orlando Silva, Linda Batista, Francisco Alves etc.), ele passou pelo
ostracismo até ser resgatado na
década de 1970 por uma nova geração de brilhantes da MPB
-João Gilberto, Paulinho da Viola, Caetano Veloso etc.
"Ele" é o compositor gaúcho
Lupicínio Rodrigues (1914-1974),
homenageado do projeto "Roteiro de um Boêmio", que começa
amanhã no Sesc Vila Mariana, no
bairro homônimo em São Paulo.
Além de uma exposição com fotos e cartuns criados por Jaguar a
partir de clássicos de Lupicínio,
como "Brasa" e "Vingança", o
evento terá duas séries de shows
-com cantores como Cauby Peixoto, Arrigo Barnabé e Virgínia
Rodrigues- e um debate reunindo o crítico musical e colaborador
da Folha Carlos Calado, a professora Maria Izilda de Matos (PUC-SP) e a cantora Ivete Matos (veja
quadro ao lado).
Planejado para o ano passado,
quando aconteceu a dupla efeméride relacionada ao compositor
(80 anos de seu nascimento e 30
anos de sua morte), mas adiado
por questões diversas, o projeto
dá destaque à faceta mais conhecida da obra do gaúcho, aquela associada à boêmia e à expressão
"dor-de-cotovelo", criada por Lupicínio para simbolizar o efeito
das mágoas de amor.
O título escolhido, "Roteiro de
um Boêmio", faz referência à coluna de mesmo nome que Lupicínio assinava no jornal "Última
Hora" na década de 60, onde comentava a origem de suas letras,
verdadeiros retratos dos estereótipos de sua época -do malandro boêmio às damas da noite.
As histórias de traição, abandono, vingança e rancor, inspiradas
na tradição do tango e do bolero
argentinos, fizeram a fama que
eternizou o compositor e que o leva a ser lembrado nas situações
mais inusitadas, como no debate
político (veja texto ao lado). Sua
passionalidade está bem definida
em pérolas como "Ponta-de-Lança", onde diz: "Uma pessoa prestando atenção / Vê que as rimas
dos versos que eu faço / Trazem
pedaços do meu coração".
Para recriar os clássicos lupicinianos -"Nervos de Aço", "Felicidade", "Esses Moços" etc.-, o
evento reúne Cauby Peixoto, Carlos Fernando e Paula Lima, no
primeiro fim de semana de
shows, e Jamelão, Arrigo Barnabé
e Virgínia Rodrigues, no segundo.
A idéia, segundo o produtor Nelson Valença, é misturar intérpretes tradicionais da obra do gaúcho
(como Cauby e o puxador da
Mangueira) com artistas mais jovens e versados em outros estilos.
Já para explicar a obra de Lupicínio foi armada a exposição "O
Poeta da Dor-de-Cotovelo", organizada pelo jornalista e pesquisador Carlos Rennó. Ela contextualiza as letras do gaúcho com pequenos textos explicativos acompanhando as ilustrações do cartunista Jaguar para cada música.
O visitante aprende, por exemplo, que a cruel "Vingança" ("Eu
gostei tanto / Tanto quando me
contaram/ Que te encontraram
bebendo e chorando na mesa de
um bar") foi composta para uma
carioca que Lupicínio abandonou
ao descobrir que fora enganado
-e para a qual dedicou eficientemente "a maior praga que eu roguei na minha vida".
História
Para analisar o momento histórico em que Lupi criou suas obras
e a influência da época em sua
produção foi montada a mesa
"Melodia e Boêmia em Lupicínio", que acontece no dia 16/7.
Nela, Carlos Calado e Maria Izilda de Matos discutem o cotidiano
de homens e mulheres nas décadas de 1930, 40 e 50 através das letras do gaúcho -que serão interpretadas pela cantora Ivete Matos. À parte o recorte temporal,
não custa lembrar que, como prova o deputado Roberto Jefferson,
Lupicínio serve como espelho dos
sentimentos e dos comportamentos humanos em qualquer tempo.
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