JOSIMAR MELO
COLUNISTA DA FOLHA

A inauguração do restaurante Window, no topo do hotel Gran Meliá Mofarrej, faz lembrar como, nos últimos anos, o cenário dos restaurantes de hotel mudou radicalmente em São Paulo. Antes pomposos, cafonas e bastante burocráticos (em sua maioria -os do Maksoud e Ca'd'Oro, por exemplo, fugiam à regra), hoje eles tendem a ser muito mais modernos e menos formais, enquanto sua gastronomia foge à placidez dos pratos óbvios hoteleiros.
O Window vem com uma proposta ambiciosa, mas só foge parcialmente dos estigmas dos antigos restaurantes. A idéia inicial foi ocupar o último andar do hotel, o mesmo local onde funcionou o restaurante Vivaldi (quando ali ainda era o Sheraton), desativado há cinco anos. O chamariz inicial, refletido até no novo nome, é a vista da cidade que se descortina lá de cima -embora a cidade não seja especialmente vistosa. Em torno dele, concebeu-se um restaurante com ares de clube, um local onde, nos finais de semana, se pode dançar até as três da madrugada, ao som de DJ. E, para a cozinha, foi convocada uma chef francesa radicada no Brasil, Marie Anne Bauer.
Boa idéia, já que existe um público afeito a este tipo de programa, que pode dar vida ao hotel. Mas seria ainda melhor se o Window trocasse a ambientação pesada, convencional, por uma arquitetura mais moderna e animada. Ao menos na cozinha a tendência é mais modernizadora. A chef Bauer, de 50 anos, estudou hotelaria e gastronomia na França. No Brasil há dez anos, ela ultimamente trabalhava no hotel Blue Tree Park de Angra dos Reis (RJ). Foi onde conheceu o seu conterrâneo Daniel Mallevergne, diretor do Gran Meliá Mofarrej, e que a convidou para inaugurar o Window.
Ela trouxe pratos com influências internacionais. O atraente couvert tem surubim defumado, presunto ibérico espanhol, terrine de coelho, uma sopinha de alho-poró (com muito gosto de amido), tartar de salmão defumado (salgado), chorizo frito. Há entradas diferentes, como gelatina de bloody-mary com camarões e tártaro de salsão; e comuns, como o escalope de foie gras com maçãs verdes refogadas. Um belo prato de peixe é o filé de robalo com mexilhões à provençal -peixe tenro em molho penetrante, mas acompanhado por um risoto empapado de abobrinha. O acompanhamento também é o ponto fraco da perdiz assada e recheada com seus miúdos ao molho de vinho do Porto -as musselines de legumes da guarnição são tíbias e insossas. Nas sobremesas sobressai o tradicional (profiterolles com calda de chocolate e torta de maçã flambada ao Calvados).