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3ª FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATI
Escritor, crítico e professor da Berkeley, norte-americano faz palestra hoje na Flip sobre a arqueologia das narrativas religiosas
Robert Alter defende valor literário da Bíblia
EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A PARATI
Um dos principais críticos literários americanos, professor da
Universidade Berkeley, nos EUA,
Robert Alter se diz um arqueólogo literário. Na primeira palestra
da série "Mar de Histórias", que
realiza hoje, às 17h, Alter vai apresentar algumas de suas descobertas ao longo de quase 25 anos de
arqueologia da Bíblia: o estudo de
signos e padrões repetidos, que,
segundo ele, permitem comparar
as narrativas religiosas a grandes
clássicos da literatura.
A empreitada de Alter começou
em 1981, quando ele, então um especialista em literatura moderna
em inglês, francês e alemão, fez
uma mudança de curso escrevendo "A Arte da Narrativa Bíblica",
campo a que passou a se dedicar
com afinco nos anos posteriores.
Naquele livro, cuja tradução para
o português está sendo negociada
para 2006, o escritor lançou mão
de uma analogia: do mesmo modo que um leitor entende que "era
uma vez..." sinaliza o início de um
conto de fadas, e não de uma obra
de William Faulkner ou Saul Bellow, as narrativas bíblicas possuem códigos que serviam de
ponte entre o escritor e seu leitor.
"Há chaves de compreensão
não declaradas, entre escritor e
leitor, que facilitam o entendimento da narrativa. Como a repetição de histórias como a do encontro de um homem e uma mulher num poço de água, numa terra distante, caso de Isac e Rebeca
ou Jacó e Raquel. Nelas, a mágica
literária está presente nas variações em torno do papel da mulher
ou do homem no contexto histórico", diz o crítico.
Alter conta que tem sido freqüentemente questionado sobre
as qualidades literárias das narrativas bíblicas por conta da melindrosa relação entre religião e
ideologia nos dias de hoje. Uma
coisa não exclui a outra, diz ele, citando o rei Davi, sobre o qual se
debruçou na tradução de "A História de Davi", lançada nos Estados Unidos em 1999.
"Não discuto que os escritores
da Bíblia eram fortemente motivados pela ideologia religiosa.
Eles queriam, sim, passar uma
mensagem. Mas o fizeram de uma
maneira sutil e sofisticada. Davi
era o escolhido de Deus, mas foi
representado com todas as contradições de um ser humano. Do
ponto de vista literário é um personagem tão interessante quanto
Madame Bovary ou Anna Karenina. E a mensagem religiosa é
aprofundada: a história de Davi
não é apresentada como um conto de fadas, mas, sim, no contexto
de um mundo com pressões políticas", avalia Alter.
Alter, que esteve pela primeira
vez no Brasil em 1991, passa pelo
Rio, a passeio, depois da Flip. Lamenta não ir de novo a Salvador.
Em Parati, quer conhecer melhor
o escritor Michael Ondaatje, a
quem foi apresentado anteontem,
e rever o amigo David Grossman.
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