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5ª Flip
Mesa sobre censura inflama Paraty
Biografia de Roberto Carlos foi o assunto principal do encontro, que teve Paulo Cesar de Araújo, Ruy Castro e Fernando Morais
Os escritores ressaltaram
que a proibição agride a
liberdade de expressão e o
direito da sociedade de
ter acesso à informação
EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A PARATY
A mesa com o historiador
Paulo Cesar de Araújo, autor da
biografia não-autorizada "Roberto Carlos em Detalhes",
proibida em abril, inflamou o
público da Flip ontem. Araújo
fez a platéia rir e se emocionar,
quando chorou ao falar que havia dedicado o livro à filha
Amanda, de 5 anos. O escritor
acabou sendo aplaudido de pé,
por um público que, ao fim da
mesa, chamou de "Inquisição"
a proibição do título.
Os biógrafos Ruy Castro e
Fernando Morais, colegas de
mesa de Araújo e que também
enfrentaram problemas na
Justiça com os livros "Estrela
Solitária" e "Na Toca dos
Leões", colocaram Roberto na
berlinda. Para eles, a proibição
agride a liberdade de expressão
e o direito de acesso à informação. Castro sugeriu que se faça
um abaixo-assinado para o
Congresso. O texto solicitaria
uma emenda à Constituição,
segundo eles contraditória
quando fala de liberdade de expressão e direito de imagem.
"Algo precisa ser feito contra
as brechas na lei. Senão todos
os livros com caráter biográfico
correm o mesmo risco", disse
Castro. "A Flip pode ter um peso político grande, não só pelas
assinaturas dos escritores nacionais aqui reunidos, mas
também dos estrangeiros. Temos dois Nobel em Paraty",
disse, referindo-se aos sul-africanos J.M. Coetzee e Nadine
Gordimer.
Araújo anunciou, na semana
passada, que sua advogada Deborah Sztajnberg vai reivindicar "que o juiz restaure as vendas do livro", pois o título está
"sendo vendido pelos preços
mais loucos possíveis" e quem
está perdendo é o autor.
"Roberto Carlos em Detalhes" foi lançado em novembro
de 2006. No mês seguinte, durante sua tradicional entrevista
coletiva de fim de ano, Roberto
declarou que iria abrir um processo contra a circulação do livro, alegando invasão de privacidade. Em fevereiro de 2007,
um juiz da Vara Cível do Rio decidiu pela proibição da biografia. Em seguida, os advogados
do Rei abriram um processo
criminal contra Araújo e a editora Planeta.
No dia 27 de abril, após cinco
horas de audiência de conciliação, em São Paulo, foi feito um
acordo entre o autor, a editora e
os advogados do cantor, que determinava o fim da circulação
da biografia.
Cerca de 11 mil exemplares
do livro, que estavam estocados
na editora, foram recolhidos e
levados para um armazém em
Santo André (SP), e dois destinos foram cogitados: reciclagem do papel ou incineração.
Depois que Araújo anunciou
a contestação do acordo na Justiça, o advogado Norberto
Flach, que representa o Rei, declarou que, se a ação cível tiver
continuidade, o historiador deve "preparar o bolso".
Na Flip, Araújo disse que vai
lutar para colocar o livro de volta nas livrarias e bibliotecas.
"Eles ameaçam me aniquilar financeiramente. Posso ser destruído, preso, agonizar em praça pública, mas vou até o fim."
Castro lembrou que Roberto
Carlos sempre compôs canções
autobiográficas e que, por tabela, também escreve sobre a vida
de outras pessoas. "Se fosse seguir o raciocínio dele, de invasão de privacidade, só Robinson Crusoé poderia escrever
sobre a própria a vida e mesmo
assim se fizesse um acordo com
Sexta-Feira."
A mesa ganhou contornos
políticos quando Fernando
Morais lembrou do processo
aberto pelo deputado Ronaldo
Caiado, de Goiás, contra "Na
Toca dos Leões". A ação previa
a proibição do livro e multa para o autor por cada vez que ele
fizesse declarações a respeito.
Morais acabou ganhando.
O biógrafo criticou a Justiça.
"Isso adquire gravidade maior
quando sabemos que os alguns
dos juízes que estão nos julgando, estes senhores de capa preta que estão proibindo a sociedade de se informar, estão recebendo propina para o favorecimento de terceiros."
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