São Paulo, sábado, 07 de julho de 2007

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5ª Flip

Mesa sobre censura inflama Paraty

Biografia de Roberto Carlos foi o assunto principal do encontro, que teve Paulo Cesar de Araújo, Ruy Castro e Fernando Morais

Os escritores ressaltaram que a proibição agride a liberdade de expressão e o direito da sociedade de ter acesso à informação

EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A PARATY

A mesa com o historiador Paulo Cesar de Araújo, autor da biografia não-autorizada "Roberto Carlos em Detalhes", proibida em abril, inflamou o público da Flip ontem. Araújo fez a platéia rir e se emocionar, quando chorou ao falar que havia dedicado o livro à filha Amanda, de 5 anos. O escritor acabou sendo aplaudido de pé, por um público que, ao fim da mesa, chamou de "Inquisição" a proibição do título.
Os biógrafos Ruy Castro e Fernando Morais, colegas de mesa de Araújo e que também enfrentaram problemas na Justiça com os livros "Estrela Solitária" e "Na Toca dos Leões", colocaram Roberto na berlinda. Para eles, a proibição agride a liberdade de expressão e o direito de acesso à informação. Castro sugeriu que se faça um abaixo-assinado para o Congresso. O texto solicitaria uma emenda à Constituição, segundo eles contraditória quando fala de liberdade de expressão e direito de imagem.
"Algo precisa ser feito contra as brechas na lei. Senão todos os livros com caráter biográfico correm o mesmo risco", disse Castro. "A Flip pode ter um peso político grande, não só pelas assinaturas dos escritores nacionais aqui reunidos, mas também dos estrangeiros. Temos dois Nobel em Paraty", disse, referindo-se aos sul-africanos J.M. Coetzee e Nadine Gordimer.
Araújo anunciou, na semana passada, que sua advogada Deborah Sztajnberg vai reivindicar "que o juiz restaure as vendas do livro", pois o título está "sendo vendido pelos preços mais loucos possíveis" e quem está perdendo é o autor.
"Roberto Carlos em Detalhes" foi lançado em novembro de 2006. No mês seguinte, durante sua tradicional entrevista coletiva de fim de ano, Roberto declarou que iria abrir um processo contra a circulação do livro, alegando invasão de privacidade. Em fevereiro de 2007, um juiz da Vara Cível do Rio decidiu pela proibição da biografia. Em seguida, os advogados do Rei abriram um processo criminal contra Araújo e a editora Planeta.
No dia 27 de abril, após cinco horas de audiência de conciliação, em São Paulo, foi feito um acordo entre o autor, a editora e os advogados do cantor, que determinava o fim da circulação da biografia.
Cerca de 11 mil exemplares do livro, que estavam estocados na editora, foram recolhidos e levados para um armazém em Santo André (SP), e dois destinos foram cogitados: reciclagem do papel ou incineração.
Depois que Araújo anunciou a contestação do acordo na Justiça, o advogado Norberto Flach, que representa o Rei, declarou que, se a ação cível tiver continuidade, o historiador deve "preparar o bolso".
Na Flip, Araújo disse que vai lutar para colocar o livro de volta nas livrarias e bibliotecas. "Eles ameaçam me aniquilar financeiramente. Posso ser destruído, preso, agonizar em praça pública, mas vou até o fim."
Castro lembrou que Roberto Carlos sempre compôs canções autobiográficas e que, por tabela, também escreve sobre a vida de outras pessoas. "Se fosse seguir o raciocínio dele, de invasão de privacidade, só Robinson Crusoé poderia escrever sobre a própria a vida e mesmo assim se fizesse um acordo com Sexta-Feira."
A mesa ganhou contornos políticos quando Fernando Morais lembrou do processo aberto pelo deputado Ronaldo Caiado, de Goiás, contra "Na Toca dos Leões". A ação previa a proibição do livro e multa para o autor por cada vez que ele fizesse declarações a respeito. Morais acabou ganhando.
O biógrafo criticou a Justiça. "Isso adquire gravidade maior quando sabemos que os alguns dos juízes que estão nos julgando, estes senhores de capa preta que estão proibindo a sociedade de se informar, estão recebendo propina para o favorecimento de terceiros."


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